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Alteração climática na Amazônia pode afetar Europa, diz Inpe

Desmatamento na Amazônia, em foto de arquivo MMA
Desmatamento na Amazônia, em foto de arquivo MMA

O volume de chuvas na Amazônia poderá diminuir até 40% nas próximas três décadas, caso seja mantido o atual ritmo de desmatamento. Isso poderá gerar alterações climáticas no mundo todo, com efeitos em países da Europa, disse Maria Assunção Dias, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Em declarações à Agência Lusa, a coordenadora geral do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Inpe, afirma que o “cenário é preocupante”, devido à quantidade da área já destruída.

Dias participa, nesta semana, da conferência internacional “Amazônia em Perspectiva: Ciência Integrada para um Futuro Sustentável”, em Manaus, capital amazonense.

Até 2006, aproximadamente 17% da floresta foi desmatada. O Inpe estima que a taxa projetada de desmatamento da Amazônia Legal (região composta por nove estados brasileiros) no período entre 2006 e 2007 tenha sido de quase 12 mil quilômetros quadrados, a partir de dados obtidos por imagens de satélite.

Cerca de 85% do total de 6,5 milhões de quilômetros quadrados fica no território brasileiro, que ocupa 60% da área do Brasil.

“O volume das chuvas pode diminuir cerca de 30% a 40% em 20 ou 30 anos se o ritmo de desmatamento continuar”, disse Maria Assunção Dias.

A especialista afirmou que o impacto no regime das chuvas pode trazer mudanças em outros continentes.

“O efeito desta alteração pode dispersar-se localmente, mas tem um potencial para afetar o clima global. A chuva provoca ondas na atmosfera e na medida que muda o ritmo das chuvas, isto pode atingir a América do Norte, a Europa ou a Ásia com efeitos variados”, frisou.

Europa

Segundo Dias, “existem modelos que projetam o efeito na Europa indicando invernos mais rigorosos”. No entanto, avisou, isto ainda é uma projeção, não havendo certeza do que de fato acontecerá.

“Estamos imaginando como vai ser e projetando previsões. Todos os modelos indicam que [o clima] vai alterar-se de alguma forma”, afirmou.

A coordenadora do Inpe explicou que, para reverter o quadro, o ideal seria reduzir a “zero” a destruição, acrescentando que a retirada da madeira ilegal é o “principal problema para o desmatamento”.

A tendência, ao longo dos anos, é ocorrer o processo de savanização da floresta amazônica: “Sabemos que vai haver a transição da floresta para a savana, principalmente na parte sul e leste da floresta”, disse.

Sustentabilidade

Um dos principais desafios é promover o uso sustentável dos recursos naturais.

“No que se refere a políticas públicas, é usar os serviços da floresta sem a destruir, como a extração de frutas, e não de forma destrutiva como tem sido feito”, especificou.

De acordo com a especialista, ainda há um grande caminho a percorrer na área das pesquisas para compreender os limites da Amazônia: “Ainda precisamos entender melhor como a floresta se adapta a condições extremas. A floresta amazônica é bastante resistente ao fogo e à seca, ela é extremamente vasta, o nosso conhecimento está gradualmente percebendo que não podemos generalizar como uma coisa só”, declarou.

“O ponto principal é conter o desmatamento e como a influência humana pode atuar para isso”, acrescentou.

Matéria da Agência Lusa, 19/11/2008, publicada no EcoDebate, 20/11/2008

[EcoDebate, 20/11/2008]

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