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Notícia

Crise da água estimula a exploração dos aqüíferos

[Crisis of water encourages the exploitation of aquifers]

Cerca de um quarto dos países do mundo enfrentam hoje problemas de abastecimento de água. Mesmo no Brasil, que tem uma das maiores reservas de água doce do planeta, a escassez desse recurso é sentida em vários lugares.

Rios subterrâneos contra a crise da água : Uma das soluções propostas é levar as águas de reservatórios naturais subterrâneos para as áreas necessitadas. Mas, ainda assim, é polêmico afirmar que a água de boa qualidade nunca vá acabar: mau uso e contaminação dos reservatórios são ameaças que devem ser consideradas. Por Celso Dal Ré Carneiro, Heraldo Sampaio Campos e José Luiz Galvão de Mendonça, no Jornal do Brasil, [22:14] – 01/11/2008

Ampliar o conhecimento sobre os recursos hídricos e promover a educação ambiental são formas de proteger esta que talvez seja, para o ser humano, a mais importante riqueza natural.

Reservatórios naturais de águas subterrâneas são chamados de aqüíferos. Apesar de popular, a noção de que a água dos aqüíferos ‘corre’ como um rio dentro da terra é incorreta. Essa água, na verdade, se encontra acumulada em diferentes tipos de rochas permeáveis ou semipermeáveis.

A qualidade e a boa gestão dos aqüíferos são fatores relevantes – águas contaminadas por substâncias químicas ou microrganismos podem provocar ou transmitir doenças (cólera, esquistossomose etc.) e trazer prejuízos aos ambientes naturais onde circulam.

Além disso, o desperdício e o mau uso desses reservatórios podem levar ao seu esgotamento. Essa preocupação levou o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) a baixar, em abril deste ano, uma resolução que trata da classificação das águas subterrâneas e de seu uso seguro.

Essa resolução determina, por exemplo, a criação de ‘áreas de proteção de aqüíferos’.

Consumo e desperdício

A água circulante, formada pelas nuvens, pela chuva e por rios e lagos, é continuamente renovada.

Em princípio, portanto, a quantidade total de água disponível não diminui. Por que, então o ‘precioso líquido’ está se tornando escasso?

A explicação para a crise, segundo muitos estudiosos, está no aumento da população humana, em práticas ambientalmente inadequadas e no estilo de vida atual.

Embora a tecnologia tenha expandido a capacidade humana de captar água para consumo, a disponibilidade relativa tornou-se crítica devido a vários fatores: o aumento da população mundial, que impõe uma crescente ocupação das terras, afetando a qualidade de muitos mananciais; os padrões de consumo excessivo e o lançamento de resíduos em águas correntes, que contaminam as reservas e dificultam seu aproveitamento, são alguns deles.

Nas sociedades desenvolvidas, a demanda total por água cresceu seis vezes no século 20. Segundo estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU), cada pessoa precisa, em média, de cerca de 110 litros de água por dia para atender às necessidades de alimentação e higiene.

No entanto, um norte-americano consome mais de 500 litros de água diariamente e, em algumas regiões do Brasil, esse consumo chega a mais de 200 litros.

Esses excessos estão em parte relacionados ao hábito do desperdício, como escovar os dentes com a torneira aberta ou lavar calçadas com mangueiras. Além disso, agricultura e indústria demandam grandes quantidades de água: a produção de 1 kg de frango, por exemplo, consome 2 mil litros de água.

Problemas que afetam as águas superficiais têm levado, no Brasil, a propostas de uso das reservas subterrâneas para garantir o abastecimento de grandes cidades.

Há, por exemplo, a proposta de usar as águas do aqüífero Guarani para abastecer São Paulo. Com 1,2 milhão de km2, esse aqüífero se estende do Centro-oeste e Sudeste do Brasil ao Sul e até regiões no Paraguai, na Argentina e no Uruguai. Sua reserva de água, estimada em

45 mil km3, é suficiente para abastecer 150 milhões de pessoas durante 2,5 mil anos.

O reservatório, alvo da atenção de organismos nacionais e internacionais, é visto como o ‘salvador da pátria’ nesse caso. Porém, qualquer intervenção deve ser amplamente discutida e apoiada em sólida base científica.

O principal ponto a ser considerado é a ‘recarga’ do aqüífero. Essa ‘recarga’ depende das taxas de infiltração da água no solo, do regime de chuvas na região e da vegetação.

Nas cidades, a impermeabilização do solo por ruas e construções exige soluções artificiais para aumentar a recarga: algumas cidades modernas têm quarteirões inteiros com ‘bacias de espera’ para captar água da chuva. E a recarga de aqüíferos é considerada até no projeto de edifícios e rodovias ultramodernos.

A água é um bem público essencial para a saúde humana e o acesso a ela é um direito da população. Também é preciso considerar a importância estratégico-militar dos recursos hídricos, pois disputas em torno da água podem motivar guerras, como ocorre, por exemplo, no Oriente Médio.

A proteção é uma preocupação não menos importante, já que um aqüífero contaminado estará, na prática, condenado. O Brasil, tendo mais de um décimo da água doce do mundo, não pode permitir que a gestão inadequada e o desperdício gerem problemas desse tipo.

[EcoDebate, 03/11/2008]

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