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Consumo se transforma em espaço de debate político, moral e ético

A transformação do consumo em questão política é um dos temas que serão abordadas no 4º Encontro Nacional de Estudos de Consumo (Enec), que será aberto amanhã (24), na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O evento é promovido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFF), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Falando ontem (23) à Agência Brasil, a professora Laura Graziela, do Departamento de Antropologia da UFF, afirmou que a política foi para o consumo. “Se ela antes estava na produção, agora ela foi para o consumo. E este está se tornando um campo de debate político muito importante, abrangendo os movimentos de consumidores, o controle alimentar, por exemplo. Então, você tem uma tendência importante, que é a politização do consumo”.

Laura Graziela observou que cada vez mais o consumo deixa de ser uma questão de escolha individual das pessoas. “Elas estão usando o consumo como uma forma de demonstrar publicamente as suas escolhas ideológicas, morais, políticas”.O consumo está cada vez mais se tornando um lugar de debate moral e ético importante, apontou a antropóloga.

Segundo enfatizou Graziela, o consumo deixou de ser uma coisa “alienada, onde cada um faz o que quer”, para se tornar um campo de debate. Com isso, o consumidor está mais consciente não só dos seus direitos, mas também de suas obrigações. “Isso está claro em várias questões relacionadas ao meio ambiente, como a segurança alimentar”, destacou.

“O consumo assumiu uma proporção extremamente importante. Ele não é mais uma coisa somente de capricho, de desejo, embora ainda exista o lado do consumo supérfluo, do consumismo”.Mas, em linhas gerais, pode-se dizer que o consumo adquiriu um viés político. Graziela observou que a transformação do consumo não é um fato brasileiro apenas, mas se verifica em todo o mundo. “Começou com a questão das políticas ambientais, da poluição, depois com a segurança alimentar. No Brasil, com a questão dos transgênicos. É uma tendência mundial. Não é uma coisa só do Brasil, nem dos países superdesenvolvidos. Há toda uma tendência nesse sentido”.

Por isso, os pesquisadores da UFF, UFRRJ e ESPM realizam os Encontros Nacionais de Estudos de Consumo a cada dois anos para debater as tendências do consumo com um número maior de pessoas, inclusive em termos de movimentos sociais.

Participam desta edição dois convidados estrangeiros – a professora Michele Micheletti, da Karlstad University, da Suécia, especialista em consumidor político e consumo consciente; e Richard Wilk, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, que fará a palestra de encerramento sobre as perspectivas e dilemas da sociedade contemporânea e o consumo. Eles vão compartilhar com os especialistas brasileiros o que está sendo discutido em outros fóruns fora do Brasil.

O 4º Encontro Nacional de Estudos de Consumo(Enec) se estende até o dia 26.

Matéria de Alana Gandra, da Agência Brasil, publicada no EcoDebate, 24/09/2008.