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Artigo

O Homem, a Árvore e o Sonho, artigo de Jorge Gerônimo Hipólito

[EcoDebate] A iniciativa de reflorestar, nos faz feliz, mesmo que a área seja pequena, pois, gestos pequenos provam atitudes imensas. Quando vemos crianças plantando mudas de árvores dá-se a impressão de que as árvores também são crianças e faz sentido, pois, elas também irão crescer e passarão por todas as fases, isto é, de criança, adolescentes e adultos. Depois vem a terceira idade e logo se fecha o ciclo. Um ciclo se fecha e ao mesmo tempo outro se inicia.

Às vezes, o ciclo natural da vida das árvores é obstruído pela ação humana. Curioso, árvores não têm raciocínio e nunca causam prejuízos. Já os homens na maioria das vezes, não se comportam como árvores, pois, se comportassem, o ciclo da vida humana e das árvores teria início, meio e fim com total equilíbrio.

Certa vez, sonhei que era um admirável empreendedor e que havia tomado a iniciativa de derrubar minha reserva legal. Ao me aproximar dela com máquinas, moto-serras e foices, fui envolvido por uma forte liana, eu tentava me desvencilhar, mas, não conseguia, e o pior é que meus auxiliares não percebiam o que estava ocorrendo e começaram a abater as árvores. De repente, á árvore mais próxima começou a conversar comigo e dizia para eu cessar o desmate, pois isso lhes causava sofrimento.

Por exemplo, o senhor não percebe o quanto dói cada machadada e não vê o sangue escorrendo do ferimento? O senhor não percebe que só o barulho da moto-serra já nos tortura, pois o barulho dela significa a morte? O senhor não percebe que milhares de abelhas ficarão sem teto e nunca mais polinizarão as nossas flores e nem mesmo as flores das suas lavouras agrícolas? O senhor não percebe que a morte das árvores provocará também a morte da inspiração e que os namorados jamais escreverão nos nossos troncos, “eu te amo”?

De repente, ouvi um barulho ensurdecedor e comecei a sentir forte calor foi quando percebi que meus auxiliares haviam ateado fogo na mata e, esse vinha na minha direção. Eu entrei em desespero e tentava me soltar da forte liana (cipó) e não conseguia. O fogo atingiu minhas roupas e atingiu também as folhas da árvore que comigo conversava. Estranho, á árvore parou de conversar e passou a rir de forma desmedida enquanto eu chorava, vez que meus auxiliares não notavam o que ocorria. Eu gritava muito, mas não adiantava. Naquele momento, a árvore, calmamente, me disse, você está vendo como é difícil a nossa vida?

Nós, sempre gritamos para vocês pararem, no entanto, nunca nos ouvem. A sociedade também sempre solicita e alerta através dos ambientalistas, ministério público, polícia ambiental, imprensa e, sobretudo, dos jovens estudantes, mas não, vocês são sempre inflexíveis.

Nós, ás árvores, reconhecemos o quanto vocês são obreiros e sempre nos disporemos a ajudar, mas, para isso se faz necessário preservar pelo menos a reserva legal. Será que nem isso vocês conseguem? Eu olhei para aquela árvore falante e assumi o ajuste de minha conduta. Pronto, acordei e percebi que se tratava apenas de um sonho, mas, consciente de que se tratava de uma “verdade verdadeira”.

Jorge Gerônimo Hipólito é colaborador e articulista do EcoDebate

[EcoDebate, 22/09/2008]