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Amazônia: Expansão do cultivo da cana-de-açúcar pode ser freada por proposta de zoneamento

A expansão do cultivo da cana-de-açúcar poderá ser freada numa área de 4,6 milhões de quilômetros quadrados -quase metade do território nacional-, segundo a proposta de zoneamento que será levada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos próximos dias, sob oposição do agronegócio. Por Marta Salomon, da Sucursal de Brasília, Folha de S.Paulo, 14/09/2008.

As oito usinas já instaladas e mais um projeto consolidado na Amazônia e na bacia do Alto Paraguai, região no entorno do Pantanal, terão a produção de álcool combustível assegurada, no limite das licenças ambientais já concedidas, segundo acordo preliminar entre os ministros Reinhold Stephanes (Agricultura) e Carlos Minc (Meio Ambiente).

O zoneamento da cana procura dar respaldo ao discurso de Lula, segundo o qual o projeto de transformar o Brasil em potência do álcool não se dará à custa de mais desmatamento da Amazônia nem do aumento do preço dos alimentos – duas preocupações que ganharam escala mundial.

Na próxima década, a área plantada deverá crescer cerca de 7 milhões de hectares ou pouco mais do que os Estados do Sergipe e do Espírito Santo juntos, segundo projeção do governo e de produtores.

Para atender ao consumo interno e às exportações, a produção de álcool deverá passar dos atuais 22,4 bilhões de litros para 65,3 bilhões, em 2020.

Alimentos

Na última reunião de ministros sobre o tema, Stephanes expôs que havia 60 milhões de hectares no país mais ou menos aptos à expansão do cultivo da cana, ocupados atualmente por pastos e cultivo de alimentos. Dilma Rousseff (Casa Civil) se exaltou ao perceber que o zoneamento não assegurava que a expansão da cana evitaria áreas ocupadas atualmente pelo cultivo de alimentos.

“A competição sempre existiu; quando o álcool tem preço, ele ganha, quem decide entre produzir alimento ou energia é o produtor”, afirmou Antonio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da Unica, entidade que representa produtores de açúcar e de álcool.

Stephanes acredita que o acesso ao crédito vai estimular a expansão da cana-de-açúcar apenas sobre áreas de pastagens já degradadas.

Enquanto o governo discute internamente o zoneamento da cana-de-açúcar, previsto inicialmente para o final de julho, os produtores cuidam de expandir o cultivo. O último levantamento da safra de 2008 divulgado pela CONAB (COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO) estima em 27% o crescimento da área plantada em relação à safra de 2007.

O crescimento maior é estimado para Minas Gerais e Goiás, 50,6% e 48%, respectivamente. Em pleno bioma amazônico, a área plantada em Roraima cresceu em um ano quase 20%, a ponto de se destacar nas estatísticas oficiais.

A expectativa do grupo instalado no município de Bonfim é começar a produzir álcool no ano que vem e chegar a 530 mil litros do combustível em 2014.

Pantanal

No entorno do Pantanal- onde já há quatro usinas instaladas-, é forte a pressão por novas áreas para a cana.

“Não faz sentido a proibição: se as quatro usinas já existentes não agridem o meio ambiente, por que não mais uma, duas ou três usinas?”, questiona o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso, Rui Prado.

Com projetos para duas novas usinas em análise nos órgãos ambientais do Estado, o produtor Normando Corral diz que as proibições não atendem a um critério técnico. “O critério é paranóico ambiental; o governo vai condenar a região ao fracasso econômico.”

Na quinta-feira, o governador Blairo Maggi (MT) abordou Carlos Minc em reunião no Planalto.

Pediu o apoio do ministro para mudar uma resolução do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), que, desde 1985, mandou suspender licenças para novas destilarias de álcool na região.

“Não”, respondeu Minc a Maggi. “Há uma questão jurídica intransponível”, argumentou o ministro. A palavra final caberá ao presidente Lula.

[EcoDebate, 15/09/2008]