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Turismo Pedagógico: A Sala de Aula da Contemporaneidade

 

Ecoturismo
Foto: Marcelo Saviski / Creative Commons

Turismo Pedagógico: A Sala de Aula da Contemporaneidade, artigo de Vagner Luciano de Andrade

A relevância pedagógica da leitura, percepção e interpretação da paisagem traz importantes considerações sobre o conhecimento da realidade socioambiental

As discussões contemporâneas da educação visam reformular o ensino para que ele efetive o desenvolvimento intelectual, físico, social, moral, emocional e espiritual do ser humano justificando uma intervenção cada vez mais diferenciada na formação de atitudes, conceitos e procedimentos.

Neste contexto, o geógrafo Aziz Ab’saber reforça a necessidade de criar nos alunos uma intimidade e integração com o lugar onde vivem, onde aprender e ensinar sejam uma oficina de talentos com constantes estímulos ao entendimento, ao conhecimento e a atuação local, no qual educar seja uma maneira de incentivar os discentes e extrair o que eles têm de melhor. Para este renomado educador, a educação contribui teoricamente para o fortalecimento da sociedade escutando o desejo comunitário, valorizando a cultura popular, promovendo à percepção e reflexão, elevando a qualidade de vida local e superando eventuais níveis de exclusão social existentes.

Atualmente os currículos predominantes vertem para uma formação pedagógica ampla e integrada que perpassa por diversos saberes e campos científicos: Artes, Cultura, Cidadania, Ecologia, Esportes, Ética, Geografia, História, Lazer, Literatura, Matemática, Português, Religiosidade e Saúde. Mas apesar desta perspectiva inovadora, os sujeitos recebem grande quantidade de informações técnicas/teóricas com destaque para a priorização de matemática e língua portuguesa sobre os demais conteúdos, fator que prejudica a construção de uma leitura de mundo, mais crítica e coerente.

Essa priorização lógico/lingüística, somada à ausência de materiais didáticos significativos, limita o processo educativo, tornando-se indispensável à saída dos alunos para vivenciarem os conteúdos discutidos apenas em sala de aula, onde apenas se fala ou se ouve. Ver e vivenciar “in loco” os inúmeros conceitos discutidos no espaço físico da sala de aula é uma forma coerente para consolidar o comprometimento com atitudes, hábitos e valores autênticos que reformulem a ordem socioeconômica vigente.

Neste contexto, a “saída a campo”, forma uma consciência crítica nos alunos ao promover uma análise do ambiente natural e social que os cercam, bem como as relações estabelecidas entre ambos. Com este mecanismo didático-pedagógico, os alunos saem dos limites da sala de aula, explorando suas potencialidades através da investigação, do reconhecimento e da interação, participando e atuando ativamente na realidade/comunidade como cidadãos conscientes e críticos.

O Turismo Pedagógico, também denominado de “Aula-Passeio”, emerge nessa perspectiva contemporânea de Interdisciplinaridade, Transdisciplinaridade e Transversalidade, caracterizando-se como uma tipologia que contempla o aluno aqui entendido como “turista” com motivações educacionais. Seu principal objetivo é transportar o conhecimento teórico-científico para o ambiente extra-escolar permitindo a descoberta de novas experiências para os mais diversos públicos: infantil, juvenil, adulto ou idoso.

Marina Millardi Bossi relata que a aula passeio consiste em atividades extra classes, onde se valoriza as necessidades vitais do ser humano: criar, se expressar, comunicar, viver em grupo, ter sucesso, agir-descobrir, se organizar. Assim sendo, no turismo pedagógico, o “material didático” passa a ser o ambiente cultural e natural; e o aluno, como turista, é quem experiência, questiona e aprende com os elementos desse ambiente. Neste sentido, observa-se que uma atividade turística de cunho educativo, pode propiciar momentos essenciais à aprendizagem ao despertar no sujeito a curiosidade por diferentes grupos locais e relações sociais que serão analisadas em paisagens naturais, urbanas ou rurais.

Assim, uma atividade pedagógica de leitura e interpretação ambiental consiste na organização técnica de viagens com finalidades de percepção, vivência e aprendizagem conjugando o conhecimento teórico apresentado em sala de aula com a prática do lazer e da ludicidade. Por sua vez, a viagem em si, caracterizada como o momento de contato e percepção de diferentes paisagens e lugares permite a busca por mais informações sobre determinado assunto tratado, correlacionando diferentes conteúdos numa perspectiva interdisciplinar. Nessa proposta inovadora de educação socioambiental, a participação se efetiva como instrumento que ultrapassa os limites didáticos convencionais, mobilizando os alunos para a leitura, percepção, interpretação e análise da realidade local.

Neste contexto, o principal objetivo da leitura e interpretação ambiental é fornecer bases didático-pedagógicas para a construção de um conhecimento da realidade socioambiental local/global, a partir da percepção dos participantes, enriquecendo o processo educativo. Assim, para se sedimentar conceitos, a leitura e interpretação pode propor experiências ligadas à percepção socioambiental em determinada localidade/realidade rural ou urbana, desenvolvendo um amplo processo de pesquisa e estudos sobre o patrimônio natural e cultural das comunidades e aspectos correlacionados.

Uma vez, entendida a realidade em que se vive, orientam-se melhor as ações promovendo a melhoria da qualidade de vida. Assim, a relevância pedagógica da leitura, percepção e interpretação da paisagem traz importantes considerações sobre o conhecimento da realidade socioambiental em seus múltiplos aspectos, caracterizando-se como relevante instrumento didático para as ciências naturais, geografia e história, dentre outros currículos propostos na Educação atual.

*Vagner Luciano de Andrade – Educador e mobilizador social da Rede Ação Ambiental. Bacharel/licenciado em Geografia e Análise Ambiental pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), graduando em Licenciatura em Educação do Campo pela Faculdade de Educação da UFMG

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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One thought on “Turismo Pedagógico: A Sala de Aula da Contemporaneidade

  • Alex Mendes Ferreira de Sousa

    Excelente matéria!
    👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾

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