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Idosos tratados com vários remédios ao mesmo tempo podem ser vítimas de interação medicamentosa

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Mais da metade dos idosos toma ao menos cinco remédios ao mesmo tempo – Mais da metade dos idosos nos Estados Unidos toma cinco ou mais medicamentos diferentes ao mesmo tempo, aumentando o risco de interações medicamentosas potencialmente perigosas, de acordo com um estudo publicado em dezembro passado no “Jama” (jornal da associação médica americana).

Realizada pelos National Institutes of Health e pela Universidade de Chicago com 2.976 adultos com idades entre 57 e 85 anos, a pesquisa aponta que no mínimo 10% dessa população utiliza combinações de alto risco e que a maioria dos problemas ocorre com o uso concomitante de anticoagulantes vendidos sob prescrição com medicamentos de venda livre, como aspirina, suplementos, como gingko biloba, e remédios anti-inflamatórios. Por Iara Biderman, colaboração para a Folha de S.Paulo, 19/01/2009, com informações complementares do EcoDebate.

Todas essas substâncias são bastante indicadas para problemas de saúde que são comuns ao envelhecimento, como os cardiovasculares e reumáticos.

Especialistas brasileiros dizem que o quadro pode ser aplicado para a situação no Brasil e que pesquisas menores ou localizadas apontam na mesma direção. Maurício Wajngarten, diretor da cardiogeriatria do InCor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas de São Paulo, diz que “no banco de dados do setor de geriatria do InCor, verificamos que os pacientes tomam, em média, cinco a seis remédios diferentes”.

Para ele, individualmente os medicamentos podem ser excelentes e indicados para cada doença, mas, quando combinados, possibilitam inúmeras interações. “Tratar tudo ao mesmo tempo é arriscado. É preciso que o médico, junto com o paciente, priorize os tratamentos e se mantenha informado sobre as possíveis interações do medicamento que vai receitar.”

Risco hemorrágico

Um estudo feito em 2007 com 155 idosos internados no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, identificou uma média de quatro interações potencialmente arriscadas por paciente. O efeito mais observado das interações foi o aumento de risco de sangramento e hemorragia, em 36% dos casos. “Isso está relacionado com o uso de anticoagulantes”, de acordo com Juliana Locatelli, farmacêutica clínica da unidade de geriatria do Albert Einstein, que realizou o estudo.

Outro trabalho feito em 2007, na Santa Casa de São Paulo, mostrou que 41% dos idosos tomam remédios inadequados ou em doses excessivas para a faixa etária. O responsável pelo estudo, Milton Gorzoni, coordenador da geriatria da Santa Casa, diz que, no Brasil, a população idosa toma entre três e cinco remédios diferentes ao mesmo tempo, em média. “Cada remédio que se acrescenta ao paciente aumenta em 10% a chance de interações indesejáveis. Isso significa que o idoso tem entre 30% e 50% mais riscos de problemas relacionados aos remédios.”

Metabolização

O perigo também aumenta por características próprias do envelhecimento. “A metabolização das drogas é diferente no idoso. Geralmente, a eliminação das substâncias [dos medicamentos] é feita pelos rins, e o aumento da idade causa alterações na função renal”, diz Climeu Almada, geriatra do hospital Albert Einstein e professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

O grupo de maior risco, de acordo com Almada, é o de pessoas com mais de 85 anos de idade, de baixo peso, com seis ou mais doenças, que tomam 12 ou mais doses diárias de remédios e que já sofreram algum efeito adverso de medicamento anteriormente.

Para Luiz Roberto Ramos, professor de medicina preventiva e diretor do Centro do Envelhecimento da Unifesp, “as doenças causadas pelo uso de múltiplos medicamentos por idosos é um dos grandes problemas da saúde pública”.

Ramos lembra que, além das prescrições, a automedicação com remédios de venda livre e suplementos agrava o problema. É comum, segundo ele, o idoso ter de tomar um novo remédio para tratar efeitos causados por outro medicamentos, o que é chamado de iatrogenia –doença causada pelo tratamento.

“É muito mais frequente o especialista perguntar [ao idoso] “O que o senhor tem?”, e não “O que está tomando?”. Isso cria uma cascata medicamentosa, em que um remédio vai sendo acrescentado ao outro, aumentando a chance de complicações”, diz.

* Publicado na Folha Online, 19/01/2009 – 07h50

Nota do Ecodebate: o artigo “Use of Prescription and Over-the-counter Medications and Dietary Supplements Among Older Adults in the United States“, de Dima M. Qato; G. Caleb Alexander; Rena M. Conti; Michael Johnson; Phil Schumm; Stacy Tessler Lindau, publicado no JAMA, Vol. 300 No. 24, pp. 2829-2936, December 24/31, 2008, apenas está disponível para assinantes.

Abaixo transcrevemos o abstract:

Use of Prescription and Over-the-counter Medications and Dietary Supplements Among Older Adults in the United States

Dima M. Qato, PharmD, MPH; G. Caleb Alexander, MD, MS; Rena M. Conti, PhD; Michael Johnson, BA; Phil Schumm, MA; Stacy Tessler Lindau, MD, MAPP

JAMA. 2008;300(24):2867-2878.

Context
Despite concerns about drug safety, current information on older adults’ use of prescription and over-the-counter medications and dietary supplements is limited.

Objective
To estimate the prevalence and patterns of medication use among older adults (including concurrent use), and potential major drug-drug interactions.

Design, Setting, and Participants
Three thousand five community-residing individuals, aged 57 through 85 years, were drawn from a cross-sectional, nationally representative probability sample of the United States. In-home interviews, including medication logs, were administered between June 2005 and March 2006. Medication use was defined as prescription, over-the-counter, and dietary supplements used “on a regular schedule, like every day or every week.” Concurrent use was defined as the regular use of at least 2 medications.

Main Outcome Measure
Population estimates of the prevalence of medication use, concurrent use, and potential major drug-drug interactions, stratified by age group and gender.

Results
The unweighted survey response rate was 74.8% (weighted response rate, 75.5%). Eighty-one percent (95% confidence interval [CI], 79.4%-83.5%) used at least 1 prescription medication, 42% (95% CI, 39.7%-44.8%) used at least 1 over-the-counter medication, and 49% (95% CI, 46.2%-52.7%) used a dietary supplement. Twenty-nine percent (95% CI, 26.6%-30.6%) used at least 5 prescription medications concurrently; this was highest among men (37.1%; 95% CI, 31.7%-42.4%) and women (36.0%; 95% CI, 30.2%-41.9%) aged 75 to 85 years. Among prescription medication users, concurrent use of over-the-counter medications was 46% (95% CI, 43.4%-49.1%) and concurrent use of dietary supplements was 52% (95% CI, 48.8%-55.5%). Overall, 4% of individuals were potentially at risk of having a major drug-drug interaction; half of these involved the use of nonprescription medications. These regimens were most prevalent among men in the oldest age group (10%; 95% CI, 6.4%-13.7%) and nearly half involved anticoagulants. No contraindicated concurrent drug use was identified.

Conclusions
In this sample of community-dwelling older adults, prescription and nonprescription medications were commonly used together, with nearly 1 in 25 individuals potentially at risk for a major drug-drug interaction.

Author Affiliations: Department of Obstetrics and Gynecology (Drs Qato and Lindau), Section of General Internal Medicine, Department of Medicine (Drs Alexander and Conti), MacLean Center for Clinical Medical Ethics (Drs Alexander and Lindau), Center for Health and Social Sciences (Drs Alexander and Conti), Section of Pediatric Hematology/Oncology (Dr Conti), Department of Health Studies (Mssrs Johnson and Schumm), and Section of Geriatrics, Department of Medicine (Dr Lindau), University of Chicago, Chicago, Illinois; Chicago Core on Biomarkers in Population-based Research, NORC, and University of Chicago Center on Demography and Economics of Aging, Chicago (Drs Qato and Lindau); Department of Health Policy and Administration, University of Illinois at Chicago School of Public Health (Dr Qato); and Department of Pharmacy Practice, University of Illinois at Chicago School of Pharmacy (Dr Alexander).
JAMA. 2008;300(24):2867-2878.

[EcoDebate, 20/01/2009]

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