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Perdas nas safras com aquecimento global podem superar R$ 7 bilhões em 2020, alerta estudo


Aquecimento global vai provocar queda na produção agrícola brasileira. Nordeste poderá sofrer de forma mais intensa efeitos do aquecimento.

As perdas nas safras de grãos, causadas pelas mudanças climáticas, poderão chegar a R$ 7,4 bilhões em 2020, dobrando para R$ 14 bilhões em 2070, de acordo com o estudo “Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira”.

O aumento da temperatura global vai provocar crescimento menor da agricultura brasileira nos próximos anos. Essa é uma das conclusões do estudo “Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira”, elaborado em parceria pela Universidade de Campinas (Unicamp) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Por Alana Gandra, da Agência Brasil.

O engenheiro agrônomo Hilton Silveira Pinto, diretor do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), da Unicamp, um dos coordenadores da pesquisa, disse à Agência Brasil que o estudo detectou a possibilidade de quebra da produção agrícola, principalmente de grãos.

“Das culturas que nós vimos até agora, apenas a cana-de-açúcar é que sai ganhando, pelo menos até 2050. Nas outras culturas, a área [plantada] diminui e a produtividade diminui”. Ao contrário do que muitos poderiam pensar, essa expansão projetada para a cana não se deve à produção de etanol. “O etanol é conseqüência”, afirmou Hilton Silveira.

Ele esclareceu que a produção de cana vai aumentar porque a modificação climática continua sendo adequada a essa cultura. “O etanol vai sair ganhando porque o clima vai favorecer a produção de cana”.

A mandioca é outro produto que não sairá perdendo com o aquecimento global, segundo o engenheiro agrônomo. Embora o Nordeste deixe de produzir mandioca, também conhecida como aipim ou macaxeira, essa raiz poderá ser cultivada na Amazônia, ainda que não imediatamente.

Isso ocorrerá “acima de um limite de anos em que a diminuição das chuvas na região permita [que se cultive] a mandioca”. Hilton Silveira estima que depois de 2020 e até 2050 serão criadas condições mais propícias para o cultivo de mandioca na Amazônia.

O estudo da Unicamp/Embrapa foi divulgado no 7º Congresso Brasileiro do Agribusiness, em São Paulo e, segundo Silveria, não tem o objetivo de criar “terrorismo climático”.

“O que a gente está querendo é mostrar que tecnologias a serem desenvolvidas podem fazer com que o fantasma do aquecimento global na agricultura não seja tão ruim. A gente pode adaptar culturas, pode perder plantio ou produção de soja no Sul, por exemplo, e ganhar em cana-de-açúcar”.

O engenheiro agrônomo destacou também a necessidade de que as mudanças do clima preparem as autoridades para outro problema da maior relevância no Brasil, que são as migrações sociais e as dificuldades que isso representará na área da saúde.

Outro problema apontado pelo pesquisador da Unicamp é o fato de que “o Brasil tem uma mania muito grande de deixar acontecer para depois correr atrás”. Daí o alerta que está sendo feito para que o governo e a sociedade possam adotar medidas preventivas com bastante antecedência.

Silveira ressaltou que a única instituição que liberou recursos para trabalhos de pesquisa na área da agricultura e mudanças climáticas foi a Embrapa. Nas demais, “fala-se muito e age-se pouco”, criticou. Ele enfatizou que é preciso que o Brasil atue da mesma forma que países desenvolvidos, como Estados Unidos e Inglaterra, e passe a agir imediatamente para minimizar os efeitos do aquecimento global.

Ele criticou também o fato de os dados climáticos existentes não serem disponibilizados pelos órgãos oficiais do setor, como o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e a Secretaria Estadual de Agricultura de São Paulo, o que prejudica os trabalhos dos pesquisadores.

Perdas nas safras com aquecimento global podem superar R$ 7 bilhões em 2020, alerta estudo

As perdas nas safras de grãos, causadas pelas mudanças climáticas, poderão chegar a R$ 7,4 bilhões em 2020, dobrando para R$ 14 bilhões em 2070, de acordo com o estudo “Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira”.

Segundo informou à à Agência Brasil o engenheiro agrônomo Hilton Silveira Pinto, da Unicamp, esse valor foi estimado em função da diminuição da área de produção e da produtividade.

O café, por exemplo, apresenta tendência de sair das áreas tradicionais, que são os estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná e passar a ser cultivado no Sul da Bahia, em 2050. A diferenciação é obtida na comparação das extensões que são perdidas com as novas áreas de produção.

A agricultura brasileira já vem experimentando queda da produção de algumas culturas. Hilton Silveira chamou a atenção para o fato de que a compensação tecnológica pode minimizar os efeitos do aquecimento global, projetado já para o ano de 2020.

Ele explicou que um pequeno aumento da área de cultivo, acompanhado do grande aumento da produtividade promove essa compensação. “Se você aplicar técnicas corretas e desenvolver novas variedades, certamente pode compensar [os efeitos do]aquecimento global com novas tecnologias. Esse é o caminho que nós indicamos”.
As projeções mostram que as perdas serão de até R$ 8 bilhões para a soja em 2070. Esse valor corresponde à metade das perdas previstas para a agricultura na ocasião.

No cenário mais otimista estabelecido pelo estudo, as culturas analisadas, excluindo cana e mandioca, devem experimentar um prejuízo anual de produção que varia de R$ 6,7 bilhões, em 2020, até R$ 12,2 bilhões, em 2070. Em contrapartida, o país “poderá ganhar entre R$ 17 bilhões e R$ 18 bilhões com a cana-de-açúcar”, disse Silveira.

Nordeste poderá sofrer de forma mais intensa efeitos do aquecimento

Os efeitos do aquecimento global na agricultura e na pecuária brasileiras deverão ser mais sentidos na Região Nordeste, segundo estudo do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Segundo o diretor do Cepagri, Hilton Silveira Pinto, isso ocorrerá por causa do baixo volume de água disponível atualmente no Polígono da Seca. “Se pensarmos que o aumento de temperatura fará com que evapore mais água e diminua a quantidade de água nos solos, a agricultura, que já está bem ruim hoje, que é semi-árida, vai ficar ainda pior. Vai ser muito difícil, porque o solo ficará árido. Nem chuva deverá ter mais lá [em volume] suficiente para a agricultura.”

Um dos coordenadores da pesquisa, Silveira disse que o leste da Bahia, por exemplo, que é atualmente um grande produtor de grãos, poderá enfrentar escassez de água para irrigação, com o aumento das temperaturas. “Provavelmente, [essa água] não vai ser mais possível.”

As áreas cultivadas com milho, arroz, feijão, algodão e girassol deverão sofrer queda acentuada no Nordeste do país, o que acarretará perdas de produção. As maiores perdas estão previstas para as culturas de soja.e café. Conforme o estudo, no Nordeste, o Agreste e a região do Cerrado serão as áreas mais atingidas pela elevação da temperatura.

A pesquisa não é, entretanto, conclusiva e ainda terá desdobramentos, com novos modelos regionalizados e com mais detalhamento, para garantir a precisão das informações, alertou Silveira.

[EcoDebate, 12/08/2008]