Projeto recolhe 22 toneladas de resíduos e restaura manguezal em Magé
Projeto une conservação ambiental e geração de renda com 140 bolsas para pescadores e catadores de caranguejo
Por Simone Goulart e Celia Abend
Iniciativa que alia conservação ambiental, educação e inclusão social, envolvendo diretamente pescadores e catadores de caranguejo na proteção dos manguezais, a Operação LimpaOca apresenta resultados expressivos em pouco mais de dois anos de atuação na região de Suruí, em Magé (Baixada Fluminense).
Cinco hectares de manguezal foram restaurados, com a remoção de mais de 22 toneladas de resíduos sólidos, que vão do lixo comum a eletrodomésticos, móveis e pneus.
A metodologia da Operação LimpaOca teve origem no Projeto UÇÁ, realizado em parceria com a Petrobras pelo Programa Petrobras Socioambiental, e foi incorporada pelo Projeto Guapiaçu a partir de 2022, na quarta fase de sua execução. A ação de limpeza e reflorestamento foi realizada por meio da Associação de Caranguejeiros e Amigos dos Mangues de Magé (ACAMM).
Durante o período do defeso — época de reprodução do caranguejo-uçá, em que a captura da espécie é proibida, assim como sua comercialização e armazenamento —, esses trabalhadores recebem bolsa-auxílio para atuar na coleta de resíduos sólidos em áreas de manguezal. A atividade ocorre duas vezes por semana e representa uma importante alternativa de renda, ao mesmo tempo em que contribui para a recuperação do ecossistema.
– Essa iniciativa nasceu da ideia de um catador de caranguejo, Sr. Adílio Campos, em 2000, que me disse algo marcante: ‘Eu criei 11 filhos catando caranguejo, mas hoje não consigo mais viver disso. Onde tem sofá ou pneu no mangue, não tem toca de caranguejo”. Ali eu entendi que o resíduo sólido é uma barreira física para o funcionamento do ecossistema. Desde então, a limpeza dos manguezais se tornou uma ação contínua, envolvendo comunidades e parceiros como o Projeto Guapiaçu e a ONG Guardiões do Mar. Já retiramos de tudo do mangue — sofá, cama box, até banheiro químico — e, a cada remoção, devolvemos um pedaço da natureza. Devolvemos vida – explica Pedro Belga, consultor do Projeto Guapiaçu.
A contratação de catadores e pescadores para atuar na limpeza dos manguezais durante o período do defeso representa uma importante estratégia de inclusão social e geração de renda. Muitos desses trabalhadores não têm acesso ao seguro-defeso ou enfrentam longos períodos de espera para receber o benefício. Como a captura do caranguejo-uçá é proibida nesse período, exercer a atividade pode resultar em penalidades legais. Ao serem integrados à Operação LimpaOca, esses trabalhadores recebem uma remuneração por um serviço ambiental relevante, garantindo o sustento de suas famílias de forma legal e segura.
– Os resultados obtidos em Suruí, nesta terceira etapa da Operação LimpaOca, nos mostram que envolver as comunidades tradicionais dos manguezais com o trabalho de restauração destes ecossistemas é a melhor estratégia a ser adotada. Conhecedores destes ambientes, eles conseguem se manter em atividade, obtendo renda, mesmo no período em que não têm autorização para pescar ou catar caranguejos – observa Gabriela Viana, presidente do Ação Socioambiental e coordenadora executiva do Projeto Guapiaçu.
Este cuidado com a Baía de Guanabara faz parte da rotina dos projetos que integram a REDAGUA. Criada em 2019, a Rede de Conservação Águas da Guanabara tem como missão contribuir para a conservação da biodiversidade e para o fortalecimento das relações socioambientais na Região Hidrográfica da Baía de Guanabara e em ecossistemas conectados. A Operação LimpaOca é uma ação importante para a rede, sendo parte do seu plano estratégico de atuação nos territórios.
A REDAGUA é uma rede formada por projetos socioambientais — Projeto Coral Vivo, Projeto Guapiaçu, Meros do Brasil e Projeto UÇÁ — em parceria com a Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, e a própria empresa. Juntos, esses projetos atuam na Baía de Guanabara e em seu entorno, promovendo ações de educação ambiental, restauração de ecossistemas e o cuidado com a segunda maior baía do Brasil.
Impacto educativo e ambiental
Além do impacto social e econômico, a ação tem forte caráter educativo e ambiental. A limpeza do manguezal permite que pescadores e catadores compreendam, de forma prática, os efeitos dos resíduos sólidos sobre o ecossistema. Esses materiais, trazidos pelos rios e retidos na lama típica dos manguezais, atuam como barreiras físicas que comprometem a biodiversidade local. A remoção dos resíduos favorece a regeneração ambiental, com o retorno das tocas de caranguejo e a fixação dos propágulos — estruturas reprodutivas responsáveis pelo crescimento de novas árvores de mangue.
Ao todo, foram disponibilizadas 140 bolsas a pescadores e catadores participaram da iniciativa no município. Além da coleta de lixo, o projeto promove ações de educação ambiental junto às comunidades. Como forma de encerramento das atividades em 2025, os filhos dos beneficiários e outras crianças da comunidade de Magé participaram de uma atividade de educação ambiental do Projeto Guapiaçu no Parque Estadual dos Três Picos, onde puderam conhecer o jequitibá, símbolo da Mata Atlântica.
Projeto Guapiaçu
O Projeto Guapiaçu, realizado pelo Ação Socioambiental, com a parceria da Petrobras, tem como objetivo contribuir para a melhoria socioambiental da região da Baía de Guanabara e entorno, por meio de ações que integrem ambientes e comunidades locais, potencializando ações de restauração florestal, educação ambiental, monitoramento de biodiversidade e apoio à reintrodução de fauna nativa.
A área de abrangência do projeto insere os municípios de Cachoeiras de Macacu, Guapimirim, Itaboraí, Magé e Maricá, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que passa por grandes mudanças nas últimas décadas. Esta região hidrográfica é responsável pelo abastecimento de água de quase três milhões de pessoas na porção leste da Baía de Guanabara.
Projeto UÇÁ
Iniciado em julho de 2012, o Projeto UÇÁ está em sua quinta fase atuando em quatro eixos temáticos. Seu principal objetivo é a conservação dos manguezais, aliada à promoção de educação ambiental crítica, à geração de conhecimento científico e à democratização do saber sobre os ambientes costeiros marinhos.
Uma realização é a Operação LimpaOca: por meio do pagamento por serviços ambientais (PSA), mobilizamos mão de obra de povos tradicionais para limpeza no ecossistema de manguezal, resultando na retirada de mais de 60 toneladas de uma área de 47 hectares entre 2014 e 2024. O alcance territorial do projeto inclui 12 municípios, com execução programada desde dezembro de 2024 a março de 2029.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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