Crise climática e demissões em massa na NOAA
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O governo dos Estados Unidos da América (EUA), liderado pelos negacionistas, Donald Trump e JD Vance, tem atuado a favor da crise climática e pelo desmonte das agências de pesquisa e de monitoramento da temperatura global e do clima.
A nova administração americana tem incentivado a exploração de combustíveis fósseis – defendendo o chavão “Drill, baby, drill” – além de cancelar os programas de incentivo à transição energética. Isto significa mais poluição e mais emissões de gases de efeito estufa (GEE), indo na contramão de todas as recomendações científicas do Acordo de Paris e do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), além de retroceder nas conquistas da política do “New Green Deal”.
Na concepção do “America First”, o novo governo dos EUA está se posicionando contra a governança global e retirando os EUA do Acordo do Clima de Paris, minando os esforços internacionais para evitar a aceleração do aquecimento global, especialmente neste momento que a temperatura do planeta, em 2024, ultrapassou 1,5ºC em relação ao período pré-industrial.
A mais nova vítima é a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) que está sendo intimidada por Elon Musk e seu Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês). Tem havido corte de pessoal com alegações de que a agência era “prejudicial à prosperidade dos EUA”, por sua liderança no desenvolvimento da ciência dos oceanos e da atmosfera.
À medida que as eliminações de empregos federais se espalham, cientistas e defensores ambientais estão denunciando os cortes, dizendo que eles podem causar danos reais aos americanos, além de provocar um apagão de dados.
Donald Trump lançou um expurgo em sites governamentais que hospedam dados climáticos, em uma aparente tentativa de fazer as evidências desaparecerem. Ele não pode impedir a ação climática global, embora possa retardá-la. Nem pode esconder a verdade restringindo o acesso aos dados. A pesquisa climática continuará, apesar dos melhores esforços de Trump para prejudicar cientistas e instituições de pesquisa.
De acordo com autoridades da Casa Branca e do Congresso, cerca de 5% dos funcionários da NOAA alocados nos EUA — aproximadamente 650 funcionários — receberam um e-mail de demissão na semana passada. Os cortes reduziram equipes em todas as facetas da agência focada no clima, de especialistas trabalhando em previsão do tempo, saúde oceânica, mudanças climáticas, pesca e desenvolvimentos no espaço e na atmosfera.
Cientistas de todas as partes do mundo dependem da NOAA para previsões gratuitas e precisas, alertas de clima severo e informações de emergência. Portanto, a demissão de cientistas, especialistas e servidores públicos de carreira poderá inviabilizar programas fundamentais que custarão prejuízos econômicos e vidas.
Desta forma, a NOAA — que inclui o Serviço Nacional de Meteorologia, o Centro Nacional de Furacões e o Centro de Alerta de Tsunami — é a mais recente vítima de uma série de agências federais alvos de cortes pelo governo Trump. A demissão indiscriminada de funcionários vai sabotar a capacidade da NOAA de fazer um trabalho essencial do qual todos os americanos e demais habitantes do Globo dependem.
O desmonte e o enfraquecimento da NOAA vem no pior momento possível, pois o planeta passa pelo décimo ano com temperaturas recordes, o degelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares nunca foi tão preocupante, com acidificação dos oceanos e a elevação do nível dos mares. Milhões e até bilhões de pessoas estão ameaçadas pela emergência climática, com aumento das secas, das tempestades, furacões e ressacas que inundam as áreas litorâneas dos continentes.
Trump também cortou a ajuda internacional dos EUA, o que desacelerará a ação climática em países que mais precisam de assistência. No geral, taxas mais rápidas de aquecimento inevitavelmente colocarão mais pressão sobre os recursos naturais e a produção agrícola. Isso pode aumentar a probabilidade de guerra internacional por água, alimentos e outros recursos naturais essenciais. Como os países autocráticos lidam pior com a escassez de alimentos do que os democráticos, as emergências climáticas penalizarão mais pesadamente as nações lideradas por déspotas.
Porém, além de amplas medidas de mitigação, precisamos de planos de ação para promover a adaptação diante da crise climática. Os dados e estudos da NOAA são essenciais para a formatação de políticas tanto para a mitigação, quanto para a adaptação.
Sem informações confiáveis e tempestivas o mundo estará diante de uma navegação no escuro e sem qualquer bússola em um território desconhecido.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. Aula 11 AM088: Decrescimento demoeconômico e capacidade de carga do Planeta, IFGW, 11/04/21 https://www.youtube.com/watch?v=QVWun2bJry0&list=PL_1__0Jp-8rhsqxcfNUI8oTRO1wBr86fh&index=9
ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, RJ, v. 18, n. 1, e5942, maio 2022 https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5942/5595
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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Como sempre, este artigo de José Eustáquio Diniz Alves é extremamente oportuno e deve suscitar a preocupação e o engajamento dos cientistas brasileiros no sentido de uma participação mais efetiva da ciência nas decisões governamentais. A insistência do governo brasileiro na exploração de petróleo e seus insuficientes investimentos orçamentários na prevenção e repressão ao desmatamento são inaceitáveis e reclamam uma reação conjunta da comunidade científica
Obrigado Luiz Marques.
Temos problemas nos EUA e também no Brasil.
Se nada for feito teremos um colapso ambiental e social.
Abs, JE