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IPCC alerta que crise econômica afetará metas globais de redução de emissões

[IPCC warns that economic crisis will affect overall targets for reducing emissions]

emissões de CO2

A crise financeira e o risco de recessão mundial ameaçam o consenso político em torno de um acordo mundial para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, que deve ser fechado na Conferência Mundial sobre o Clima, em Copenhague, em 2009. A meta sugerida pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) é de 80% até o ano de 2015. O alerta dado ontem é de cientistas do IPCC, reunidos em Brasília. As metas podem virar poeira se ocorrer uma forte desaceleração do crescimento, especialmente entre as grandes potências. Por Leila Suwwan, no O Globo, 30/10/2008.

— O compromisso requer viabilidade e sustentabilidade. Ele tem que ser atrativo em momentos de recessão e de crescimento, precisa ser uma solução de mercado. Mas com a crise financeira, as lideranças políticas terão outras prioridades.

Sabemos historicamente que em períodos de recessão, o meio ambiente sofre porque pensamos de forma mais imediata — disse Martin Parry, professor do Imperial College de Londres e membro do IPCC.

Posição americana vai ser crucial para evitar fracasso De acordo com a missão do IPCC que está no Brasil, a proposta de diminuição de 80% das emissões em dez anos é o mínimo necessário para evitar o aquecimento global acima de 2 graus Celsius neste século.

Acima disso, as análises de impacto prevêem danos ambientais, econômicos e sociais irreversíveis.

O posicionamento dos Estados Unidos, os maiores emissores mundiais de gases do efeito estufa, será crucial para o consenso. O democrata Barack Obama e o republicano John McCain declararam compromisso público para resolver a questão climática. Mas uma recessão econômica pode dificultar a ação.

— A meta de 80% pode ser alcançada, mas os Estados Unidos terão papel-chave nisso. Se as lideranças americanas ficarem obcecadas com objetivos econômicos de curto-prazo e deixarem de lado o meio ambiente, então estamos perdidos — afirmou Parry, que esteve em Brasília para reuniões no IPEA e no Congresso Nacional.

O pesquisador e ganhador do Prêmio Nobel de Química Paul J.

Crutzen chegou a afirmar recentemente que, apesar desse impacto negativo, a desaceleração econômica também poderia ter o efeito de reduzir à força as emissões de gás carbônico com a economia de energia e a queda na queima de combustíveis fósseis.

Outro integrante do IPCC, o pesquisador Carlos Nobre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), avalia que o país está em posição favorável para tomar a dianteira na meta de redução. Segundo ele, 55% das emissões brasileiras se devem ao desmatamento e queimadas e o valor da atividade final representa apenas 1% do PIB do país. E a redução do desmatamento no Brasil nos últimos três anos (até 2007) poderia ser traduzida em uma economia de 220 toneladas de emissão de carbono, avaliados hipoteticamente em US$ 2,2 bilhões no potencial mercado de emissões.

Mas as previsões de impacto econômico no Brasil com a aumento da temperatura média de 2 a 4 graus Celsius — em caso de meta de redução de emissões de apenas 50% em 20 a 30 anos— seriam desastrosas, segundo Nobre.

— Na agricultura, sentiremos os impactos mais fortes — disse o pesquisador brasileiro. — Em 50 anos, estaremos importando café da Argentina, e Santa Catarina não vai mais produzir maçã. O Cerrado pode ficar concentrado apenas no sul do Mato Grosso do Sul.

[EcoDebate, 01/11/2008]

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