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Indivíduos que aplicam pesticidas tem o dobro do risco de desordem sanguínea

Blood Journal

[Por Henrique Cortez, do EcoDebate] Um estudo [Pesticide exposure and risk of monoclonal gammopathy of undetermined significance (MGUS) in the Agricultural Health Study] envolvendo 678 indivíduos que aplicam agrotóxicos (pesticidas), selecionados dentro do estudo federal dos EUA “Agricultural Health Study”, realizado com mais de 50.000 agricultores, recentemente descobriu que a exposição a determinados pesticidas dobra o risco de desenvolver uma condição sanguínea anormal chamada de “gamopatia monoclonal de significância indeterminada” (GMSI) (MGUS, monoclonal gammopathy of undetermined significance, no original do estudo), quando em comparação com os indivíduos da população em geral.

O distúrbio, caracterizado por um nível anormal de uma proteína plasmática, exige acompanhamento e é uma condição que pode levar ao mieloma múltiplo, um doloroso câncer de células plasmáticas na medula óssea. O estudo foi publicado na Blood, a revista oficial da Sociedade Americana de Hematologia.

** As gamopatias monoclonais constituem um grupo de desordens caracterizado pela proliferação monoclonal de plasmócitos, que produzem e secretam imunoglobulina ou fragmento de imunoglobulina monoclonal (proteína M) . A gamopatia monoclonal de significado indeterminado (GMSI) é definida pela presença de proteína M sérica < 3,0 g/dL e/ou urinária < 1g/24h, infiltração plasmocitária medular menor que 10% e ausência de danos aos órgãos e tecidos ** [in FARIA, Rosa Malena D. e SILVA, Roberta O. Paula e. Gamopatias monoclonais: critérios diagnósticos e diagnósticos diferenciais. Rev. Bras. Hematol. Hemoter. [online]. 2007, vol.29, n.1, pp. 17-22. ISSN 1516-8484. doi: 10.1590/S1516-84842007000100005., in http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-84842007000100005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt ]

Estudos anteriores já havia relacionado os agrotóxicos ao mieloma múltiplo e esta pesquisa demonstra uma associação entre exposição e uma prevalência de GMSI. Isto é importante, na medida em que outros estudos indicaram que, praticamente, todos os doentes com mieloma múltiplo apresentavam GMSI, em fase anterior ao desenvolvimento do mieloma.

O sangue dos participantes do estudo, todos com autorização e registro para aplicação agrotóxicos de uso restrito pesticidas, foi avaliada para prevalência de GMSI . A media da idade dos participantes foi de 60 anos (intervalo 30-94 anos) e todos viviam mos estados de Iowa e Carolina do Norte. Os participantes também completaram questionários fornecendo informações completas de exposição profissional para uma vasta gama de agrotóxicos, incluindo informações como o número médio de dias de utilização de pesticidas por ano, os anos de uso, a utilização de equipamentos de proteção e métodos de aplicação. Informações sobre tabagismo e uso de álcool, histórico familiar de câncer e outras bases de dados demográficos e de saúde também foram obtidas. Os indivíduos com história prévia de doenças como o mieloma múltiplo ou linfoma foram excluídos. Incidência e mortalidade por câncer foram monitorados anualmente e, após cinco anos de acompanhamento, entrevistas foram conduzidas para atualizar as informações sobre os participantes, exposições ocupacionais, anamnese, e estilo de vida.

Para comparação, os dados foram obtidos a partir de um grande estudo realizado pela Mayo Clinic, e os resultados do grupo exposto aos agrotóxicos foram comparados com as avaliações de 9469 homens da população geral de Olmsted County, Minnesota. Os dois grupos foram semelhantes em termos de idade, raça e nível educacional. As mulheresforam excluídas do estudo devido à sua baixa participação entre os trabalhadores que aplicam pesticidas .

No grupo exposto aos agrotóxicos não foram observados casos de GMSI entre os que tinham menos de 50 anos, mas a prevalência de GMSI naqueles com idade superior a 50 foi de 6,8%, que é 1,9 vezes superior à população geral, de acordo com o estudo do grupo de homens em Minnesota.

Dos produtos químicos estudados, um aumento significativo do risco de GMSI foi observado entre os usuários de dieldrin (um inseticida), carbon-tetrachloride/carbon dissulfureto (um fumigante), e chlorothalonil (um fungicida). O risco para GMSI nesses agentes aumentou 5,6 vezes, 3,9 vezes e 2,4 vezes, respectivamente. Vários outros inseticidas, herbicidas e fungicidas foram associados com GMSI, mas não significativamente.

O artigo “Pesticide exposure and risk of monoclonal gammopathy of undetermined significance in the Agricultural Health Study”, publicado na revista Blood, 18 June 2009, Vol. 113, No. 25, pp. 6386-6391, Prepublished online as a Blood First Edition Paper on April 22, 2009; DOI 10.1182/blood-2009-02-203471, apenas está disponível para assinantes da revista.

Para maiores informações publicamos, abaixo, o abstract:

Pesticide exposure and risk of monoclonal gammopathy of undetermined significance (MGUS) in the Agricultural Health Study

Ola Landgren*, Robert A. Kyle, Jane A. Hoppin, Laura E. Beane Freeman, James R. Cerhan, Jerry A. Katzmann, S. Vincent Rajkumar, and Michael C. Alavanja

Division of Cancer Epidemiology and Genetics, National Cancer Institute, NIH, Bethesda, MD, United States
College of Medicine, Mayo Clinic, Rochester, MN, United States
National Institute of Environmental Health Sciences, NIH, Research Triangle Park, NC, United States

* Corresponding author; email: landgreo{at}mail.nih.gov.

Pesticides have been associated with excess risk of multiple myeloma (MM), albeit inconclusively. We included 678 men (30-94 years) from a well-characterized prospective cohort of restricted use pesticide applicators to assess the risk of monoclonal gammopathy of undetermined significance (MGUS). Serum samples from all subjects were analyzed by electrophoresis performed on agarose gel; samples with a discrete or localized band were subjected to immunofixation. Age-adjusted prevalence estimates of MGUS were compared with MGUS prevalence in 9,469 men from Minnesota. Associations between pesticide exposures and MGUS prevalence were assessed by logistic regression models adjusted for age and education level. Among study participants >50 years (n=555), 38 were found to have MGUS, yielding a prevalence of 6.8% (5.0-9.3). Compared with men from Minnesota, the age-adjusted prevalence of MGUS was 1.9-fold (1.3-2.7) higher among male pesticide applicators. Among applicators, a 5.6-fold (1.9-16.6), 3.9-fold (1.5-10.0), and 2.4-fold (1.1-5.3) increased risk of MGUS was observed among users of the chlorinated insecticide dieldrin, the fumigant mixture carbon-tetrachloride/carbon disulfide, and the fungicide chlorothalonil, respectively. In summary, the prevalence of MGUS among pesticide applicators was twice that in a population-based sample of men from Minnesota, adding support to the hypothesis that specific pesticides are etiologically linked to myelomagenesis.

[Do Ecodebate, 19/06/2009, com informações de Patrick C. Irelan, American Society of Hematology]

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