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É prematuro falar na construção de 50 usinas nucleares no país, diz presidente da Aben

O presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Francisco Rondinelli, considerou prematuro se falar na construção de 50 ou 60 novas usinas nucleares, com mil megawatts (MW) de energia cada, no Brasil, nos próximos 50 anos. Por Alana Gandra, da Agência Brasil.

A construção de novas usinas nucleares foi anunciada ontem (12) pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, durante visita ao local onde será construída Angra 3, na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, no município fluminense de Angra dos Reis.

“A Aben não tem essa percepção”, disse Rondinelli, em entrevista à Agência Brasil. O que existe de concreto, segundo ele, é concluir Angra 3, além do planejamento energético que prevê a construção de mais oito usinas nucleares até 2030. Ele admitiu que esse número pode ser revisto mais adiante, chegando-se a até dez novas usinas até aquela data, dependendo do crescimento do país, do aumento da demanda energética e da capacidade de geração.

Somente em 2030 é que se poderá começar a traçar os planos para 2050 e 2060, alertou o presidente da Aben. “Precisamos chegar mais perto de 2030 para imaginar um cenário mais à frente. Agora, é muito prematuro falar hoje de um parque nuclear desse porte no Brasil.”

Rondinelli disse ignorar os dados em que o ministro estaria se baseando para apresentar essa perspectiva. Ponderou que é possível pensar que o Brasil venha a ter 50 mil ou 60 mil megawatts nucleares. “Mas, temos dados hoje para poder trabalhar com esse número? Não”, reiterou.

Mesmo assim, Rondinelli não descartou a construção desse número de usinas nucleares. Países desenvolvidos, como França e Estados Unidos, apresentam um parque nuclear significativo. Nessas duas nações, elas totalizam, respectivamente, 59 e 104 usinas. A China, informou ele, também tem projetos já definidos para construção de 20 usinas, além de outras 30 ou 40 em perspectiva.

O presidente da Aben esclareceu que a energia nuclear não deve ser a única saída para garantir o abastecimento de energia para o Brasil. “A saída para o Brasil é fazer um balanceamento da sua matriz energética”. Ele enfatizou que o país deve continuar investindo em energia de fonte hidráulica. Defendeu, porém, que haja uma redução da hidroeletricidade na matriz energética dos atuais 90% para algo em torno de 70% a 75%, “para ficar com uma matriz mais equilibrada”.

Rondinelli informou que a melhor perspectiva de um parque gerador no Brasil envolve usinas termelétricas a gás e térmicas nucleares. A contribuição da geração nuclear na matriz energética poderia chegar a 10%, contra os atuais 3%, avaliou. Rondinelli destacou, ainda que o Brasil não deve prescindir também das fontes alternativas de energia, entre as quais a eólica (dos ventos), solar e biomassa.

[EcoDebate, 13/09/2008]