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Pesquisa relaciona a exposição a agrotóxicos com o aumento do risco de desenvolvimento da doença de Parkinson

Imagem: UC Regents / UCLA
Imagem: UC Regents / UCLA

[Por Henrique Cortez, do EcoDebate] Pesquisadores já demonstraram, em estudos animais e em culturas de células, que os agrotóxicos podem estimular o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, tais como a doença de Parkinson. Agora, pesquisadores da University of California – Los Angeles (UCLA) demonstraram que o mesmo processo também ocorre em seres humanos.

A pesquisa foi realizada na região de Central Valley, a mais importante região agrícola da Califórnia, caracterizada pela fertilidade do solo e pela intensa utilização de agrotóxicos, com destaque para o fungicida “maneb” e o herbicida “paraquat”

No estudo epidemiológico, os pesquisadores avaliaram os moradores da região de Central Valley com diagnóstico de doença de Parkinson. Os resultados indicaram que a exposição continuada, ao longo de anos, ao fungicida “maneb” e ao herbicida “paraquat” aumenta o risco de desenvolver a doença de Parkinson em 75%.

A pesquisa [Parkinson’s Disease and Residential Exposure to Maneb and Paraquat From Agricultural Applications in the Central Valley of California] foi publicada na edição de 15/4/2008 da American Journal of Epidemiology, concluiu que os moradores de Central Valley que residiam até 500 metros das áreas em que os agrotóxicos foram aplicados, entre 1974 e 1999, tem 75% a mais de chances de desenvolver a doença de Parkinson. O estudo conclui que a exposição ocorre anos antes dos sintomas aparecerem.

A pesquisa indica, ainda, que as pessoas com 60 anos ou menos diagnosticadas com a doença de Parkinson, expostas ao maneb, ao paraquat ou ambos, foram contaminados entre 1974 e 1989, quando eram crianças, adolescentes ou jovens adultos.

Ainda não se conhecem as causas da doença de Parkinson, mas ela é, nos EUA, excepcionalmente frequente entre fazendeiros e moradores das zonas rurais, o que pode indicar uma responsabilidade parcial dos agrotóxicos.

Os resultados da pesquisa também confirmam estudos anteriores, em animais, nos quais a exposição a múltiplos contaminantes químicos aumenta os efeitos de cada um deles (vejam em “Estudo confirma que a combinação de pesticidas é ainda mais mortal para peixes”).

Com base nas conclusões fica evidente que a sinergia entre o maneb e o paraquat tornou-se ainda mais neurotóxica, aumentando drásticamente o risco de desenvolvimento da doença de Parkinson em seres humanos.

O artigo “Parkinson’s Disease and Residential Exposure to Maneb and Paraquat From Agricultural Applications in the Central Valley of California“, publicado no American Journal of Epidemiology Advance Access, 2009 169: 919-926; doi:10.1093/aje/kwp006, está disponível apenas para assinantes.

Abaixo transcrevemos o abstract:

Parkinson’s Disease and Residential Exposure to Maneb and Paraquat From Agricultural Applications in the Central Valley of California
Sadie Costello, Myles Cockburn, Jeff Bronstein, Xinbo Zhang and Beate Ritz

Correspondence to Dr. Sadie Costello, Department of Environmental Health Sciences, School of Public Health, University of California, Berkeley, 50 University Hall, #7360, Berkeley, CA 94720-7360 (e-mail: sadie{at}berkeley.edu).

Received for publication September 12, 2008. Accepted for publication January 6, 2009.

Evidence from animal and cell models suggests that pesticides cause a neurodegenerative process leading to Parkinson’s disease (PD). Human data are insufficient to support this claim for any specific pesticide, largely because of challenges in exposure assessment. The authors developed and validated an exposure assessment tool based on geographic information systems that integrated information from California Pesticide Use Reports and land-use maps to estimate historical exposure to agricultural pesticides in the residential environment. In 1998–2007, the authors enrolled 368 incident PD cases and 341 population controls from the Central Valley of California in a case-control study. They generated estimates for maneb and paraquat exposures incurred between 1974 and 1999. Exposure to both pesticides within 500 m of the home increased PD risk by 75% (95% confidence interval (CI): 1.13, 2.73). Persons aged ?60 years at the time of diagnosis were at much higher risk when exposed to either maneb or paraquat alone (odds ratio = 2.27, 95% CI: 0.91, 5.70) or to both pesticides in combination (odds ratio = 4.17, 95% CI: 1.15, 15.16) in 1974–1989. This study provides evidence that exposure to a combination of maneb and paraquat increases PD risk, particularly in younger subjects and/or when exposure occurs at younger ages.

Nota do EcoDebate: de acordo com o sítio Parkinson On Linea doença de Parkinson é uma afecção do sistema nervoso central que acomete principalmente o sistema motor. É uma das condições neurológicas mais freqüentes e sua causa permanece desconhecida. As estatísticas disponíveis revelam que a prevalência da doença de Parkinson na população é de 150 a 200 casos por 100.000 habitantes e a cada ano surgem 20 novos casos por 100.000 habitantes. Os sintomas motores mais comuns são: tremor, rigidez muscular, acinesia e alterações posturais. Entretanto, manifestações não motoras também podem ocorrer, tais como: comprometimento da memória, depressão, alterações do sono e distúrbios do sistema nervoso autônomo.

A doença de Parkinson é uma condição crônica. A evolução dos sintomas é usualmente lenta mas é variável em cada caso. A doença de Parkinson é a forma mais freqüente de parkinsonismo. O termo parkinsonismo refere-se a um grupo de doenças que podem ter várias causas e que apresentam em comum os sintomas descritos acima em combinações variáveis, associados ou não a outras manifestações neurológicas. A doença de Parkinson é também chamada de parkinsonismo primário porque é uma doença para a qual nenhuma causa conhecida foi identificada. Por outro lado, diz-se que um parkinsonismo é secundário naqueles casos em que uma causa pode ser identificada. Cerca de 75% de todas as formas de parkinsonismo correspondem à forma primária.”

[EcoDebate, 25/04/2009, com informações de Mark Wheeler, University of California – Los Angeles]

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