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Nota de repúdio de Ongs e Movimentos Sociais contra a tentativa de nuclearização da América do Sul


O texto, assinado por organizações e movimentos sociais do Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Colômbia e Uruguai, rejeita o Pacote Nuclear desenvolvido pelos governos argentino e brasileiro, que inclui a criação de uma empresa binacional voltada para o enriquecimento de urânio, produção de radioisótopos e desenvolvimento de reatores nucleares. O assunto foi tratado em reunião entre os presidentes dos dois países na semana passada, em Brasília.

Leia abaixo o conteúdo do documento:

Nota de repúdio de Ongs e Movimentos Sociais contra a tentativa de nuclearização da América do Sul

Desprezando a opinião pública de seus países, majoritariamente contrária à construção de usinas nucleares, Lula e Cristina Kirchner anunciam aventura conjunta no setor.

Brasília, 09 de Setembro de 2008

Os governos argentino e brasileiro discutiram no dia 8, em Brasília, a criação de uma empresa binacional voltada para o enriquecimento de urânio, produção de radioisótopos e desenvolvimento de reatores nucleares.

A iniciativa faz parte de um “Pacote Nuclear”, conjunto muito maior, envolvendo outros 61 projetos no setor, todos elaborados e decididos em segredo, sem nenhuma consulta às populações, às comunidades científicas ou sequer aos parlamentos dos 2 países, como nos mais sombrios tempos das ditaduras que assolaram Argentina e Brasil anos atrás.

Pior, todo o Pacote Nuclear argentino-brasileiro é baseado em planos megalomaníacos de instalação de 12 a 15 centrais nucleares de energia na América do Sul até 2030, espalhando a aventura nuclear a países como o Chile, Uruguai, Peru e Venezuela. Nesse sentido, Bolívia e Equador também poderiam vir a integrar o rol de países envolvidos na proliferação nuclear na América Latina.

Lamentavelmente, a Argentina, já em complicada situação econômica, decide “apostar” em uma forma de energia ultrapassada e custosa, retomando as obras de Atucha II (paralisadas por anos) e anunciando a construção de outras 2 usinas e impulsionando também perigosíssimos empreendimentos de mineração de urânio.

O Brasil que, por outro lado, vive um momento de relativa estabilidade econômica, opta por ressuscitar uma indústria nuclear que já foi responsável por um terço da sua dívida externa na década de 80, tendo custado até hoje, aos cofres públicos, cerca de 40 bilhões de dólares, segundo estimativas oficiais. Cedendo aos delírios de funcionários das estatais do setor nuclear, alguns militares e uma ultrapassada minoria que vê a bomba nuclear como algo essencial ao País, além dos interesses comerciais e militares no ciclo do combustível nuclear, Lula anuncia a construção de Angra III (a um custo de mais 4,5 bilhões de dólares, além do que já foi gasto com ela) e de outras 6 usinas até 2030, criando um novo rombo financeiro e – inevitavelmente – encarecendo o preço da eletricidade para o consumidor. E o Presidente do Brasil é ainda mais ambicioso: apesar de até hoje não ter sido resolvido o problema dos depósitos definitivos para o lixo atômico das usinas de Angra I e II, lançou desafio para que o setor resolvesse em 60 dias o que não conseguiu em mais de 50 anos da indústria nuclear mundial.

A atitude dos governos brasileiro e argentino só pode ser caracterizada como total desprezo pela opinião do cidadão comum da região. É ele quem, em última instância, deverá pagar a enorme conta dessa “farra nuclear”. Mais triste do que isso é o cidadão comum, que estará mais exposto aos riscos que as usinas e os depósitos de resíduos nucleares trazem consigo.

Em um mundo em rápida transformação diante das mudanças climáticas, onde governos, cientistas, empresários e simples cidadãos buscam um novo modelo de desenvolvimento, baseado em premissas como o uso de fontes de energia renováveis e limpas, a transparência e participação das populações na tomada de decisões que afetem suas vidas e a busca da segurança e paz entre as nações, Brasil e Argentina parecem não perceber a oportunidade de liderança que poderiam exercer, sujando suas matrizes energéticas, impondo “pacotes nucleares” às suas populações e fomentando um ambiente de insegurança na região.

Assinam a carta:

Brasil:

Núcleo Amigos da Terra/Brasil
ABREA – Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto
ACIA – Associação Cunhambebe da Ilha Anchieta
ADEMA – Associação de Defesa do Meio Ambiente de Avaré
AGAPAN – Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural
AIPA – Associação Ituana de Proteção Ambiental
Amigos da Terra – Amazônia Brasileira
AMAVIDA – Associação Maranhense para a Conservação da Natureza
APASC – Associação Para Proteção Ambiental De São Carlos
APROMAC – Associação de Proteção ao Meio Ambiente / PR
ATLAS – Terra de Laranjeiras
AVCésio – Associação das Vítimas do Césio 137
CDPEMA – Comissão de Defesa da Espécie e do Meio Ambiente, Guarulhos/SP
CEA – Centro de estudos Ambientais
CEACON
CORES – Comissão Revitalização de Sepetiba
Ecoa
FASE – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE)
FURPA – Fundação Rio Parnaíba
Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia
Greenpeace Brasil
IMV – Instituto Madeira
INESC – Instituto de Estudos Socioeconômicos
InGá – Instituto Gaúcho de Estudos Amnbientais
Instituto Biofilia
Instituto Vitae Civilis
IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas
ISABI – Instituto Socioambiental da Baia da Ilha Grande
Mongue Proteção ao Sistema Costeiro, Peruíbe/SP
Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em Desastres – NEPED/ UFSCar
ONG Preservação de Limeira
Quatro Cantos do Mundo
RBJA – Rede Brasileira de Justiça Ambiental
Rede Alerta Contra o Deserto Verde, RJ
SAPÊ – Sociedade Angraense de Proteção Ecológica
VERDEJAR – Proteção Ambiental e Humanismo

Argentina:

Amigos de la Tierra Argentina
Asociacion Ambientalista EcoLa Paz
Asociación contra la contaminación ambiental de Esteban Echeverría
Asociación Ecologista Piuke, Bariloche
Bios Argentina
Greenpeace Argentina
Live Gaia
Oikos, Mendoza
Programa Argentina Sustentable
Taller Ecologista

Uruguai:

CEUTA
CLAES
Comisión en Defensa del Agua y la Vida
Red Uruguaya de ONGs Ambientalistas
REDES – Amigos de la Tierra Uruguay

Chile:

Chile Sustentable
CODEFF – Amigos de la Tierra Chile
Instituto de Ecología Política

Colômbia:

CENSAT – Amigos de la Tierra Colombia
ILSA

Paraguai:

Sobrevivencia – Amigos de la Tierra Paraguay

Outros:

Amigos de la Tierra America Latina e Cariba – ATALC
COECO – Amigos de la Tierra Costa Rica
Cono Sur Sunstentable
International Rivers
Rede Virtual – Cidadã pelo Banimento do Amianto na América Latina
ISA, Instituto Socioambiental

[EcoDebate, 18/09/2008]