O lado sombrio da economia verde – Podcast EcoDebate
Esta é uma síntese detalhada do episódio do podcast EcoDebate, que examina o artigo de Henrique Cortez, “O lado sombrio da economia verde: quando sustentabilidade gera desigualdade“.
O artigo levanta críticas importantes sobre a implementação global da “economia verde” e seus impactos sociais, particularmente nos países em desenvolvimento.
Tema Central: O artigo argumenta que, embora apresentada como uma solução para conciliar desenvolvimento econômico e preservação ambiental, a economia verde, em sua prática atual, frequentemente reproduz antigas desigualdades e pode levar à desapropriação e marginalização de comunidades locais, especialmente nos países em desenvolvimento.
Ideias e Fatos Mais Importantes:
- A Economia Verde em Questão: O artigo questiona a quem a economia verde realmente beneficia, sugerindo que ela pode estar mais alinhada com interesses econômicos e de mercado do que com propósitos sociais e de sustentabilidade genuína. O autor pergunta: “A promessa verde está cumprindo seu propósito social ou apenas reproduzindo velhas desigualdades com uma nova roupagem?”
- Apropriação Verde (“Green Grab”): Um fenômeno alarmante destacado é a “apropriação verde”, que envolve a rápida tomada de terras e recursos em nome de iniciativas de sustentabilidade como biocombustíveis, compensação de carbono, conservação e ecoturismo. Isso resulta no deslocamento forçado de populações locais de seus territórios tradicionais, aumentando a pobreza e aprofundando desigualdades sociais.
- Citação: “A rápida tomada de terras e recursos em nome dos biocombustíveis, dos esquemas de compensação de carbono, das iniciativas de conservação e do ecoturismo está, paradoxalmente, forçando populações locais a abandonarem seus territórios tradicionais, aumentando a pobreza e aprofundando desigualdades sociais.”
- Exemplos no Brasil: No Brasil, com sua rica biodiversidade, comunidades tradicionais, povos indígenas e pequenos agricultores são particularmente vulneráveis a projetos que, sob o pretexto da sustentabilidade, promovem desapropriações. A expansão de monoculturas para biocombustíveis no Cerrado e na Amazônia é citada como um exemplo claro dessa contradição.
- Neocolonialismo Verde: O autor compara a situação atual a uma nova forma de colonialismo, “vestido de verde”. Ecossistemas em países da África, Ásia e América Latina estão sendo explorados (“despojados de ativos”) para gerar lucro, causando desapropriação entre usuários de terras e recursos já vulneráveis.
- Exemplos Internacionais: O artigo cita o caso da Guatemala, onde agências de conservação, empresas de ecoturismo e forças militares estão “protegendo” a Reserva da Biosfera Maia, excluindo violentamente a população local. Também menciona a África Oriental e Austral, onde empresas estão avaliando solos para “biochar”, despojando agricultores e pastores de terras essenciais.
- O Mercado Ditando Regras: Embora mecanismos de mercado possam contribuir para o desenvolvimento sustentável, o artigo ressalta que eles não podem ser a única solução. A pressa em reparar a natureza através de esquemas de comércio e compensação não deve negligenciar as estruturas político-econômicas subjacentes que causaram os danos.
- Citação: “Na pressa de reparar uma natureza danificada através de esquemas de comércio e compensação, as estruturas político-econômicas que causaram os danos em primeiro lugar não devem ser negligenciadas.”
- Crítica à Lógica de Acumulação: O problema não está apenas no modelo de produção, mas na lógica de acumulação que o sustenta.
- O Brasil na Encruzilhada: O Brasil, como potência ambiental global, é palco de contradições da economia verde. Os esquemas de REDD e REDD+, apesar de apresentados como soluções para preservar florestas, têm mostrado evidências de desapropriação de usuários florestais locais de acesso a recursos vitais.
- Necessidade de uma Economia Verde Genuína: O artigo clama por uma economia verde que seja verdadeiramente inclusiva, equitativa e regenerativa. Isso implica em:
- Valorizar o Conhecimento Tradicional: Formas testadas e comprovadas de gestão local de ecossistemas, baseadas em conhecimentos tradicionais, devem ser valorizadas e incorporadas às estratégias de desenvolvimento.
- Recapturar a Natureza do Mercado: A natureza não deve ser reduzida a um objeto exclusivo do mercado; relações humano-ecológicas mais interconectadas devem ser nutridas e legitimadas.
- Justiça Social e Ambiental: A verdadeira sustentabilidade exige que as dimensões social e ambiental recebam a mesma atenção que a dimensão econômica.
- Evitar a Terceirização da Responsabilidade: A responsabilidade pela luta contra práticas insustentáveis em países ricos não deve ser transferida através da financeirização de ecossistemas em outras partes do mundo.
- Inclusão e Consulta Local: É fundamental incluir um envolvimento local significativo e consulta às comunidades afetadas, com base na transparência, responsabilidade e consentimento livre, prévio e informado.
- Risco da Transição Verde Desigual: O autor adverte que, sem uma abordagem genuinamente inclusiva, a transição verde pode, em vez de resolver problemas ambientais, transferi-los para os mais vulneráveis, perpetuando desigualdades sob a fachada da sustentabilidade.
O artigo conclui com um chamado para exigir uma economia verde que seja verdadeiramente inclusiva, equitativa e regenerativa para o planeta e seus habitantes, alertando para os perigos de uma transição verde que ignora a justiça social.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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