Estudo revela como chuvas intensificam ondas de calor úmido
Pesquisa mostra que padrões de chuva influenciam diretamente o surgimento de ondas de calor úmido extremo em regiões tropicais e subtropicais, destacando riscos à saúde e a necessidade de sistemas de alerta precoce.
Cientistas acreditam ter encontrado uma nova forma de aprimorar os sistemas de alerta precoce para comunidades vulneráveis ameaçadas pelas ondas de calor úmido — fenômeno cada vez mais frequente devido às mudanças climáticas e que pode ser extremamente prejudicial, e até fatal, à saúde humana.
Pesquisadores da Universidade de Leeds e do Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido realizaram a primeira análise global sobre como os padrões recentes de chuvas interagem com a umidade do solo e afetam o risco de calor úmido extremo em regiões tropicais e subtropicais.
O estudo, publicado na revista Nature Communications, oferece insights inéditos que podem levar ao desenvolvimento de sistemas de alerta antecipado mais eficientes para populações em risco nessas áreas.
Com o avanço das mudanças climáticas, ondas de calor úmido representam um risco crescente para a saúde humana e animal, sobretudo em regiões tropicais. Apesar de haver vasta literatura sobre ondas de calor seco, os mecanismos meteorológicos por trás do calor úmido extremo ainda são pouco compreendidos.
O calor úmido está relacionado ao estresse térmico, que ocorre quando as condições ambientais superam a capacidade do corpo de se resfriar. Em casos graves, a temperatura corporal pode subir mais de 3°C, provocando confusão mental, convulsões e até perda de consciência. Sem tratamento imediato, o quadro pode evoluir para danos musculares, falência de órgãos e morte.
Essas ondas de calor são especialmente perigosas porque, em temperaturas de bulbo úmido — uma medida que considera a evaporação como forma de resfriamento — de 35°C, o corpo humano perde a capacidade de dissipar calor de forma eficiente através do suor. Algumas regiões costeiras subtropicais já registraram essa marca.
“O avanço das mudanças climáticas está tornando os eventos de calor úmido mais frequentes e intensos, especialmente nas regiões tropicais e subtropicais, aumentando os riscos para populações vulneráveis e trabalhadores ao ar livre”, alerta o Dr. Lawrence Jackson, principal autor do estudo e pesquisador da Escola de Terra e Meio Ambiente da Universidade de Leeds.
“Nosso estudo oferece uma nova compreensão que pode ser aplicada em sistemas de alerta precoce, com base em observações por satélite quase em tempo real sobre umidade do solo e padrões de chuva”, acrescenta.
A equipe analisou ondas de calor úmido entre 2001 e 2022, utilizando dados climáticos e meteorológicos, e observações por satélite para identificar dias mais secos ou úmidos. A partir disso, calcularam a probabilidade de ocorrência de ondas de calor úmido após diferentes padrões de chuva.
O fenômeno é amplamente distribuído em áreas tropicais e subtropicais do planeta, ocorrendo em regiões de monções como África Ocidental, Índia, Leste da China e norte da Austrália; em áreas úmidas como a Amazônia, o sudeste dos EUA e a bacia do Congo; e em regiões costeiras quentes do Oriente Médio.
O estudo revela que os padrões recentes de chuva têm papel crucial no desencadeamento das ondas de calor úmido. Os resultados mostram que o risco varia conforme a umidade do solo: em áreas mais secas, o risco aumenta durante ou logo após chuvas intensas; já em regiões mais úmidas, ondas de calor úmido tendem a ocorrer após pelo menos dois dias de pouca ou nenhuma chuva.
Isso acontece porque a chuva eleva a umidade do solo, deixando o ambiente mais saturado, enquanto dias mais secos e com menos nuvens favorecem o aquecimento da superfície, elevando as temperaturas.
“A perspectiva para o calor úmido nos trópicos é realmente preocupante”, afirma a professora Cathryn Birch, meteorologista e coautora do estudo. “O corpo humano depende da evaporação do suor para se resfriar. Com umidade elevada, esse processo se torna ineficaz. Ondas de calor úmido podem ser letais em temperaturas que, em ambientes secos, seriam consideradas seguras. Um pequeno aumento na temperatura global já pode gerar picos perigosos de calor úmido.”
Birch reforça a urgência da redução nas emissões de gases de efeito estufa e da criação de sistemas eficazes de alerta antecipado.
John Marsham, também coautor e professor de Ciências Atmosféricas, destacou que os resultados se concentram em uma escala diária, mas que o próximo passo seria analisar os dados em escala horária. “Isso pode permitir previsões quase em tempo real, com grande potencial para proteger comunidades vulneráveis”, concluiu.
Fonte: University of Leeds
Referência:
Jackson, L.S., Birch, C.E., Chagnaud, G. et al. Daily rainfall variability controls humid heatwaves in the global tropics and subtropics. Nat Commun 16, 3461 (2025). https://doi.org/10.1038/s41467-025-58694-6
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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