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Notícia

Carta da 12a Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais


Tema: Terra e água, clamor de vida. Lema: Lutar pela terra e pela Água é preservar a vida!

Nós, romeiros e romeiras, celebrando na BR 381 – Praça José Ramalho – Cachoeira Escura, distrito de Belo Oriente – Vale do Aço – a 12ª Romaria das Águas e da Terra do estado de Minas Gerais.

Ecoamos o choro dos rios, dos riachos, da Cachoeira Escura e das nascentes da Bacia do Rio Doce. Oh minas das Minas Gerais! Olhos d’água aqui secaram, riacho não corre mais, são lágrimas da mãe-terra com saudades da bela Mata Atlântica. Que se junta ao lamento dos lavradores sem-terras, posseiros, quilombolas, ribeirinhos, pescadores, assalariados, indígenas, atingidos pelas barragens, mineração e por monoculturas do eucalipto, …

Anunciamos nosso projeto de vida num grande mutirão por um Brasil popular e democrático.

A humanidade vive uma das maiores encruzilhadas da História. Das duas uma: ou nos salvamos todos ou pereceremos todos. Desta vez não haverá uma arca de Noé para salvar um casal de cada espécie.

Com o avanço do capitalismo no planeta, a classe dominante tende a controlar todas as dimensões da vida humana e da natureza, oprimindo homens e mulheres, destruindo a natureza de forma nunca vista na história da humanidade. O modelo de desenvolvimento industrial e do agronegócio é insustentável e injusto. Destrói a terra, atingindo os seus limites ecológicos, colocando em risco toda a humanidade e a vida de todos os seres. As mudanças climáticas, a atual crise alimentar e energética são conseqüências desse modelo capitalista que sempre enriquece uma minoria às custas da maioria do povo.

O governo federal, conivente com os interesses dos grandes, fortalece esse modelo, tirando os direitos conquistados na Constituição Federal de 1988, reforçando o latifúndio em detrimento da agricultura familiar e da reforma agrária.

Em Minas, as grandes empresas, com o apoio do governo estadual, avançam de forma incontrolável na destruição da natureza e dos povos. A mineração/siderurgia/celulose, a cana de açúcar, a monocultura do eucalipto, a poluição, o trabalho degradante… vêm sufocando a vida, o que nos exige uma reação, tanto no enfrentamento como no fortalecimento das organizações populares na defesa da vida e na construção de um projeto popular para o Brasil. Por isto reafirmamos:

1) Nosso compromisso com a luta pela terra, por uma reforma agrária verdadeira, pela regularização dos territórios das populações tradicionais;

2) O fortalecimento de um projeto Agroecológico camponês, a luta contra o agronegócio e as transnacionais;

3) A defesa da água como patrimônio da humanidade e direito humano, reforçando a luta contra a privatização e a poluição das águas. Contra o avanço dos grandes projetos como barragens nos rios Madeira, Urucuia, Paracatu, Velhas. Contra o avanço da mineração, da irrigação que desperdiça água, a transposição dos Rios São Francisco, Peixe e muitos outros;

4) Nosso compromisso em fortalecer as alternativas ao atual modelo energético e apoiar as iniciativas de revitalização popular das nossas terras e águas;

5) Intensificar a Campanha pelo Limite Máximo da Propriedade da Terra;

As terras e águas de Minas, espaço sagrado, morada dos povos, renova nossa energia e nosso compromisso em defesa da vida. Queremos Vida para toda a biodiversidade e para as gerações futuras;

A terra e água devem cumprir sua função social, devem alimentar a vida, não os lucros.
Proclamamos, com indignação e com esperança que é possível, necessário e urgente acabar com todo tipo de concentração, de monocultura, de privatização da terra e da água. A justiça ao povo do campo só se fará com a reforma agrária e agrícola. Um outro mundo é possível e necessário.

Amém, Axé, Awere, Aleluia, Uai!

Salve o Rio Doce! Salve os nossos rios, os olhos d’água, as nascentes, os riachos, as cachoeiras, os córregos! Salve o Povo de Deus que se põe a caminhar….

Romeiros e romeiras da 12ª Romaria das Águas e da Terra.
Perpétuo Socorro – Belo Oriente – Vale do Aço – Minas, 17 de agosto de 2008.

Carta enviada por Frei Gilvander Moreira, email: gilvander@igrejadocarmo.com.br, www.gilvander.org.br, colaborador e articulista do EcoDebate.

[EcoDebate, 19/08/2008]