EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

Equalização da Banda Larga, artigo de Bruno Peron

[EcoDebate] O Plano Nacional de Banda Larga, do Ministério das Comunicações, surge com o propósito egrégio de democratizar o acesso à internet no Brasil. A ambição do projeto é atingir 40 milhões de residências em poucos anos, embora não acompanhe plenamente a velocidade com que as tecnologias de comunicação e informação se desenvolvem.

Edificaram-se os alicerces oficiais em maio de 2010 e pretende-se quadruplicar a parcela menos favorecida dos internautas de alta velocidade até 2014 com o investimento previsto de R$12,8 bilhões. O governo dispõe ainda da possibilidade – mas não certeza – de uso do bilionário Fundo de Universalização de Serviços de Telecomunicação.

Chegou o momento de atirar ao chão o porquinho desta poupança?

A pretensão do Plano Nacional de Banda Larga é oferecer o serviço de 1Mbps (Megabit por Segundo) por R$35,00 mensais, porém tanto a velocidade como o preço estão defasados em relação aos serviços privados. A tecnologia desenvolveu-se com tanta celeridade nalguns estados que a proposta governamental torna-se irrisória e questionável. Uma das operadoras de internet rápida oferece a mesma velocidade por 29,80 mensais e outra, por R$29,90.

O governo federal, deste modo, dá um tiro no pé porque as empresas privadas terão preços mais baixos que os que refletem os investimentos federais. Alguns estados, como Distrito Federal, Pará e São Paulo propõem-se a isentar de tributos (sobretudo o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) os planos de banda larga a fim de torná-los mais acessíveis.

Analistas e técnicos do Ministério das Comunicações elaboraram um estudo detalhado e sério sobre o projeto oficial em “Um Plano Nacional para Banda Larga: O Brasil em Alta Velocidade”, que faz um diagnóstico sobre a qualidade da internet no país, compara a outros padrões internacionais, propõe metas e ações para incentivar o setor.

Uma estratégia profícua que o Ministério das Comunicações poderá incorporar é o fomento à concorrência entre empresas privadas nos estados onde os serviços de banda larga estão mais avançados e a dedicação dos recursos públicos às regiões Norte e Nordeste, que estão bem abaixo da média nacional em número de computadores e acesso à internet.

As benesses da espanhola Telefônica nos anos subsequentes à privatização duraram até o ensejo da concorrência pela entrada da NET, GVT e Transit Telecom no estado de São Paulo, que possui as velocidades mais altas de banda larga no país. O que este escasso benefício de mercado não resolve é a regulação da estabilidade das conexões, que se garantem em apenas 10%, as velocidades baixíssimas de “upload” (que poucos usuários consideram ao comprar o pacote), e a qualidade do atendimento, que se faz impessoalmente e com base na tirania institucional.

Os contratos firmam-se via telefônica, as chamadas caem quando o cliente ameaça cancelar o serviço, e os atendentes empurram as vendas goela abaixo para alcançar metas.

O Ministério das Comunicações definiu Nordeste e Sudeste como as regiões prioritárias para a canalização dos investimentos federais, enquanto os estados mais favorecidos são Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

A função de Estado entra na equalização da balança. Quando as distorções se corrigem, a Máquina busca outros nós para desatar e engrenagens para lubrificar na sociedade brasileira.

Este raciocínio não me faz aceitar o neoliberalismo nem que mitos escalafobéticos se concretizem senão reconhecer que algumas regiões têm mais condições de se mover com investimentos privados que outras e, assim, não se justificaria o uso dos recursos federais escassos para o desenvolvimento de banda larga nestas localidades, exceto em instituições de interesse público que demandem investimentos governamentais.

A “sociedade anônima aberta, de economia mista” Telecomunicações Brasileiras S. A. (Telebrás) administra o Plano Nacional de Banda Larga e presta serviços especialmente a instituições de interesse público, como bibliotecas, escolas, hospitais, órgãos de segurança pública, universidades. O projeto que começou a levantar os pilares em maio de 2010 também se voltará ao consumidor doméstico de recursos financeiros exíguos sem abrir mão de parcerias com empresas privadas.

O investimento em internet é sempre bem-vindo, porquanto este meio de comunicação propicia uma ferramenta de formação cívica e política melhor que a televisão. O acesso rápido a blogs (simplificação dos “web logs”), dicionários virtuais, foros de discussão, portais de notícias e redes sociais desanuvia um mundo mais diverso pelo clique que pela passividade telespectadora.

Por maiores que sejam os desafios de expansão da internet brasileira, as propostas de “democratização” e “massificação” deste meio são condizentes com a tendência de instrução e participação dos cidadãos num mundo em que as mudanças tecnológicas são cada vez mais rápidas e difíceis de captar em sua integridade.

Os recursos do Ministério das Comunicações, portanto, devem concentrar-se em estados e regiões menos favorecidos nestas tecnologias.

O discurso de inclusão social retorna ao mapa das desigualdades brasileiras com o bom augúrio do Plano Nacional de Banda Larga.

* Colaboração de Bruno Peron, mestre em Estudos Latino-americanos, para o EcoDebate, 03/08/2011

[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Alexa

One thought on “Equalização da Banda Larga, artigo de Bruno Peron

  • Gostaria de saber qual é a operadora que oferece internet de 1MB por menos de R$35,00 ? Nesse preço só se for com venda casada com TV e telefone, aí a conta não sai por menos de R$50,00.

    Outra: será que essas operadoras não estão baixando os preços justamente para inviabilizar o plano nacinal da banda larga?

    Um plano de verdade deveria ser internet de graça para TODOS, com acess points wireless em vários pontos das cidades de todos os países… se rádio e tv são de graça, porque não a internet?

Fechado para comentários.