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HTGR ou ‘pebble bed’: Projeto nuclear sul-africano não atende aos padrões de segurança dos EUA


Projeto nuclear na África do Sul, com a tecnologia “pebble bed”, apresentado como à prova de derretimento, não pode obter certificação nos Estados Unidos, na sua forma atual, tendo em vista que não cumpre requisitos mínimos de segurança.

O reator de leito fluidizado, de alta temperatura, refrigerado a gás, o chamado HTGR ou “pebble bed”, não utiliza o sistema de varetas. O combustível nuclear é armazenado em milhares de grãos de urânio, que ficam dentro de esferas do tamanho de bolas de golfe, a quais controlam o calor da reação nuclear. Os projetistas afirmam que a tecnologia produz energia sem risco de derreter o núcleo reator e, por isso, ele precisa de menos proteção externa, dispensando os sistemas de contenção secundária. E esta é, exatamente, a razão pela qual não seria aprovado nos EUA. Por Henrique Cortez*, do EcoDebate.


O reator Pebble Bed Modular Reactor (Pty) Limited (PBMR http://www.pbmr.com/), a primeiro a ser construído comercialmente com a tecnologia “pebble bed”, projetado para construção em Koeberg, não dispõe de uma barreira de segurança – chamada de “contenção secundária” – que está incorporada ao design de todos os modernos reatores nucleares, para conter a radiação, em caso de acidente. Isto levanta duas questões, relativas à segurança pública e da viabilidade econômica do projecto PBMR para exportação.


A Eskom planeja a construção de 24 a 30 reatores para exportação, mas especialistas dizem que é altamente improvável que qualquer país compre uma tecnologia nuclear que não tenha certificação nos EUA.

Ambientalistas consideram “irresponsável” a construção de uma central nuclear sem uma contenção secundária. Em termos simples, sem essa estrutura, em caso de acidente, não haveria nada para impedir uma enorme libertação de radioatividade no meio ambiente.

O governo sul africano, ou melhor, os contribuintes sul-africanos, são os principais financiadores do projeto, tendo em vista que a Eskon não conseguiu atrair parceiros internacionais para financiar a nova tecnologia.

A empresa PBMR diz que o custo total da fase de demonstração, incluindo uma série de outros “programas essenciais” para demonstrar a tecnologia de combustíveis e reatores, será 31,9 bilhões de euros.

Rainer Moormann, cientista nuclear da FZJ, Forschungszentrum Jülich, centro alemão de pesquisas em que o protótipo do reator “pebble bed” foi desenvolvido pela primeira vez, publicou um documento afirmando que a antiga fábrica foi “altamente contaminada” com estrôncio-90 e césio-137, resultado de uma “inadmissível temperatura elevada no núcleo”.

Ele disse que os problemas não foram suficientemente compreendidos 20 anos após o seu encerramento definitivo e isso tem implicações para os futuros reatores “pebble bed”, incluindo o PBMR na África do Sul.

Mas a empresa PBMR afirma que o projeto é “intrinsecamente seguro” e por isso não necessita de contenção secundária.

Moormann disse que era correto que o PBMR tinha algumas características inerentes à segurança, em áreas específicas, onde os reatores nucleares convencionais tiveram problemas de segurança, mas isso não significava que se poderia concluir que o PBMR era “intrinsecamente seguro”.

Na verdade, os projetos “pebble bed” tinham riscos em áreas onde reatores convencionais apresentaram características intrinsecamente seguras, disse ele. “Um exemplo disso é o incêndio no reator, que é possível no PBMR, devido à enorme quantidade de grafite no núcleo”, disse Moormann.

“Este não é um caso hipotético. Os dois mais graves acidentes em reatores até o momento (Chernobil, em 1986 e Windscale, em 1957) foram acompanhados de incêndios no grafite. Estes reatores também tinham núcleos de grafite, embora não fossem reatores do tipo do PBMR”.

Em 2001, Dana Poder, da US Nuclear Regulatory Commission, disse que um incêndio no grafite era um “acidente previsível para o cenário proposto para o PBMR”.

A Eskom não se pronunciou sobre as preocupações de segurança.

* Com informações do The Cape Times, de 04/09/2008.

[09/09/2008] [ O conteúdo produzido pelo EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado e distribuído, desde que seja dado crédito ao autor e ao Ecodebate, como fonte original da informação.]