A Geração de Resíduos de Serviços de Saúde em Hospitais do Mundo (2000 – 2019)
Artigo de Isadora de Oliveira e Marcos Mol
A geração de Resíduos de Serviços de Saúde – RSS tem aumentado em todo o mundo devido ao crescimento populacional e ao envelhecimento da população, que tem elevado a demanda por atendimento médico.
Com isso, embora os RSS representem uma pequena porcentagem dos resíduos gerados nos ambientes urbanos, os questionamentos sobre qual a melhor forma de se fazer a gestão e gerenciamento desses resíduos, de modo a garantir a saúde da população e preservação do meio ambiente, surgem com mais força devido à parcela destes resíduos que apresenta características químicas, biológicas e/ou físicas que podem representar riscos significativos.
Também é possível perceber o crescente uso de descartáveis nos estabelecimentos de saúde. De modo geral, essa escolha faz sentido por garantir que os materiais que requerem esterilização estejam livres de contaminantes, diminuindo os riscos à saúde do paciente.
Há outras vantagens vinculadas a essa escolha, como por exemplo, não ser necessário um profissional ou setor para realizar as esterilizações dos equipamentos utilizados nos procedimentos. Com isso, evita-se o gasto com a mão de obra voltada para a atividade, agiliza processos e é possível recorrer, seja direto com o distribuidor/fabricante ou com o órgão responsável pela fiscalização, nos casos em que o produto descartável adquirido esteja com alguma inconformidade. Por outro lado, a opção pelos descartáveis impacta diretamente na geração de RSS, aumentando o volume de resíduos descartados.
Mesmo o tema sendo importante e global, os estudos sobre a geração dos RSS em estabelecimentos de saúde só estão ganhando força nos últimos anos, como mostrado no artigo Healthcare waste generation in hospitals per continent: a systematic review, disponível pelo link: https://doi.org/10.1007/s11356-022-19995-1 (Mol et al., 2022), que avaliou a geração de RSS em hospitais cujas informações estavam reportadas em artigos científicos.
Estudos como este, sobre o gerenciamento dos RSS, têm indicado que países com menor desenvolvimento e maior vulnerabilidade tendem a ter menos acesso ao conhecimento sobre a importância de um bom gerenciamento de RSS, que é essencial para garantir a segurança da população e do meio ambiente.
De acordo com a OMS (2024), 85% do total de resíduos gerados por atividades de saúde se enquadram como resíduos gerais e não perigosos, enquanto 15% são considerados perigosos, podendo ser infecciosos, químicos ou radioativos – desde que a segregação na fonte seja feita de forma correta e extremamente rigorosa.
Essa informação disponibilizada pela OMS (2024) foi utilizada como referência para se comparar com a porcentagem dos resíduos perigosos em relação ao total dos resíduos de saúde gerados nos hospitais do mundo, conforme estudo de Mol et al. (2022), indicando um valor de 34%, ou seja, valor significativamente maior do que os dados relatados pela OMS, embora haja um intervalo de duas décadas entre os estudos, como ressaltado no artigo.
Apenas a América do Norte, com taxa de 11%, teve resultados parecidos com os dados relatados pela OMS. No entanto, nas demais regiões avaliadas, a porcentagem foi consideravelmente mais alta, sendo: Ásia (37%), África (37%), América Latina (25%), Europa (28%) e Oceania (33%).
Cabe destacar que os autores, durante a pesquisa, se depararam com limitações, como o fato do assunto ser pouco discutido, os dados apresentarem variações quantitativas ao longo do tempo, por se tratarem de diferentes estudos que consideram instituições diferentes, além das diferenças culturais e legislativas sobre práticas em relação aos RSS, interferindo nos resultados (Mol et al., 2022).
O estudo de Mol et al. (2022) também mostra a importância de se ter controle sobre os dados quantitativos e qualitativos da geração dos RSS, para que seja possível estabelecer medidas de gestão e gerenciamento eficientes.
Além disso, por mais que a classificação dos RSS siga, em sua maioria, um padrão de perigosos e não perigosos em âmbito internacional, o estudo mostra que ter uma classificação padrão e global possibilitará que nos próximos estudos seja possível avaliar a real situação em relação aos RSS em âmbito mundial e entender como ocorre o gerenciamento e a gestão dentro e fora dos estabelecimentos de saúde.
Finalmente, apesar da importância e relevância do tema, ainda há um número pequeno de estudos que abordam a geração e o gerenciamento dos RSS, tanto em escalas menores quanto em escala global.
Essa limitação dificulta o alcance de resultados precisos e na formulação de estratégias eficazes. Por isso, ressalta-se a importância do investimento em pesquisas mais amplas e padronizadas para aprimorar as práticas de gestão e garantir a saúde da população e do meio ambiente.
Referências:
MOL, Marcos Paulo Gomes; ZOLNIKOV, Tara Rava; NEVES, Arthur Couto; SANTOS, Giulia Roriz dos; TOLENTINO, Júlia Luiza Lopes; BARROS, Raphael Tobias de Vasconcelos; HELLER, Leo. Healthcare waste generation in hospitals per continent: a systematic review. Environmental Science and Pollution Research, v. 29, p. 42466–42475, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s11356-022-19995-1. Acesso em: 14 maio 2025.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Health-care waste. 2024. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/health-care-waste. Acesso em: 13 maio 2025.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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