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Novo estudo questiona a produção de grãos para biocombustíveis, por Henrique Cortez

biocombustível não é alimento

A crescente produção de biocombustíveis a partir de grãos e outras culturas alimentares é uma questão a ser discutida tanto no campo da ética, como da sua eficiência energética.

[Ecodebate] No Brasil, sempre que alguém questiona os biocombustíveis, nas questões relativas ao seus aspectos sociais e ambientais, acaba tratado como alguém que comete crime de lesa-pátria. No entanto, esta é uma questão global e deve ser considerada a partir da compreensão de que terá impactos diferentes em diferentes países.

A partir desta compreensão de múltiplas culturas com impactos diversificados, pesquisadores da Cornell University, em New York, estudaram os impactos da conversão de culturas alimentares para produção de biocombustíveis.

Eles concluíram que todos os biocombustíveis possuem custos e impactos socioambientais, além de não garantirem resultados positivos na redução de combustíveis fósseis. Os resultados da pesquisa foram publicados na edição online da revista Human Ecology.

A primeira questão discutida no artigo é que, enquanto diversos países investem no desenvolvimento e na produção de biocombustíveis a partir de grãos, mais de 60% da população mundial continua insuficientemente abastecida de grãos e outros insumos alimentares, aumentando o risco de insegurança alimentar.

Os pesquisadores centraram as suas avaliações nos EUA, mas algumas das análises são válidas em termos globais. No caso dos EUA, mesmo com a expansão da produção de etanol de milho e das pesquisas para a produção do etanol celulósico, ainda assim, os EUA não possuem capacidade de produzir biomassa suficiente para substituir os combustíveis fósseis.

Em todo o planeta, a produção de biocombustíveis demanda cada vez mais áreas agrícolas, mais recursos hídricos, energia elétrica e combustíveis fósseis.

No caso desta pesquisa, os autores avaliaram o “retorno energético” das culturas, isto é, se a produção era positiva ou negativa em termos do uso de combustíveis fósseis.

No caso do etanol de milho o retorno energético foi negativo, com 46% de retorno. Ou seja a energia usada na sua produção era 54% fóssil.

Em outras culturas, por exemplo, os resultados foram 50% no switchgrass e 63% no biodiesel de soja. Isto sem falar de problemas ambientais típicos de qualquer monocultura intensiva, tal como poluição das águas por agrotóxicos, erosão do solo e poluição do ar.

Os autores também destacam a demanda de combustíveis fósseis para o transporte e distribuição de biocombustíveis.

No caso dos EUA, os autores destacam que o crescimento da produção de biocombustíveis aumenta o consumo de combustíveis fósseis, aumentando a dependência de energética.

Os autores concluem que produzir biocombustíveis a partir de culturas alimentares é ineficiente e ignora a necessidade de reduzir os impactos nos recursos naturais, Além disto, em diversos países, a produção de biocombustíveis aumenta o risco de insegurança alimentar, podendo ameaçar o sistema mundial de produção de alimentos, potencial estopim para novas crises alimentares globais.

O artigo “Food versus biofuels: environmental and economic costs“, publicado na Human Ecology, apenas está disponível para assinantes.

Abaixo transcrevemos o abstract:

Food Versus Biofuels: Environmental and Economic Costs
David Pimentel1 Contact Information, Alison Marklein1, Megan A. Toth1, Marissa N. Karpoff1, Gillian S. Paul1, Robert McCormack1, Joanna Kyriazis1 and Tim Krueger1
(1) Cornell University, Ithaca, NY, USA

Human Ecology, Published online: 29 January 2009

Abstract

The rapidly growing world population and rising consumption of biofuels intensify demands for both food and biofuels. This exaggerates food and fuel shortages. The use of food crops such as corn grain to produce ethanol raises major nutritional and ethical concerns. Nearly 60% of humans in the world are currently malnourished, so the need for grains and other basic foods is critical. Growing crops for fuel squanders land, water and energy resources vital for the production of food for human consumption. Using corn for ethanol increases the price of US beef, chicken, pork, eggs, breads, cereals, and milk more than 10% to 30%. In addition, Jacques Diouf, Director General of the UN Food and Agriculture Organization, reports that using food grains to produce biofuels is already causing food shortages for the poor of the world. Growing crops for biofuel not only ignores the need to reduce fossil energy and land use, but exacerbates the problem of malnourishment worldwide.

[Por Henrique Cortez, do EcoDebate, 02/02/2009]

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4 thoughts on “Novo estudo questiona a produção de grãos para biocombustíveis, por Henrique Cortez

  • henrique manso vieira

    José Lutzemberg mostrou na década de 80 que a castanheira (brazil nut) era mais interessante que a pecuária bovina em termos energéticos sem mencionar os aspectos de sutentabilidade ambiental… foi rotulado de “comunista”, louco. Ainda bem que os tempos mudaram e hoje pode-se ponderar, opinar, discutir mais livremente. Que vença a Ciência!

  • henrique manso vieira

    corrigindo: José Antônio Lutzenberger (1926-2002), criador da Fundação Gaia.

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