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Notícia

Um terço da captura mundial de peixe é desperdiçado na produção de ração animal

[One-third of the world’s fish catch is wasted in the production of animal feed]


Foto Greenpeace

Rações preparadas a partir de peixes representam 37% (31,5 milhões de toneladas) do total de peixes retirados dos oceanos a cada ano e 90 % das capturas transformam-se em farinha e óleo de peixe. Em 2002, 46% de farinha de peixe e óleo de peixe foram utilizadas como alimento para a aqüicultura (piscicultura), 24% para alimentar porcos e 22% para a alimentação de aves.

É o que demonstra um novo estudo alarmante, que será publicado em novembro na revisão anual do Annual Review of Environment and Resources, documentando que um terço das capturas mundiais de peixes, marinhos e fluviais, é destinado à alimentação de peixes, porcos e aves, desperdiçando um precioso recurso alimentar para seres humanos e menosprezando a grave crise de sobrepesca nos oceanos. Por Henrique Cortez, do EcoDebate.

Os principais autores do estudo, Dr. Jacqueline Alder e Dr. Daniel Pauly, destacam que outros alimentos podem ser usados para alimentação animal, permitindo que esta “ração de peixe” seja destinada ao mercado para consumo humano, permitindo uma oferta em maior escala.

“Ração de peixe” inclui anchova, sardinha, escamudo e de outras pequenas e médias espécies de peixes, que, por sua vez, são o principal alimento do oceano para os mamíferos marinhos, aves marinhas e várias espécies de grandes peixes.

Estes peixes, predominantemente utilizados na alimentação animal, são altamente nutritivos e adequados para consumo humano.

“Temos de parar de usar tantos pequenos peixes oceânicos para alimentar peixes e outros animais”, afirmou Alder. “Esses pequenos e saborosos peixes poderiam alimentar as pessoas. A sociedade deveria exigir que pare o desperdício desses peixes com a cultura peixes, porcos e aves.”

Embora alimentos derivados de soja e outras culturas estejam disponíveis, para a produção de rações, as farinhas e óleos de peixe são populares pela facilidade de captura em grandes números, e portanto, são relativamente baratas.

Intitulado “Forage Fish: From Ecosystems to Markets”, o estudo é fruto de um período de nove anos do Sea Around Us Project, uma parceria entre a University of British Columbia em Vancouver e The Pew Charitable Trusts. O estudo foi financiado principalmente pelo Pew Institute for Ocean Science, que está agora em transição para o Institute for Ocean Conservation Science da Stony Brook University

O estudo indica que a pesca em grande escala para a produção de ração animal pode ser um dos fatores determinantes da sobrepesca, colocando toda a cadeia alimentar dos oceanos em risco. O consumo humano poderia ser atendido com quantidades menores de captura.

Suínos e aves, em todo o mundo, consomem mais do dobro de alimentos de origem pesqueira do que o comido pelos consumidores japoneses e seis vezes a quantidade consumida pelos EUA.

Apesar desta grande pesca em grande escala, são poucos os planos de gestão, criados para orientar a pesca sustentável desses peixes, e pouco se sabe sobre o papel da produção da ração de peixes no ecossistema marinho e nos estoques de pesca. O mais intenso uso comercial destes peixes tende a continuar sendo destinado para a alimentação animal, mas também há uma demanda crescente por óleo de peixe para suplementos alimentares para consumo humano.

Em algumas áreas do mundo, especialmente os países em desenvolvimento, quase todos os peixes pequenos são utilizados como alimento, mas a demanda para alimentação animal, nos países desenvolvidos, tende a desviar partes crescentes destes estoques.

“A utilização da ração de peixes para criação animal concorre diretamente com o consumo humano em algumas áreas do mundo”, observam os autores. A pesca excessiva também pode ameaçar as populações de aves e mamíferos marinhos, pela redução do alimento disponível.

“Temos de encontrar uma maneira melhor de gerenciar a pesca antes de nos causar danos irreversíveis ao meio ambiente dos oceanos, que dependem de peixes como fonte de alimento”, disse Joshua Reichert, diretor do Pew Environment Group.

“Os seres humanos não são o único, nem necessariamente, o mais importante dos consumidores desses peixes. Seja qual as pessoas a destinação dos recursos retirados dos mares, eles devem ser cuidadosamente calibrados para garantir que os peixes serão suficientes para sustentar outras populações de peixes, aves e mamíferos marinhos, porque todos desempenham um papel importante no funcionamento saudável dos oceanos do mundo.”

Annual Review of Environment and Resources

Forage Fish: From Ecosystems to Markets
Jacqueline Alder, Brooke Campbell, Vasiliki Karpouzi, Kristin Kaschner, Daniel Pauly
Annual Review of Environment and Resources, Vol. 33: 153-166 (Volume publication date November 2008)

Fisheries targeting small-to-medium pelagic, so-called forage fish, impact on human food security and marine ecosystems. Because their operations are shrouded by the myth that forage fish are unsuitable for human consumption, the role of these fisheries in intensive food production is not well understood or appreciated. Thus, although they account for over 30% of global landings of marine fish annually, our knowledge of how these levels of removal impact on marine ecosystems is limited. Nevertheless, there is considerable scope for policy makers to change the current management of these fisheries and to enhance their contribution to food security and economic development. Industry and consumers also have an important role in finding the balance between these fisheries contributing to human food security and poverty alleviation on the one hand, and sustaining intensive animal food production systems, especially aquaculture, on the other.

Para acessar o texto integral do artigo “Forage Fish: From Ecosystems to Markets” clique aqui

[EcoDebate, 31/10/2008]

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