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Produção de alimentos em ambientes controlados cresce como alternativa à agricultura tradicional

 

 

Agricultura Vertical. Foto: Sebrae
Agricultura Vertical. Foto: Sebrae

Agricultura em Ambientes Controlados promete alimentos mais sustentáveis e resilientes às mudanças climáticas

Agricultura em Ambientes Controlados (CEA) promete revolucionar a produção de alimentos com menor uso de água, menos impacto ambiental e mais resiliência às mudanças climáticas. Entenda como essa tecnologia pode transformar o futuro da segurança alimentar

Com a intensificação das crises climáticas, escassez de água, perda de biodiversidade e expansão urbana, cresce a necessidade de repensar os sistemas de produção de alimentos no mundo.

Nesse cenário, ganha força a Agricultura em Ambientes Controlados (CEA, na sigla em inglês), uma abordagem tecnológica que pode transformar radicalmente a forma como cultivamos vegetais, especialmente em regiões urbanas e vulneráveis às variações climáticas.

Um estudo recente publicado na revista científica PNAS Nexus (“The future potential of controlled environment agriculture”) avalia o papel que a CEA pode desempenhar para garantir segurança alimentar, reduzir o impacto ambiental da produção agrícola e adaptar o setor às novas realidades do século XXI.

O que é Agricultura em Ambientes Controlados?

A Agricultura em Ambientes Controlados consiste na produção de alimentos em instalações com condições físicas manipuladas de forma precisa — como temperatura, umidade, luz, dióxido de carbono, irrigação e nutrientes.

Entre os sistemas mais conhecidos estão as estufas de alta tecnologia, as fazendas verticais e os cultivos hidropônicos e aeropônicos.

Essas estruturas independem do clima externo e permitem produzir alimentos frescos o ano todo, com muito mais eficiência e menor uso de recursos naturais como terra e água. Além disso, por serem ambientes fechados, são menos suscetíveis a pragas e doenças, o que reduz o uso de pesticidas.

Sustentabilidade e eficiência hídrica

Segundo o estudo, um dos maiores benefícios da CEA está na economia de água. Enquanto a agricultura convencional consome até 70% da água doce disponível no planeta, a CEA — especialmente os sistemas hidropônicos — pode usar até 90% menos água, graças à recirculação e ao controle preciso da irrigação.

Outro ponto relevante é o uso do solo. Em vez de grandes extensões de terra, fazendas verticais podem ser instaladas em espaços urbanos subutilizados, como galpões, estacionamentos ou prédios desativados.

Com múltiplas camadas de cultivo empilhadas verticalmente, é possível produzir mais em menos espaço, reduzindo a necessidade de desmatamento e ajudando a proteger ecossistemas naturais.

Menor pegada de carbono

Produzir alimentos perto dos centros urbanos também reduz as emissões de gases de efeito estufa relacionadas ao transporte (conhecidas como “food miles”). Por exemplo, alface produzida em uma fazenda vertical localizada dentro da cidade pode chegar ao consumidor em poucas horas, com muito menos combustível consumido.

Embora a CEA ainda enfrente críticas pelo uso intensivo de energia — principalmente elétrica, usada na iluminação LED e no controle térmico —, o estudo aponta que, com a adoção de fontes renováveis como energia solar, os sistemas podem alcançar neutralidade ou até balanço positivo de carbono.

Limitações e desafios

Apesar de promissora, a Agricultura em Ambientes Controlados não substitui a agricultura tradicional em larga escala. Culturas básicas como trigo, arroz e milho ainda não são economicamente viáveis em sistemas fechados devido à escala e ao alto custo energético.

Outro desafio é o investimento inicial. Instalar uma fazenda vertical ou uma estufa automatizada exige altos custos de infraestrutura e tecnologia. Além disso, a mão de obra especializada, a manutenção e o fornecimento de energia constante são fatores que elevam o preço dos alimentos produzidos por CEA.

Por isso, os especialistas defendem que a CEA deve ser vista como complementar, especialmente para hortaliças, frutas e verduras que são mais perecíveis e com maior valor agregado — como alface, morangos, ervas e tomates.

Potencial para o Brasil

No Brasil, apesar da abundância de recursos naturais, a CEA pode ter um papel importante em regiões onde o solo é degradado, o acesso à água é limitado ou a urbanização avança sobre áreas agrícolas. Grandes centros urbanos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, já têm iniciativas-piloto de fazendas urbanas e hortas verticais.

Além disso, o país pode se beneficiar da alta incidência solar para alimentar esses sistemas com energia renovável. Programas públicos de incentivo à inovação tecnológica na agricultura, como crédito subsidiado e apoio à pesquisa, são essenciais para popularizar a CEA.

Caminhos para o futuro

A crise climática e a necessidade de produzir mais alimentos para uma população em crescimento exigem soluções disruptivas e sustentáveis.

A Agricultura em Ambientes Controlados não é uma panaceia, mas representa uma ferramenta poderosa para diversificar a produção agrícola, reduzir impactos ambientais e garantir alimentos frescos e nutritivos mesmo em cenários de escassez e instabilidade.

À medida que os custos da tecnologia diminuírem e as fontes de energia limpa se tornarem mais acessíveis, a CEA poderá expandir seu alcance, tornando-se um pilar importante da agricultura do futuro — uma agricultura mais resiliente, eficiente e urbana.

 

Referência:

Vanesa Calvo-Baltanás et al, The future potential of controlled environment agriculture, PNAS Nexus (2025). DOI: 10.1093/pnasnexus/pgaf078

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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