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Artigo

Descarbonizar, artigo de Ana Echevenguá

Cientistas prevêem que, neste século, a temperatura global vai aumentar em até 4ºC, devido à queima de combustíveis fósseis. Este aquecimento implica degelo, enchentes, morte, tempestades… em suma, destruição de vidas e da economia dos locais atingidos.

O IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – declarou que as decisões humanas são as grandes culpadas pela crise climática global. A ONU foi mais objetiva: ao dizer que o setor de transportes é um inimigo do meio ambiente, afirmou o óbvio: que o uso de carros e de aviões (movidos a combustíveis fósseis) amplia a emissão de gases poluentes.

Claro que a substituição do uso de combustíveis fósseis encontra barreiras políticas e econômicas difíceis de serem derrubadas. Mesmo assim, a necessidade da geração de energias limpas para garantir a sobrevivência da espécie humana está provocando mudanças nas instituições econômicas, políticas e sociais, a exemplo do que fizeram o carvão e a máquina a vapor. Temos hoje uma proliferação de marcos regulatórios ambientais internacionais que mexem com mercados e legislações; e conferem às empresas novas exigências.

Mas o principal motivo para o incentivo global às tecnologias limpas é econômico:
– primeiramente, as empresas pensaram: vamos deixar de ganhar dinheiro nos territórios que vão desaparecer sob as águas e nos que serão destruídos por fenômenos climáticos;
– em segundo lugar, elas sabem que a sua postura socioambientalmente correta é bem vista pelos consumidores e acionistas: marcas com ações socioambientais agregam valores (e lucro) aos produtos;
– por último, há farta distribuição de verba para a descarbonização: linhas de crédito para pesquisa e projetos voltados para a produção de energia limpa, para implantação de tecnologias de descarbonização, para a redução do uso de combustíveis de origem fóssil e não-renováveis. No âmbito internacional, há ‘créditos para o seqüestro de carbono’. Isso é a Ecoeconomia!

Com tudo isso, ficou mais fácil concluir que, para ser sustentável, é preciso descarbonizar a sua cadeia produtiva, cortar as emissões de carbono, diminuindo a queima de combustíveis fósseis.

Descarbonizar? Sim; ou seja, diminuir a emissão de carbono em qualquer atividade de sua cadeia de produção e neutralizar, através de reflorestamento, por exemplo, o carbono poluente que sobrou.

Várias empresas já aderiram a esta idéia: estão banindo o carbono da sua cadeia produtiva, com apoio de investidores e consumidores. Seu novo lema é: ‘Descarbonizar é a solução’ (para garantir lucros); seqüestrar carbono, retirar CO2 da atmosfera. A meta é usar combustíveis ambientalmente mais limpos e advindos de fontes renováveis.

Diariamente, tomamos ciência de ações de sucesso, voltadas ao emergente Econegócio da Descarbonização. Tais projetos devem:
– atender às regras legais,
– reduzir impactos socioambientais,
– aumentar o valor de mercado das empresas e
– além dos rendimentos agregados, devem colocar dinheiro no caixa.

Logo, logo teremos a lista das mais descarbonizadas do mundo. E ninguém vai querer ficar de fora sob pena de ser taxado de irresponsável e de perder mercado (porque os consumidores estão de olho).

Mas descarbonizar não é novidade. No livro ‘A Economia do Hidrogênio’, Jeremy Rifkin comenta que a premonição de Julio Verne sobre o futuro do hidrogênio já era alvo de estudos desde o último quartel do século 19, com a progressiva descarbonização da energia. “Em menos de um século, a madeira dera lugar ao carvão, e o carvão estava sendo desafiado por um novo arrivista, o petróleo. A “descarbonização” da energia, que levaria inevitavelmente ao futuro do hidrogênio, já estava a caminho”. Jeremy Rifkin é um dos grandes pensadores da nova economia. Preside a Foundation on Economic Trends, sediada em Washington. E prega que, sob pena de sucumbirmos, devemos trocar todo o combustível derivado do petróleo por energias limpas que causam pouco impacto para meio ambiente.

Nesta seara, o Poder Público também foi chamado à responsabilidade: precisa descarbonizar a sua cadeia de produção. A sua frota de veículos, que transporta servidores, governados e cargas, deve usar combustível limpo.

A Bahia, por exemplo, está articulando este projeto. Baseada em dados fornecidos pelo WMO – World Meteorological Organization e o PNUMA – Programa da ONU para o Meio Ambiente, estuda até mesmo a adoção do um selo “DCarb Bahia”. Pretende inserir nos editais de licitação para obras e serviços públicos, por exemplo, exigência de inventário de carbono e ações de descarbonização.

Faça também a sua parte, com o intuito de descarbonizar o planeta. Com certeza, as decisões que você tomou até hoje contribuíram – e muito – para o aquecimento da Terra.

* Ana Echevenguá – advogada ambientalista, coordenadora do programa televisivo Eco&Ação – Ecologia e Responsabilidade, e-mail: ana@ecoeacao.com.br

publicado pelo EcoDebate.com.br – 20/08/2007
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