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Nível do mar pode subir mais do que o estimado pelo IPCC

Estudo publicado na revista Nature Geoscience (DOI: 10.1038/ngeo285), a partir de informações geológicas do degelo do último período glacial, reforça a hipótese de que o mar, em razão do degelo causado pelo aquecimento global, pode subir mais de 1 metro até 2100. Por Henrique Cortez, do Ecodebate.

Anders Carlson, da Universidade de Wisconsin-Madison e colegas, ao estudarem os eventos do final da última era glacial , descobriram que o Laurentide ice sheet (uma maciça placa de gelo, com milhares de quilometros quadrados) que cobria a maior parte da América do Norte, entre 7 mil e 95 mil anos atrás, se desintegrou rapidamente.

Os pesquisadores estudaram isótopos de berílio, em rochas, para determinar a forma como as arestas exteriores dos pedaços de gelo da placa Laurentide recuaram. Eles descobriram que o gelo recuou rapidamente entre 9 mil e 8,5 mil anos atrás, se estabilizou e, em seguida, fez o seu último recuo rápido entre 7,6 mil e 6,8 mil anos atrás.

A equipe calculou o volume de água, que teria sido liberada em cada uma destas fases de degelo, e a taxa a que ela deve ter elevado o nível do mar. Eles concluíram que os níveis teriam subido 1,3 metros por século, no período anterior e 0,7 metros por século, no período final do degelo da placa Laurentide.

“As forças que levaram ao colapso da placa Laurentide, de uma maneira muito rápida, são comparáveis com as forças estudadas nos modelos matemáticos que predizem qual será a experiência neste século, se não reduzirmos rapidamente as emissões de gases com efeito estufa”, afirma Gavin Schmidt da NASA Goddard Institute for Space Studies, que colaborou com Carlson nesta pesquisa.

Para Mark Siddall, da Universidade de Bristol, Reino Unido, e Michael Kaplan, da Lamont Doherty Earth Observatory, em Nova Iorque, no entanto, continuam a existir muitas diferenças entre o que se passou quase 10 mil anos atrás e as alterações climáticas da Terra passando atualmente.

“Em que medida esta resposta dinâmica do gelo da placa de Laurentide, no passado, pode ser considerado análogo ao presente e à futura redução do gelo da Groelândia continua por ser avaliado”, eles dizem, em um comentário associado. “Mas seu trabalho sugere que as futuras reduções do gelo da Groelândia sobre a ordem de subida do mar em um metro por século não estão fora de questão.”

Se as estimativas de Carlson estiverem corretas, as previsões, de 2007, realizadas IPCC, Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas, que estimaram um aumento do nível do mar entre 18 centímetros e 59 centímetros até 2100, são muito conservadoras.

A elevação do nível do mar em mais de um metro por século também foi defendida pelo chefe da NASA Goddard Institute for Space Studies, James Hansen. Hansen acredita que o nosso clima, em breve, atingirá um ponto sem retorno, além do qual as atuais grandes placas de gelo vão se desintegrar rapidamente.

Carlson diz que as forças que causaram o colapso da placa Laurentide são equivalentes às que ameaçam o gelo da Groelândia de hoje.

Alguns dizem que a água contida no interior da Antártida e da Groelândia fichas de gelo não irá contribuir para a subida do nível do mar durante muitos séculos. Em conjunto, todo o gelo “estocado” no planeta seria suficiente para aumentar o nivel do mar, em escala global, na ordem de 70 metros. O estudo de Carlson considera apenas gelo da Groelândia.

Se a predição, de elevação do mar em 1 metro até 2.100, for correta ocorrerá um grande desastre social e ambiental, atingindo mais de 145 milhões de pessoas em áreas costeiras, principalmente na Ásia.

O relatório Stern, de 2006, (Stern Report) estima que a elevação do nível do mar poderá por em risco bens e serviços da ordem de US$ 944 bilhões

O acesso ao texto integral da pesquisa “Rapid early Holocene deglaciation of the Laurentide ice sheet” na revista Nature Geoscience é restrita a assinantes.

Nature Geoscience 1, 620 – 624 (2008)
Published online: 31 August 2008 | doi:10.1038/ngeo285

Subject Categories: Climate science | Cryospheric science | Palaeoclimate and palaeoceanography
Rapid early Holocene deglaciation of the Laurentide ice sheet

Anders E. Carlson1, Allegra N. LeGrande2, Delia W. Oppo3, Rosemarie E. Came4, Gavin A. Schmidt2, Faron S. Anslow5, Joseph M. Licciardi6 & Elizabeth A. Obbink1

Abstract

The demise of the Laurentide ice sheet during the early Holocene epoch is the most recent and best constrained disappearance of a large ice sheet in the Northern Hemisphere, and thus allows an assessment of rates of ice-sheet decay as well as attendant contributions to sea level rise. Here, we use terrestrial and marine records of the deglaciation to identify two periods of rapid melting during the final demise of the Laurentide ice sheet, when melting ice contributed about 1.3 and 0.7 cm of sea level rise per year, respectively. Our simulations with a fully coupled ocean–atmosphere model suggest that increased ablation due to enhanced early Holocene boreal summer insolation was the predominant cause of Laurentide ice-sheet retreat. Although the surface radiative forcing in boreal summer during the early Holocene is twice as large as the greenhouse-gas forcing expected by the year 2100, the associated increase in summer surface air temperatures is very similar. We conclude that our geologic evidence for a rapid retreat of the Laurentide ice sheet may therefore describe a prehistoric precedent for mass balance changes of the Greenland ice sheet over the coming century.
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1. Department of Geology and Geophysics, University of Wisconsin, Madison, Wisconsin 53706, USA
2. NASA Goddard Institute for Space Studies and Center for Climate System Research, Columbia University, New York 10025, USA
3. Department of Geology and Geophysics, Woods Hole Oceanographic Institution, Woods Hole, Massachusetts 02543, USA
4. Geology and Planetary Sciences, California Institute of Technology, Pasadena, California 91125, USA
5. Earth and Ocean Sciences, University of British Columbia, Vancouver, BC, V6T 1Z4, Canada
6. Department of Earth Sciences, University of New Hampshire, Durham, New Hampshire 03824, USA

Correspondence to: Anders E. Carlson1 e-mail: acarlson@geology.wisc.edu

Nature Geoscience (DOI: 10.1038/ngeo285)

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