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Mudanças Climáticas: Estudo indica que o Nordeste do Brasil terá redução de 11,4% do PIB até 2050

As mudanças climáticas terão efeito sobre a economia brasileira, especialmente a do Nordeste, de acordo com o estudo Migrações e Saúde: Cenários para o Nordeste Brasileiro- 2000/2050. O estudo foi elaborado para a Embaixada Britânica pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Esse efeito, medido ano após ano, sinaliza que o Produto Interno Bruto (PIB) do Nordeste vai cair 11,4% até 2050, como resultado das variações do clima. O PIB é a soma das riquezas produzidas no país. “Ano após ano, até 2050, o efeito das mudanças climáticas, por meio do choque no setor agropecuário, seria uma queda de 11,4% do PIB”, afirmou à Agência Brasil o professor Alisson Barbieri, coordenador da pesquisa pelo Cedeplar/UFMG.

De acordo com o estudo, essa perda equivaleria a dois anos de crescimento econômico da região, com base no desempenho registrado entre 2000 e 2005.

A pesquisa mostra que a redução que as mudanças climáticas tendem a provocar na disponibilidade de terras agricultáveis no Nordeste será mais drástica nos estados do Ceará (-79,6%) e Piauí (-70,1%), seguidos da Paraíba (-66,6%) e de Pernambuco (-64,9%). Barbieri esclareceu que no caso do Ceará e Piauí deve ocorrer limitação das chamadas “terras aptas” para os principais tipos de cultivo na região nordestina, conforme denominam os técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que participaram do trabalho.

Em termos de PIB, o estudo revela que as maiores perdas serão registradas em Pernambuco (-18,6%), na Paraíba (-17,7%), no Piauí (-17,5%) e Ceará (-16,4%). Barbieri disse que a metodologia adotada pelos pesquisadores permitiu captar o efeito de uma variação do PIB agrícola e sua repercussão sobre todos os outros setores agrícolas.

Em razão disso, os setores que poderão ser mais afetados são os de serviços e indústria, principalmente aquela voltada para o processamento de alimentos, mais vinculada à agricultura. “Esses estados apresentam uma articulação forte com o setor agrícola. Então, haveria o que os economistas chamam de encadeamento entre os choques traçados para o setor agrícola e a economia como um todo”.

O professor da UFMG explicou que, em contrapartida, o estado de Sergipe deve ser o menos atingido pelos choques climáticos. A projeção é de que até 2050 o PIB estadual caia apenas 3,6%. “No caso de Sergipe, haveria uma variação menor em termos de terras inaptas para a agricultura em função das mudanças climáticas. Isso quer dizer que os efeitos climáticos sobre Sergipe seriam menos intensos quanto à redução da aptidão das terras”. O estudo prevê que o estado perderia apenas 5,3% de terras agricultáveis.

Choques climáticos aumentam perspectiva de migrações no Nordeste até 2050

O coordenador da pesquisa no Cedeplar/UFMG, Alisson Barbieri, explicou que, em um cenário sem mudanças climáticas, a volta de migrantes para suas regiões de origem, principalmente nordestinos e mineiros residentes em São Paulo, tende a se manter. Esse processo vem sendo observado nos últimos 15 a 20 anos. Barbieri lembrou que muitos mineiros e nordestinos ainda deixam seus estados em busca de melhores condições de vida, sobretudo em São Paulo.

No caso das mudanças climáticas, porém, Barbieri afirmou que poderia haver reversão dessa tendência de volta à terra natal. “Em função da redução da renda e do nível de emprego em várias áreas do Nordeste devido às mudanças climáticas, poderia acontecer uma saída de parte dessa população do Nordeste para outras regiões do país que mantenham ou, eventualmente, aumentem o seu dinamismo econômico em função das mudanças climáticas”.

Segundo o professor, o efeito das mudanças climáticas no Nordeste como um todo, que seria a região mais afetada pelas alterações do clima no país, “poderia levar a um processo de expulsão de população do Nordeste”. Ele chamou a atenção, contudo, para o fato de que esse cenário considera as mudanças climáticas sem a adoção de mecanismos de adaptação para a população. Para reverter essa tendência, teriam de ser desenhadas políticas que contribuíssem para manter a população na região e garantir sua subsistência.

Uma das hipóteses levantadas pelo estudo é a ampliação das transferências governamentais de renda, como o Bolsa Família, por exemplo, como instrumento para suavizar os impactos das mudanças do clima sobre a economia do Nordeste.

Barbieri destacou que ao traçar esse cenário de aumento dos fluxos migratórios até 2050, a idéia do estudo “é levantar o debate sobre que tipo de mudanças ou adaptações seriam necessárias para que não chegássemos a isso”. Ele informou que uma alternativa para manter o nível de renda e as pessoas em suas regiões de origem seria uma atuação mais forte do estado em termos de programas de transferência de renda. “Obviamente que a capacidade fiscal do estado é limitada nesse aspecto”, observou.

Para ele, alternativas mais eficazes poderiam ser, por exemplo, a criação de oportunidades no setor de serviços e na indústria, além de investimentos em tecnologia agrícola, para criar espécies mais resistentes às variações climáticas e adaptadas às alterações do solo.

Matéria de Alana Gandra, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 27/11/2008.

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