EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

Os Projetos de Desenvolvimento Sustentáveis (PDS), idealizados por Dorothy Stang, provam que sustentabilidade é possível

A missionária norte-americana Jane Dwyer, que desenvolve trabalho em Anapu, durante entrevista Foto: Antônio Cruz/ABr
A missionária norte-americana Jane Dwyer, que desenvolve trabalho em Anapu, durante entrevista Foto: Antônio Cruz/ABr

Os Projetos de Desenvolvimento Sustentáveis (PDS), idealizados por Dorothy Stang, são exemplo de que é possível obter renda da floresta amazônica preservando a mata. A afirmação é da também missionária americana Jane Dnyer, que está em Anapu (PA) há 12 anos e mantém o trabalho na região desde o assassinato de irmã Dorothy, em 2005.

Para irmã Jane, se os governos local, estadual e federal investirem em programas semelhantes aos PDS seria possível alimentar a população, preservar o meio ambiente e oferecer uma fonte de renda aos agricultores de Anapu.

“Para preservar a mata a agricultura familiar precisa de máquina. O povo quer cumprir o fogo zero, mas sem equipamento não há condição de fazer isso”.

Ela afirma que, sem fiscalização, até mesmo os projetos de manejo não são respeitados na região.

“Tudo aqui é ilegal. Se os madeireiros atuam legalmente, porque eles esperam até a noite para vir até a cidade. A gente vive nessas estradas e encontramos os caminhões esperando a noite chegar. Já criaram caminhos alternativos para não passar pela cidade. E a mata continua caindo”.

Nos PDS, argumenta a religiosa, os agricultores são orientados a utilizar a floresta de forma sustentável. Nessas áreas é possível, inclusive, explorar economicamente a extração de madeira, como explica a missionária.

“O único local onde há verdadeiramente um programa de manejo é no PDS Virola Jaobá, que é um manejo comunitário”, afirmou a religiosa, explicando que no local cada árvore retirada recebe uma placa de identificação de metal.

Com essa marca, acrescentou irmã Jane, a tora de madeira pode ser identificada e pode-se encontrar o tronco na floresta. “O que sai tem placa e o que fica tem placa. O móvel que for feito daquela madeira vai receber a mesma marca de identificação”, exemplificou.

O problema, para ela, é a ilegalidade. “Nosso povo, em vários travessões, está com medo do fundo dos seus lotes, porque as madeireiras entram e os agricultores nem sabem. O problema é a ilegalidade e a responsabilidade”, disse.

A pequena casa de madeira onde mora em Anapu está sempre de portas abertas. A única medida de segurança é um pedaço de arame que prende o velho portão de madeira. Perguntada se tem medo de que lhe façam mal, irmã Jane diz que o perigo que corre é o mesmo de todos no município.

“A gente vive em Anapu e tem um relacionamento com o povo daqui. O que o povo de Anapu é sujeito, nós também somos. Então, se há problema de segurança o povo também está passando por ele e não saímos enquanto não houver segurança”, diz.

Ela conta que, mesmo depois do assassinato de Dorothy, continua indo em todos os locais no município. “Alguns até chamam a gente de Dorothy”, brinca.

“Sozinho não ando mais. Antes andava, mas vamos a todas as estradas do município. Hoje acho difícil alguém pegar uma bala e matar a gente. Já criou problema demais para eles. Se quiserem acabar com a gente, deve ser por um ‘acidente’. Todos nós sabemos [dos riscos] e fazemos o possível para evitar, mas ninguém pode evitar tudo”. Irmã Jane disse que nunca pensou em deixar Anapu.

Matéria de Ivan Richard, da Agência Brasil, publicada no EcoDebate, 20/11/2008.

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta que envie um e-mail para newsletter_ecodebate-subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.