EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

Redução de chuvas na Amazônia intensificará a seca no Nordeste

Físico do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) informou, em Manaus, que fenômeno na maior floresta tropical do mundo vai provocar a intensificação da seca nos Estados nordestinos

A redução das chuvas na Amazônia, em decorrência do aquecimento global, intensificará a seca no Nordeste. É que a maior floresta tropical do mundo é uma das fontes de umidade do Semi-Árido, explica o físico do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Antônio Ocimar Manzi, que participou do Fórum Latino-Americano Amazônia: sustentabilidade e imprensa, realizado de segunda a quarta-feira, nesta capital. Por Verônica Falcão, do Jornal do Commercio, PE, 09/11/2008.

“As projeções apontam estiagem prolongada no Norte do Brasil”, revela o cientista. “Hoje o período seco, caracterizado por chuvas inferiores a 100 milímetros por mês, dura quatro meses, em média. Com o aquecimento, deve se estender para de cinco a seis meses.” A diminuição da pluviosidade, na Amazônia, vai variar de 5% a 40%, informa Manzi, coordenador do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA, na sigla em inglês).

O pesquisador explica que a Amazônia é um grande importador de umidade. “Recebe muito mais umidade do oceano do que exporta para outras regiões. É por isso que chove tanto na Amazônia.” O desmatamento, no entanto, influencia nesse sistema. Isso porque, sem floresta, há menos evaporação e, conseqüentemente, menos transporte de umidade.

Segundo Manzi, há também simulações de desmatamento que dão como resultado aumento no transporte de umidade. “Isso é muito complexo mas quase todos os modelos mostram uma diminuição muito grande de chuvas na parte central a leste da Amazônia e um aumento do regime de chuvas mais para oeste da Amazônia. E aí você até poderia ter um transporte maior de umidade, mas esse transporte seria mais para Oeste. É como se umidade do Atlântico passasse direto para o Oeste da Amazônia.

O transporte de umidade, explica o físico, ocorre nos três primeiros quilômetros. “O que acontece é que a floresta forma um freio grande ao vento, ela é muito rugosa. Então, quando desmata e coloca tudo pastagem, diminui essa rugosidade, esse freio. Com isso, os ventos se aceleram e como vêm de um oceano muito quente, aumentam o transporte de umidade.”

Na opinião do pesquisador, já é certo que o desmatamento da Amazônia resultará em mudanças no regime de chuva. “Em algumas regiões deve chover mais, em outras talvez menos. Então tem mudanças. E essas mudanças podem eventualmente beneficiar alguma região, mas certamente não serão benéficas para todas”, adverte.

“Se você olha uma imagem de satélite vê que as regiões desmatadas estão cheias de nuvenzinhas, e as vezes as áreas com floresta têm muito menos. Uma parcela dessas nuvens pode se transformar em nuvens de chuva, mas nesse período atual, a condição é mais de ter movimentos de grande escala descendentes sobre a região, então isso dificulta mesmo que tenha vapor aqui embaixo, atrapalhando a formação de nuvens”, explica.

Manzi lembra que o el niño, associado às secas no Nordeste, também influencia o clima na Amazônia. “Quando tem um el niño forte, quase sempre há secas no Norte e Nordeste e boa parte da Amazônia.”

[EcoDebate, 11/11/2008]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta que envie um e-mail para newsletter_ecodebate-subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.