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Rússia acelera a construção da primeira usina nuclear flutuante

Se depender da Rússia, em breve estará em operação uma frota de usinas nucleares flutuantes (Floating Nuclear Power Plants, FNPP). A primeira unidade já está em construção, devendo entrar em operação comercial em 2010. Por Henrique Cortez, do Ecodebate.

A primeira unidade, batizada como Academician Lomonosov, sob coordenação da agência nuclear russa (Russian Federal Atomic Energy Agency), iniciou sua construção em abril de 2007, no estaleiro Sevmash, do Russian State Centre for Nuclear Shipbuilding, em Severodvinsk. A unidade foi projetada para uma vida útil de 40 anos, ao custo de construção estimado em U$ 400 milhões.

O FNPP foi concebido para garantir oferta de energia elétrica em regiões remotas da Rússia e, de acordo com o projeto, se deslocará para a área de ancoragem final para operação, sem estar abastecido de combustível nuclear. O sistema é uma simbiose de navio nuclear com usina nuclear.

O projeto é um dos mais apavorantes para os militantes anti-nuclear, mas, de acordo com o chefe da agência nuclear russa, Sergei Kirienko, a usina nuclear flutante possui vários recursos de proteção, sendo mais segura do que uma usina nuclear terrestre.

O FNPP utiliza uma variante do reator de propulsão naval KLT-40, utilizado em submarinos nucleares. Era o sistema de propulsão do submarino nuclear Kursk, que naufragou no mar de Barents em 2.000. Mesmo com o naufrágio e o incêndio a bordo, os sistemas automáticos de proteção desligaram e selaram o reator, evitando um acidente nuclear.

Mesmo assim, ambientalistas temem o projeto, tendo em vista que um acidente nuclear de grande porte no oceano poderia ter conseqüências incalculáveis. Além do mais, o FNPP é mais vulnerável a ataques terroristas ou como alvo militar em caso de guerra.

A agência nuclear russa afirma que a operação do FNPP é suficiente para abastecer uma cidade de 100 mil habitantes, substituindo usinas termelétricas que consumiriam 200 mil toneladas de carvão por ano. É uma variação do argumento de que a energia nuclear é “limpa” porque não emite gases estufa.

A Rússia já opera usinas termelétricas a carvão flutuantes e, no “apagão” de 2001 chegou a propor o arrendamento de algumas ao governo brasileiro. O novo projeto é um upgrade nuclear deste conceito.

O projeto, na realidade, foi concebido visando criar um mercado de exportação para as usinas nucleares flutuantes, para atender áreas isoladas de países do terceiro mundo, através de usinas pequenas e com baixos custos, o que aumenta, ainda mais, as preocupações dos ambientalistas e militantes anti-nuclear.

Uma frota de usinas nucleares flutantes em território russo já seria uma temeridade, mas espalhadas pelas áreas costeiras de países em desenvolvimento, em um planeta repleto de conflitos militares regionais, seria uma impensável ameaça, ao tornarem-se permanentes áreas de risco, como alvos preferenciais de ataques militares ou terroristas ou ambos.

[10/09/2008] [ O conteúdo produzido e assinado pelo EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor e ao Ecodebate, como fonte original da informação.]