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Artigo

Matando a vaca do leite de ouro! artigo de Ana Echevenguá

[Killing the gold milk cow’s! article by Ana Echevenguá]

Não precisa ser herói Para lutar pela terra Por que quando a fome dói Qualquer homem entra em guerra. É preciso ter cuidado Para evitar essa luta Pois cada pai é um soldado Quando é o pão que se disputa”. Dante Ramon Ledesma, A Vitória Do Trigo

[EcoDebate] Quarta-feira, 29 de outubro de 2008. Chove forte no extremo oeste de SC, aonde está a nossa maior bacia leiteira*. Mesmo assim, os produtores de leite estão, desde as 4hs da madrugada, promovendo, uma paralisação em frente ao prédio da Laticínios Tirol, no Parque Industrial de São José do Cedro. Colocaram um trator nos portões de entrada da Tirol e alguns veículos menores para impedir a entrega do leite. A polícia está acompanhando a manifestação que é pacífica.

Embora haja uma manifestação programada para o próximo dia 06 de novembro – a “Vitória do Leite”, com a participação dos produtores de SC e RS, da FETAESC, dos sindicatos rurais da região e da classe empresarial, o desespero falou mais alto e alguns decidiram agir por conta própria. Sem dinheiro no bolso, sem qualquer diálogo com a Tirol, que demonstra descaso desta com a situação experimentada por eles. Apesar da insistência, não foram atendidos por ela, nem pessoalmente nem via contato telefônico.

Este ‘silêncio’ ratifica a falta de compromisso das indústrias de laticínios com seu principal fornecedor de matéria-prima. Como se o dono da vaca fosse uma figura dispensável nesta cadeia produtiva.

E o que as indústrias estão fazendo? Reduzindo compulsoriamente os valores pagos pelo leite**. Desde o início do ano, esse é o quinto mês consecutivo de baixa. A situação é tão caótica que o produtor pensa em jogar o leite fora ao invés de entregar para a indústria, que lhe paga R$ 0,30 por litro.

Se isso acontecer, alguns municípios do oeste catarinense, cuja principal renda vem da produção leiteira, vão estar em apuros. São José do Cedro é um deles: 60% da renda do município vem do leite.

Coitados dos manifestantes: como protestar ainda é novidade na vida deles, nem sabem o que pedir! Nem sabem qual o preço ideal para o seu produto! Desesperados, querem uma solução para o seu problema.

Infelizmente, eles ainda não enxergaram a sua importância. O que fará uma indústria de laticínios sem o fornecimento diário do leite que produzem????

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Guarujá do Sul, Odacio Balbi, entrevistado por Mario Motta, na CBN Diário, disse que os produtores já haviam tentado negociar individualmente e não foram recebidos. Eles não têm mais condições de trabalhar porque o preço pago pelo leite não cobre os custos da produção. Hoje, o extremo oeste tem o preço bem mais baixo do que RS e PR. Mencionou que alguns laticínios vêm do Paraná (Confepar é um deles) e oferecem até R$ 0,20 a mais pelo leite daquela bacia leiteira. “Se eles podem pagar esta diferença, por que as daqui não podem pagar este preço pra nós? Com a baixa do leite, sofre o produtor e sofre o comércio na cidade. O produtor ainda tem uma saída, planta umas coisinhas pra comer, mas o comércio não tem”.

Como bem disse o presidente da FETAESC, Hilário Gottselig, o leite está azedando a vida do agricultor. E “o Governo Federal contribui com o azedume não adquirindo leite da agricultura familiar que era feito pelo Programa de Aquisição de Alimentos”.

Então, gente, esta causa do campo também é nossa, que moramos nas cidades. O produtor de leite está sendo penalizado e, desta forma, ele não consegue sustentar a sua família com a remuneração do seu trabalho. Está, neste momento, sozinho carregando nas costas os descontrole de preço de mercado, provocado pelos desmandos unilaterais da indústria de laticínios.

* – No extremo oeste estão instaladas: Tirol (com uma base que apenas resfria o leite para levar pra outro lugar), Cedrense, Laticínios Guarujá – estas em São José do Cedro; Terra Viva, em São Miguel do Oeste e Leite Vida, na cidade de Princesa.

** – Como funciona a compra do leite? O produtor entrega seu produto ao laticínio sem saber o quanto será pago pelo litro deste. Só descobre isso no mês seguinte, quando recebe o cheque do pagamento. E se ele resolver trocar de laticínio, ele é punido. Um deles recebeu somente R$ 0,25 por ter feito a troca, na busca de melhor preço para seu produto.

Ana Echevenguá, advogada ambientalista, coordenadora do programa Eco&Ação, presidente da ong Ambiental Acqua Bios, e- mail: ana@ecoeacao.com.br

[EcoDebate, 31/10/2008]

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