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A Vale, os miseráveis e a mídia, artigo de Rogério Almeida

Fiquei chafurdando na rede a procura de alguma matéria especial sobre o premio “Oscar da Vergonha” conferido a empresa Vale, no derradeiro dia 27, em Davos pela Publics Eye Awards, prêmio organizado anualmente pelas organizações internacionais Greenpeace, da e Declaração de Berna. A edição de domingo é considerada o filé mignon dos diários. Não encontrei nada nos grandes jornais, e menos ainda nos impressos locais.

Fiz o mesmo com as revistas, e a caça teve o mesmo desfecho. Na Veja havia uma nota em defesa da Vale, a base reside em cifra estratosférica que a mesma vai empenhar na área de meio ambiente. Com os meus botões fiquei a matutar sobre o silêncio nos principais meios de comunicação.

Indaguei: como pode nenhum veículo empenhar uma equipe para investigar as denúncias que os zés e marias ninguém realizaram em escala planetária sobre uma das principais empresas do planeta? A eleição da Vale como pior empresa do mundo agrupa inúmeros elementos considerados relevantes na teoria do jornalismo.

No jornalismo considerado do campo democrático, a revista paulista Caros Amigos vem dedicando páginas significativas sobre a empresa. Na edição de dezembro foram umas cinco páginas que narram a delicada situação em que vivem as populações impactadas pela ampliação da Ferrovia de Carajás: prostituição infantil, indiferença aos direitos de populações quilombolas e agricultores figuram entre as denúncias.

A revista continua a iluminar os problemas ambientais e sociais da região de Carajás na edição de janeiro. A capa destaca a situação em que vivem as famílias que moram próximas do polo de gusa, no município de Açailândia, no oeste do Maranhão. Foi de lá que nasceu em 2007 o coletivo Justiça nos Trilhos, o responsável pelas denúncias internacionais. Num dos estados mais pobres do Brasil.

A cidade é cortada pela rodovia Belém-Brasília. A exploração madeireira foi uma das primeiras atividades econômicas, antes da instalação das guseiras, que incentivam o desmatamento para a produção de carvão. A reboque promove o trabalho escravo. O município fica numa zona de transição da Amazônia e do Cerrado. A pistolagem integra a história do lugar.

Neste solo nasceu o Justiça nos Trilhos, que realizou ações em rede, e conseguiu agrupar funcionários e famílias que sofrem algum tipo de impacto de empreendimentos da Vale no Canadá, Brasil, Moçambique e outros países. O mesmo mobilizou esforços na produção de artigos acadêmicos e jornalísticos, dossiês, livros, revistas, livros e filmes sobre as dinâmicas da empresa.

O grupo empreendeu ainda encontros nas quebradas do Maranhão e Pará, e uns três eventos internacionais. A empreitada da rede e o feito merecem uma análise mais cuidadosa dos setores da academia em diferentes campos, ou como dizem os doutores: interfaces e interdisciplinaridades.

A administração da marca é uma ação reconhecida da empresa pelo mercado. E alvo de análises de especialistas. O canal fechado de notícias da TV Globo informa que a Vale produziu uma página na internet para contrapor as acusações do Justiça nos Trilhos.

Soa estranho todos os meios de comunicação celebrarem as insurreições do mundo Árabe, a mobilização de jovens desempregados e empobrecidos contra os governos autoritários, e os mesmos veículos fazerem ouvido de mouco com os miseráveis afetados pelos empreendimentos da mega corporação nacional.

Aqui no Pará, onde a Vale controla ou é acionária de algumas cadeias de produção, entre elas a alumínio e a de ferro. As empresas de comunicação não costumam contemplar as agendas negativas da mineradora. Ela costuma bancar projetos especiais de alguns jornais, patrocinar programas que são semanais. Os tratados da academia atestam que a atividade minerária engendra passivos sociais e ambientais, e não dinamiza as economias locais. Salve engano, a economia chama isso de enclave.

Ocorre na lembrança o filme o Informante. O longa trata de um fato verídico que envolve uma questão de saúde pública, conhecimento e uma empresa de tabaco. O poder da empresa de cigarros acaba por constranger a produção da notícia. Mas, no final, ah o final……peguem o filme numa locadora….

Rogério Almeida é professor da Universidade da Amazônia (UNAMA), Belém-PA e publica o blog FURO

Artigo enviado pelo Autor ao EcoDebate, 31/01/2012

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