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NAFTA pode impedir o Canadá de banir agrotóxico

ácido 2,4 diclorofenóxiacético. Imagem da Wikipedia
ácido 2,4 diclorofenóxiacético. Imagem da Wikipedia

[Por Henrique Cortez, do EcoDebate] Os tratados de livre comércio, tal como o NAFTA, na verdade, são concebidos para favorecer aos interesses da economia dominante. O México já sentiu o ‘peso’ do NAFTA diversas vezes e agora, ao que parece, pode ser a vez do Canadá.

Há poucos meses a província de Quebec baniu o herbicida 2,4-D (ácido 2,4 diclorofenóxiacético) e, em razão disto, enfrenta um processo aberto pela Dow AgroSciences, com base no argumento que a proibição viola os princípios do NAFTA, uma vez que o herbicida é exportado, produzido e utilizado nos EUA sem restrições.

A província de Ontário decidiu seguir o mesmo caminho de Quebec e já anunciou que no dia 22/4, o Dia da Terra, também proibirá a utilização do 2,4-D. A Dow AgroSciences, preventivamente, já anunciou que também recorrerá à Câmara Arbitral do NAFTA.

Diversos grupos ambientalistas já se preparam para defender o direito do Canadá impor as suas próprias restrições ambientais e de saúde, independente dos interesses do tratado de livre comercio.

A principal preocupação vai muito além do que o caso isolado da proibição de um agrotóxico.

O Canadá possui uma legislação ambiental mais rigorosa do que os EUA e os grupos ambientais são particularmente ativos, com grande apoio da população. Esta mobilização social tem sido determinante para que o cuidado ambiental e de saúde seja crescente.

Um exemplo claro foi o banimento, no Canadá, de mamadeiras e embalagens com bisfenol-A (BPA), algo que não ocorre nos EUA.

Se a Dow AgroSciences, subsidiária da Dow Chemical Company, for bem sucedida em seu processo, poderá ocorrer uma ‘avalanche’ de processos contra a legislação ambiental e de saúde no Canadá, sempre que as restrições forem maiores do que as aplicáveis nos EUA.

E a mesma lógica poderá ser seguida em todos os tratados de livre comércio em que os EUA forem signatários.

E, neste sentido, pode ser mais um alerta a todos que acham que estes tratados são a ‘salvação da lavoura’.

[EcoDebate, 31/03/2009]

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3 thoughts on “NAFTA pode impedir o Canadá de banir agrotóxico

  • Olá, Henrique!
    A gente não pára de se espantar com a força os grandes interesses econômicos que movem o mundo, não é?
    Agora, com relação ao BPA, não há um projeto-de-lei para bani-lo nos EUA e os seis maiores fabricantes de mamadeiras não fizeram um acordo com as autoridades em que se compromentem a não vendê-las com BPA? Gostaria de que me esclarecesse isso.
    Abs,
    Maristela

  • Cara Maristela,

    Como você já apontou no seu Blog (MAMABlog) há um projeto na Câmara de Representantes para proibição do BPA em produtos infantis e diversos estados norte-americanos, como a Califórnia, possuem legislação restritiva à comercialização de produtos com BPA.

    É em relação aos estados que os fabricantes firmaram os acordos. Mas a razão maior dos acordos foram as grandes redes (Walmart, etc) que pararam de comprar por pressão dos consumidores.

    E os compromissos apenas se referem a produtos para crianças com menos de 3 anos, que é a menor fatia de produtos com BPA. No mais nada mudou porque a FDA e a EPA continuam afirmando a ‘segurança’ dos produtos.

    No entanto, continuam produzindo, exportando e comercializando normalmente.

    Neste caso, no Canadá, estão em jogo muitos agrotóxicos proibidos no Canadá e liberados nos EUA. O mesmo em relação ao BPA e aos ‘aditivos’ químicos nos alimentos (antibióticos, hormônios, etc).

    Será uma longa batalha.

    Um abraço, Henrique Cortez

  • Mário Leite de Oliveira

    Olá Henrique, tudo bem?
    Quanto ao agrotóxico acima, qual é a posição do Brasil, atualmente.
    Vc, saberia me dizer?

    * * *

    Caro Mário,

    O ácido 2,4 diclorofenóxiacético é um herbicida utilizado no Brasil, com comercialização autorizada.

    No caso dos EUA e do Canadá a situação é mais complicada porque ele é intensamente utilizado como herbicida de uso doméstico, em jardins residenciais, o que torna o seu risco muito maior.

    Uma boa fonte de consulta sobre este agrotóxico é a tese de mestrado “Efeitos da ingestão do ácido 2,4-diclorofenoxiacético sobre neurônios mioentéricos do duodeno de ratos (Rattus norvegicus)“, de Ana Paula Castello Pereira.

    Um abraço, Henrique

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