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Agrotóxico que combate praga da laranja está dizimando abelhas no interior de São Paulo


Excesso de inseticida causa fim de colméias, afirma biólogo de universidade

O combate ao “greening”, considerada a pior doença da citricultura no mundo, está dizimando abelhas no interior paulista. O alerta é do biólogo Osmar Malaspina, pesquisador do Centro de Estudos de Insetos Sociais do Departamento de Biologia da Unesp de Rio Claro. Por Veridiana Ribeiro, da Folha Ribeirão, Folha de S.Paulo, 19/08/2008.

Um laudo comprovou que a morte das abelhas de pelo menos 700 colméias em Boa Esperança do Sul e Brotas foi causado por excesso de inseticida. Malaspina estima que outras 3.300 colméias no Estado possam ter morrido neste ano devido aos agrotóxicos.

O número foi calculado com base no relato de apicultores de dez municípios.

Francisco Tomazin Neto, de Boa Esperança do Sul, afirma que perdeu metade de suas 800 colméias em março. As abelhas mortas foram enviadas ao laboratório do AgroSafety Monitoramento Agrícola, de Piracicaba, empresa desenvolvida na incubadora da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da USP.

De acordo com o laudo emitido pela empresa em 11 de abril, foi encontrada a proporção de 0,04 miligrama por quilo da substância Tiamexotan nos insetos mortos, quando o tolerado pelo Ministério da Agricultura é 0,01 mg/kg.

O Ministério da Agricultura informou que a substância está registrada para o uso contra o vetor do “greening”, o psilídeo Diaphorina citri. Segundo a pasta, o uso recomendado pelo ministério -aplicação de 3 gramas por planta- é seguro.

Uso indiscriminado

“Eu até entendo o lado desse pessoal. Só que, nesse caso, o produto foi passado indiscriminadamente”, disse o apicultor Tomazin, o mais antigo produtor de Boa Esperança do Sul e um dos maiores da cidade (90 toneladas de mel por ano). Segundo Tomazin, seu prejuízo pode chegar a R$ 800 mil.

Marcos Tavolaro, de Brotas, perdeu 300 de suas 1.500 colméias há três meses.

“Essa questão é muito séria. Alguns inseticidas estão proibidos na França e na Alemanha porque dizimaram 80% das abelhas. Existe uma preocupação mundial com os polinizadores. Nós vamos ficar sem eles”, disse Malaspina.

A Secretaria de Estado da Agricultura confirmou ter recebido denúncias sobre mortandade de abelhas, mas disse não ter constatado irregularidades nas cidades.

Flávio Viegas, presidente da Associação Brasileira de Citricultores, disse não ter conhecimento sobre morte de abelhas decorrente do uso de agrotóxico em pomares de laranja de São Paulo. Afirmou que as denúncias são sérias e devem ser discutidas com o setor.

Constantino Zara Filho, da diretoria técnica da Associação Paulista dos Criadores de Abelhas Européias Melíficas, estima que a produção de mel no país fique entre 40 mil e 45 mil toneladas por ano.

[EcoDebate, 20/08/2008]