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Baixo Parnaíba: Lugares de Passagem, Pouso e Repouso, artigo de Mayron Régis

[EcoDebate] Onde realmente começa e onde realmente termina a zona rural? Já se foi o tempo que só se via mato para tudo que é lado. Algo se soltou desde então. Naquelas passagens, por onde muitos trafegavam de uma ponta a outra do município ou do estado e outros permaneciam extáticos em algum ponto estratégico prontos para recepcioná-los, respiravam-se inúmeros cheiros que exalavam de todas as partes.

Quando da época das férias em dezembro ou em janeiro, o primeiro reconhecimento se dava na chegada aos povoados que coincidia com a safra de alguma fruta como o bacuri. Como a safra de bacuri exagerava, o cheiro da fruta repercutia tanto na hora de estocar como na hora de quebrar a casca para comer a sua carne. Outros cheiros repercutiam na serenidade daquelas estâncias como as da saca de arroz e dos cocos babaçus encastelados em alguma quitanda.

Lugares de passagem, de pouso e de repouso. Essas estâncias declinaram com a desvalorização do arroz, da farinha e do babaçu. No caso do babaçu, os atravessadores desapareceram do pedaço ou despencaram com os preços. Em parte, isso se deve à campanha avassaladora pró-óleo de soja que figurou no começo dos anos 80 em todo o Maranhão com os apelos de sempre na busca da boa forma. Contudo, o aviltamento da coleta de coco babaçu na zona rural se debita também na conta da indústria de beneficiamento de óleo que se alquebrou ao longo dos anos setenta e dos anos oitenta.

A crise econômica do Estado brasileiro nos anos oitenta intensificou a bancarrota das contas públicas nos estados e isso teve efeitos na agricultura familiar e no extrativismo maranhenses. Como se sabe, as elites exigem seu quinhão em qualquer situação, mesmo nas mais difíceis. Quando não era possível obter dividendos graúdos das comunidades por via da divisão da produção de arroz, farinha, babaçu e bacuri as expulsavam para plantar capim e criar gado. Sacavam dinheiro a rodo nos bancos estatais de financiamento com apenas a influência política a tiracolo.

Depois do empréstimo efetuado, dificilmente o banco fiscalizaria o local do investimento. Bons tempos da falta de democracia no Brasil e da estrutura oligárquica no estado do Maranhão e em seus municípios que empurravam com a barriga a prestação de contas por parte dos devedores ou, simplesmente, absorviam as dívidas.

Esses empréstimos para grupos políticos de expressão como as famílias Bacelar, Lyra, Leite e Montelles prenunciavam para o Baixo Parnaiba e para o centro-leste maranhenses a anunciação do “milagre” das monoculturas de florestas plantadas como eucalipto e bambu na forma de projetos de manejo florestal.

Antes da desapropriação de parte de suas propriedades pelo Incra na Chapada do Sangue, município de Chapadinha, Baixo Parnaiba maranhense, a família Lyra e o grupo João Santos subtraíram centenas e centenas de bacurizeiros em nome do manejo florestal. Na realidade, o grupo João Santos direcionava a madeira para seus caldeirões no município de Coelho Neto. Felizmente, deram um descanso para a Chapada e hoje os bacurizeiros ressurgiram para alegria dos extrativistas do bacuri. O Chico da Cohab, representante da sociedade civil no conselho municipal da saúde de Chapadinha, avalia que essa Chapada recomenda mais de vinte mil hectares entre Chapada e Baixões. Bem maior que a reserva extrativista da Chapada Limpa. O Incra criou dois assentamentos na região, a Vila Borges e a Vila Chapéu, e pretende criar outro, a Vila Januário. Essas comunidades estão garantidas. Faltariam outras tantas como a comunidade do Leite, rica em Buriti. Para ela e para outras comunidades agroextrativistas, propõe-se a criação de uma reserva extrativista nos moldes da reserva de Chapada Limpa.

Enquanto isso, o grupo João Santos entrou com um pedido junto a Secretaria de Meio Ambiente do Maranhão de desmatamento de mil hectares na comunidade do Cipó com vistas ao plantio de eucalipto e bambu. Os municípios de Buriti, Afonso Cunha e Coelho Neto são listados no pedido.

Mayron Régis, jornalista e Assessor do Fórum Carajás, é articulista do EcoDebate.

EcoDebate, 07/12/2010


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