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Cotistas na UNB são melhores em 27 cursos

Pesquisa da UnB mostra que desempenho é superior nas graduações de Humanas, mas inferior nas de Exatas

Os estudantes que entraram na Universidade de Brasília (UnB) pelo sistema de cotas, que reserva 20% das vagas do vestibular a candidatos negros como forma de promover a inclusão, obtiveram, em 27 cursos, notas mais altas que alunos que ingressaram pelo sistema universal.

O melhor desempenho foi registrado na graduação de Música, em que a média dos cotistas superou em 19% a dos demais alunos. A seguir, vem Matemática, com diferença de 15%; Artes Cênicas, 14%; Artes Plásticas, também 14%; Ciências da Computação, 13%; e licenciatura em Física, com 12%.

Em três cursos, Desenho Industrial, Letras/Espanhol e Pedagogia, o rendimento foi idêntico. Nos 31 cursos restantes, as notas foram inferiores. Os dados estão na dissertação de mestrado Efeitos da política de cotas na UnB: uma análise do rendimento e da evasão, da pedagoga Claudete Batista Cardoso, defendida na Faculdade de Educação sob orientação do professor Jacques Rocha Velloso.

ÁREAS – Apesar de os primeiros lugares reunirem cursos de diferentes áreas, uma avaliação global pelos três grandes grupos de graduação mostra que o desempenho dos afrodescendentes tende a ser mais alto nos cursos de Humanidades, semelhante nos de Ciências da Saúde, e mais baixo nas graduações de Exatas.

Segundo Claudete, é preciso analisar cada caso separadamente para encontrar as explicações. Em princípio, o bom desempenho acontece com mais destaque nos cursos de Humanas porque são as graduações em que muitos cotistas atingiriam notas suficientes para passar no vestibular, sem a reserva de vagas.

A pedagoga, não descarta, entretanto, que as notas sejam resultado da dedicação maior dos cotistas. “Levantamos a hipótese de que eles dão mais valor à vaga e se esforçam para mantê-las”, diz.

No que se refere aos cursos da área de Saúde, a explicação seria semelhante. “A seleção é difícil e quem consegue entrar é uma elite”, afirma. Em Medicina, Odontologia e Nutrição, que estão entre os mais disputados no vestibular, a diferença entre as notas no 1º semestre do curso foi de apenas 1%. Em Educação Física , também compreendida na área de Saúde, a diferença é de 2% e, em Farmácia, de 3%.

EXATAS – Ao mesmo tempo em que o estudo revela o bom desempenho em Humanidades e Saúde, mostra as dificuldades dos alunos que ingressaram pela reserva de vagas em acompanhar os colegas nos cursos de Exatas. Em Engenharia Civil , os cotistas tiveram notas 41% menores; em Engenharia Mecatrônica , 32%; em Engenharia Elétrica , 12%.

Para a pedagoga, o rendimento baixo pode ter sua origem na educação deficiente de disciplinas que envolvem cálculo durante o ensino médio, conhecimento fundamental para esses cursos. “A base fraca de raciocínio matemático faz falta na universidade, para os alunos desses cursos”, diz.

Como a proposta das cotas é estimular a entrada de negros e mantê-los na graduação, Claudete sugere ações que atuem para sanar esses problemas. “É preciso ver que dificuldades eles enfrentam e propor uma forma de acompanhá-los, por exemplo, com tutores, para que eles acompanhem os outros alunos”, afirma.

PERFIL – Em relação aos cursos, a pesquisadora percebeu que os cotistas buscam as graduações de menor prestígio social, considerando, dentro das três grandes áreas, aquelas menos concorridas e com menor nota de corte. A intenção, diz, seria ter mais chances de ingressar, mas a escolha por curso com maiores chances de aprovação não é necessariamente consciente.

Em 2006, 10,2% dos candidatos ao vestibular concorreram pelo sistema de cotas. Porém, segundo a divisão de status, os cotistas correspondem a 14,3% dos candidatos na graduação de baixo prestígio, e são apenas 6,9% nas de alto prestígio.

EVASÃO – O estudo também indica que os cotistas dão mais valor à vaga que conquistaram. No 2º semestre de 2006, quando o primeiro grupo de cotistas contava com dois anos e meio de UnB, o índice de evasão dos alunos negros era de 15,7%, enquanto entre os alunos do sistema universal atingia 17,5%. Já para a turma de afrodescendentes que ingressou no 2º semestre de 2005, portanto com um ano de faculdade, o índice de evasão foi de 9,7%, contra os 16,1% do sistema universal.

Os dados revelam mais um ponto a favor das cotas. Segundo a pesquisa, a reserva tem conseguido trazer mais negros para dentro da universidade.

Onde os cotistas se saem melhor
(notas em relação aos demais alunos)

* Música +19%
* Matemática +15%
* Artes Cênicas +14%
* Artes Plásticas +14%
* Ciências da Computação +13%
* Física (licenciatura) +12%

E onde se saem pior

* Engenharia Civil -41%
* Engenharia Mecatrônica -32%
* Engenharia Elétrica -12%
* Farmácia -3%
* Educação Física -2%

Claudete Batista Cardoso é mestre em Educação pela Universidade de Brasília (UnB), mesma instituição em que concluiu a graduação em Pedagogia.

CONTATO
Claudete Batista Cardoso pelo e-mail avallom@yahoo.com.br

Matéria de Fabiana Vasconcelos, da Secretaria de Comunicação da UnB, publicada pelo EcoDebate, 11/12/2008.

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One thought on “Cotistas na UNB são melhores em 27 cursos

  • Carolina Ferraz

    Boa Tarde a Todos!

    Recebi de uma pessoa muito querida o link desta reportagem e acho que não poderia me calar diante do conteúdo exposto acima. Alguns pontos me chamaram a atenção e gostaria aqui de exaltá-los. Em minha opinão, toda pesquisa é válida, porém há que se tomar certas precausões com as conclusões que são tiradas a partir dos dados obtidos. Qual a razão encontrada para a evasão dos alunos de maneira geral? Se falarmos em termos econômicos, as pessoas menos favorecidas geralmente buscam não parar de trabalhar enquanto estudam, correto? Então, se a cota de negros se justifica pelo caráter econômico, significa que esta não é razão principal da evasão. A conclusão encontrada pela autora para justificar a criação de cotas é a força de vontade. Porém, a força de vontade é intríseca à pessoa, ela é individual. Este sentimento não varia pela cor da pele, varia pela consciência de cada um. Caso esteja enganada, por favor, me corrijam, porém não consigo enxergar uma relação entre força de vontade e cor de pele.

    Outro ponto do texo que me chamou a atenção foi a justificativa encontrada para as diferenças nas áreas de exatas, humanas e biológicas. Se a deficiência encontrada na área de exatas pudesse realmente ser explicada pela falta de um bom ensino de matemática nos ensinos médio e fundamental, por que então MATEMÁTICA estaria em destaque nos cursos nos quais eles se saem melhor, perdendo apenas para música? Ainda nos cursos em que os cotistas se saem melhor temos: ciências da computação e física, ambos requerem forte domínio matemático.

    Esta estratégia de cotas não passa de artifício preconceituoso sob a justificativa de “inclusão social”. Ora, se eles precisam de uma “ajudinha” para chegar à faculdade, esta o desqualifica como uma pessoa competente. Ele certamente terá mais orgulho em pensar que passou por mérito e não um “empurrãzinho”. A própria autora constata que muitos alunos, especialmente da área de humanas, nem sequer precisariam das cotas para passar no vestibular. Se eles alcançaram este mérito, porque tirar deles este gostinho de vitória? Não consigo ver pontos a favor deste sistema de cotas. Se a justificativa é que os ensinos fundamental e médio públicos são ruins, por que não fazer como algumas universidades que dão bônus aos alunos que se formaram em colégio público? Pelo menos é uma justificativa mais plausível e, aí sim, teríamos uma verdadeira discussão interessante…

    Atenciosamente,

    Carolina

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