EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

COP 14 expõe divergências e embates entre ricos e pobres sobre mudanças climáticas

A parte ministerial da conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, que ocorre na Polônia, começa em clima de embate entre ricos e pobres. Os países industrializados, que deveriam ter acertado as novas metas de redução de emissões de gases-estufa para depois de 2012, estão longe de chegar a uma decisão. Outro impasse gira em torno ao acesso ao Fundo de Adaptação, o dinheiro necessário para que os mais pobres, e que são os que mais sofrem o impacto do aquecimento global, possam se ajustar ao fenômeno. Matéria de Daniela Chiaretti, de Poznan, no Valor Econômico, 11/12/2008.

O bloco dos países em desenvolvimento, reunidos no G-77 mais a China, quer que as novas metas de emissão para os países ricos sigam a recomendação do IPCC, o braço científico da ONU, e sejam algo entre 25% a 40% em 2020, sobre os níveis de 1990. Assim, acredita-se, a temperatura do planeta não subiria mais que 2°C no século.

Mas as nações industrializadas, que sequer conseguem cumprir o corte de 5% das emissões, meta que vigora agora pelo Protocolo de Kyoto, não se acertam com os novos números. A União Européia anuncia cortes de 20% em 2020, e é a proposta mais arrojada. O Canadá assinou Kyoto, mas é o único país a dizer claramente que não cumprirá as metas; suas emissões, ao invés de caírem, cresceram 14%. A maioria aguarda o que fará o nova governo de Barack Obama. Ele diz que pretende chegar a 2020 com os níveis de emissão de 1990. É um avanço para os EUA, mas está muito aquém do necessário.

“As nações ricas não estão estabelecendo novas metas [para si] e cobram ações dos países em desenvolvimento”, diz a ambientalista Tasneem Essop, da WWW-África do Sul. Ela diz que muito tem sido feito por estes países, que estão contribuindo para a solução do problema. A China, por exemplo, quase alcançou a meta de ter 10% de energias renováveis na sua matriz em 2010 e pode chegar a 20%. O plano nacional de mudanças climáticas da Índia prevê a retirada de 10 mil MW gerados em velhas termoelétricas a carvão em 2017.

“A idéia que as nações em desenvolvimento não estão contribuindo para a solução do problema não poderia estar mais longe da verdade”, disse Yvo de Boer, secretário-executivo da Convenção de Mudanças Climáticas. “O que eles dizem é que para ir adiante têm que ter financiamento, tecnologia e capacitação, e isso têm que vir dos [países] industrializados.”

Dificilmente esta pendência terá solução em Poznan. “Hoje, com a crise financeira, é difícil (…) pedir dinheiro para mudanças climáticas”, reconhece Boer.

Sobre a outra aresta que os ministros terão de aparar, o acesso ao Fundo de Adaptação, ele está otimismo. “O copo está 4/5 cheio.”

Adaptação é um termo amplo que define ações necessárias para os países enfrentarem as mudanças climáticas. Podem ser diques e barragens na Holanda ou abrigos em Bangladesh. O fundo foi acertado na conferência passada, em Bali, em 2007. Ele é financiado com 2% dos recursos provenientes dos projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, os MDL, um sistema pelo qual os países ricos, com obrigações de reduzir emissões, investem em projetos de tecnologia limpa em países em desenvolvimento, e ganham créditos para emitir carbono por isso.

Só que o fundo é muito tímido, tem hoje algo próximo a US$ 70 milhões e deveria, segundo algumas estimativas, ser de US$ 70 bilhões anuais para dar conta do recado. Quem administra o dinheiro é o GEF, um braço do Banco Mundial, que os países em desenvolvimento consideram burocrático e pouco ágil. É este um dos pontos polêmicos. A demanda dos pobres é ter acesso mais fácil ao dinheiro.

O financiamento e a transferência de tecnologia é ponto fundamental que praticamente não avançou no processo, diz Luiz Alberto Figueiredo Machado, o chefe dos negociadores brasileiros. Este assunto, certamente, só será definido em 2009, em Copenhague.

Outra pendência esconde uma forte briga de interesses sobre uma tecnologia que ainda engatinha e que interessa muito aos países produtores de petróleo e carvão – a chamada CCS (na sigla em inglês), Captura e Seqüestro de Carbono. A Arábia Saudita quer que os CCS se beneficiem dos créditos de carbono. O Brasil e outros países se opõem, pois temem que toda a verba desse crédito migre para países de matriz energética suja.

A jornalista viajou a Poznan com bolsa da Climate Change Media Partnership

[EcoDebate, 12/12/2008]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta que envie um e-mail para newsletter_ecodebate-subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.