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Artigo

Crise moral, risco mundial, artigo de Montserrat Martins

 

planeta em agonia

 

[EcoDebate] Obama diz que o governo sírio ultrapassou a “linha vermelha” das convenções internacionais sobre guerras ao usar armas químicas e Assad, que nega o uso, apoiado por russos e chineses, diz que não confirma nem nega que seu governo tenha essas armas. Acreditar em quem, na Síria, se todas as partes envolvidas são suspeitas? A indiferença não é uma solução, pois foi na indiferença européia que cresceu o nazismo, aliás o primeiro regime genocida com uso de armas químicas. E agora, ONU?

A Liga Árabe também entende que o genocida é Assad e não a oposição síria. Pois essa mesma Liga está no lado oposto aos americanos no caso dos palestinos – e aí entramos numa questão mais profunda: porque outros crimes contra a humanidade também não foram considerados como ultrapassando a “linha vermelha”? Os Estados Unidos nunca consideraram prioridade a defesa da vida dos civis palestinos, pois tem outra visão quando seus aliados regionais estão envolvidos – exatamente a “hipocrisia” da qual os americanos, agora, estão acusando russos e chineses que defendem seu aliado sírio. Quer dizer, não é porque a Liga Árabe condena o governo sírio que os americanos acredita nos árabes: no caso dos palestinos, a Liga Árabe protesta pelo massacre dos palestinos mas os Estados Unidos ignora todos os protestos.

O exército egípcio passando com tanques sobre as pessoas que protestavam pacificamente na praça ultrapassou a “linha vermelha”. O desperdício mundial de alimentos ultrapassou a linha vermelha. A AIDS na África ultrapassou a linha vermelha. A indústria de armamentos ultrapassou a linha vermelha. O desequilíbrio climático ultrapassou a “linha vermelha” e compromete o futuro humano na Terra.

O Japão ultrapassou a “linha vermelha” em Fukushima, despejando lixo atômico no mar, contaminando os oceanos e colocando em risco a vida no planeta, com possibilidades catastróficas de mutações genéticas, proliferação de câncer e incontáveis formas de contaminação radioativa de consequências imprevisíveis. “Passou batido” em agosto uma notícia cuja fonte é própria Tokyo Eletric Power Co, de que foi detectada “uma radiação de 1,8 milisieverts por hora, num tanque da usina” – capaz de matar um ser humano em quatro horas. Sendo detectada na água da usina uma radioatividade dezoito vezes maior que a anteriormente medida e sabendo-se que esse lixo atômico está sendo despejado no mar, trata-se de uma calamidade mundial, capaz de atingir a todos nós. Agora o governo japonês gastará 40 bilhões de yenes (400 milhões de dólares) no uso da técnica de terra congelada, com um muro de concreto de grande espessura no entorno do reator e na parte interior que ficará em contato com a água radioativa adiciona-se areia para ser congelada. Porque só agora?

Ultrapassou a linha vermelha a negligência mundial e nacional também, quanto aos riscos da energia nuclear. O Dr. Millos Stringuini observa que “todos sabemos que as usinas nucleares não são isentas de risco, Fukushima é a prova, se no Japão e na Rússia usinas explodiram imagine o risco no Brasil…O Sistema energético brasileiro, sabidamente, carece de planejamento de médio e longo prazo. Além disso, é suscetível a acidentes de pequena monta com grandes repercussões. Em agosto o Nordeste ficou sem energia, pois linhas de transmissão foram interrompidas por queimadas de vegetação.. E sabemos que desmontar uma usina nuclear é, em média, 4 vezes mais caro que construir. Por que, então, o governo federal quer implantar 06 ou 07 usinas nucleares no Brasil, sendo uma, provavelmente na Costa Doce do RS?”.

As “linhas vermelhas” que estão sendo ultrapassadas atingem não só a moral, como a sobrevivência da espécie humana. Não se trata de estabelecer uma “linha vermelha” só para a Síria. Os americanos não tem moral para serem “xerifes do mundo”, falta uma ONU de verdade: “Linha vermelha” para defender os civis palestinos, para socorrer a fome e a AIDS na África, linha vermelha para Fukushima, já!

Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.

 

EcoDebate, 09/09/2013


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5 thoughts on “Crise moral, risco mundial, artigo de Montserrat Martins

  • O que é a linha vermelha?
    Para o modo capitalista linha vermelha nada mais é que um sistema em crise e para crise leia-se colapso financeiro, falta dinheiro, para tanto criam intervenções.

    Para um mundo humanitário a linha vermelha é a exploração…Quem se importa com a exploração se não o explorado. A burguesia só se incomoda quando falta dinheiro.

  • Tão triste! O Douglas, você é muito realista.Mas não nos cabe ser indiferentes, apesar de tudo. Temos qe continuar fazendo ouvir nossas vozes de protesto e agradecer um artigo como este, para nos provocar e ver se enchemos os ouvidos dos poderosos e interesseiros como a indústria de armamentos, de supersônicos ou o que valha, a industria da construção civil, pois dá lucro destruir para depois construir e a indústria dos medicamentos, que lamentavelmente ganham muito com as guerras. Arre! É preciso jogar LUZ para este Povo.E que Deus tenha piedade de todos.

  • Ô Douglas não podemos perder a Esperança nem ficar indiferentes, apesar desta Realidade. Vamos tentar fazer ouvir as nossas vozes aos poderosos da indústria de armamento, da construção civil, e farmacêutica, os maiores interessados noo caos, onde quer que ele se instale.Arre!Joguemos Luzes beste Povo.

  • Montserrat, A Liga Árabe não é a favor dos palestinos. Se assim fosse, esse conflito estaria em outro patamar. Um abraço

  • Montserrat Martins

    Tali Feld, a Palestina consta como um dos países membros da Liga Árabe. Acredito que você se refira não ao apoio formal mas sim a ambiguidades políticas, a possível falta de firmeza de posições, que os especialistas nesse assunto poderiam responder melhor do que eu.
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Liga_%C3%81rabe

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