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Moradores da região metropolitana do Rio denunciam problemas de saúde pública causados por novo aterro sanitário

 


17/02/2013 – Moradores do bairro de Chaperó, na divisa de Seropédica e Itaguaí, na região metropolitana do Rio, protestam contra a instalação do novo Centro de Tratamento de Resíduos, que estaria emanando odor desagradável e provocando problemas de saúde na população local. O problema principal seriam os reservatórios de chorume à céu aberto, resultado da decomposição das toneladas de lixo trazidas diariamente por caminhões, principalmente da capital. O CTR substituiu o aterro sanitário de Gramacho, em Duque de Caxias, fechado em junho do ano passado. Foto Repórter Vladimir Platonov/ABr

 

Rinite, bronquite, asma, irritação nos olhos e na garganta, além de enjoos diários são os sintomas relatados por vários moradores do bairro de Chaperó, no limite dos municípios de Seropédica e Itaguaí, na região metropolitana do Rio. De uma hora para outra, eles viram o bucólico lugarejo ao pé da serra, antes rodeado por campos e bosques, tomado por centenas de caminhões de lixo, que levam os detritos para o Centro de Tratamento de Resíduos (CTR) da empresa Ciclus, responsável por processar toneladas de detritos provenientes do Rio de Janeiro e de outros municípios próximos.

A dona de casa Adriana dos Santos da Silva mora com os três filhos – de 7, 10 e 14 anos – próximo do novo aterro e viu a saúde das crianças piorar desde o início dos trabalhos, há pouco mais de seis meses. “Nós queremos que interditem isso aqui, porque está afetando a saúde dos moradores, principalmente das crianças e das pessoas idosas. Meus filhos estão com problemas de saúde, com bronquite e sinusite e às vezes tenho de levá-los para o hospital. Eu mesma tenho tido crises constantes de bronquite e falta de ar.”

A vizinha Solange de Oliveira, mesmo morando a cerca de 100 metros do aterro, diz que não consegue evitar o fedor das piscinas de chorume, o que provoca mal estar. “O cheiro é intolerável. Invade nossas casas. Não adianta fechar portas e janelas. Na hora do almoço nem dá para comer, de tanto enjoo. Eu tenho estômago fraco e sei o que passo ”, disse. Ela se diz frustrada porque nem mais visitas pode receber em casa. “A gente fica com vergonha. A minha casa é limpa, mas o cheiro ninguém aguenta.”

Para o ajudante de caminhão Marco Antônio Patrocínio, a preocupação é com a infestação de moscas, que aumentaram de número desde o início do aterro. “As moscas pousam no chorume e depois vêm infectar as crianças.” A proliferação de insetos também incomoda Sonia Regina, que há 25 anos mora em Chaperó, mas agora tem dúvidas se vai continuar morando no local. “Depois que esse lixão veio, perdi o gosto de morar aqui. Era um bairro tranquilo, um paraíso. Não tenho mais vontade de ficar. Não dá para botar uma mesa no almoço de tanta mosca.”

Moradores da região metropolitana do Rio denunciam problemas de saúde pública causados por novo aterro sanitário

 

O aposentado Guilherme Zanini escolheu Chaperó em busca de sossego, mas agora não sabe se vai permanecer no bairro. “Passei do paraíso para o inferno. Agora não sei o que fazer, se saio ou se fico. A gente não tem mais paz nem sossego. Vai deitar com o mau cheiro e levanta com dor de cabeça. Dependendo do vento, não se consegue nem dormir”, disse Zanini, que construiu uma casa de dois andares, que antes tinha como vista verdes campos e agora fica a menos de 50 metros dos reservatórios de chorume do CTR.

Até para vender os imóveis ficou difícil, pois o bairro todo sofreu desvalorização, segundo o militar reformado José Reinaldo Evangelista. “Os imóveis estão desvalorizados. A gente bota placa e ninguém quer comprar. Em compensação, nosso IPTU [Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana] é altíssimo, porque consideram como área industrial. Paguei mais de R$ 1 mil para a prefeitura de Itaguaí este ano.”

De acordo com o líder comunitário Everaldo Eufrásio Francisco, mais de 10 mil pessoas estão sendo atingidas pela poluição. “A implantação desse lixão vem causando prejuízo para a nossa comunidade. Já é caso de saúde pública. Minha esposa é um exemplo, pois está sofrendo de bronquite asmática e constantemente vem apresentando dificuldades de respiração. O cheiro é insuportável e mesmo durante a madrugada impede o sono. Fora o barulho dos caminhões, durante toda a noite.”

Segundo Everaldo, o problema se agravou com as fortes chuvas que atingiram a região no início do ano. “Tivemos uma chuva forte que inundou parte dessa fazenda [onde está o CTR] e deve ter vazado esse chorume das piscinas para a rede pluvial. Nós queremos que esse lixão seja interditado. Sabemos que é uma luta grande, mas não é impossível.”

A empresa Ciclus foi procurada para comentar as denúncias dos moradores. Enviou uma nota, admitindo que as fortes chuvas podem ter elevado o odor: “A CTR Rio é a mais moderna Central de Tratamento de Resíduos da América Latina. Inaugurada em 2011, a unidade foi desenvolvida com a mais alta tecnologia em um processo de implantação gradativa, que segue o cronograma previsto. A empresa está sempre atenta a melhorias operacionais e está estudando alternativas para controlar ainda mais o odor provocado pelas fortes chuvas que vêm assolando a região neste início do ano”.

Reportagem de Vladimir Platonow, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 18/02/2013


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