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Nestlé espiona ONGs ambientalistas, acusa entidade suíça

A Nestlé se envolveu em uma polêmica de espionagem com ramificação no Brasil. ONGs suíças estão acusando a empresa de ter infiltrado uma espiã entre seus militantes para obter informações sobre movimentos que possam prejudicar a multinacional. A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 06-08-2008.

No Brasil, a suspeita de advogados das ONGs é de que informações sobre ativistas do Movimento de Amigos do Circuito das Águas Mineiro (Macam) – que apontam dano ambiental resultante de investimentos da Nestlé no Rio São Lourenço – teriam sido passados pela espiã. Nos últimos meses, a Nestlé vem tentando negociar uma solução com o governo mineiro e com ONGs para aumentar a capacidade de produção de sua água São Lourenço, em Minas. Hoje, está limitada a 13 milhões de litros/ano. Para a Nestlé, poderia ser três vezes maior.

Um dos líderes do Macam é Franklin Frederick, que, segundo Rodolf Petit, advogado suíço que trabalha no caso, também teria tido suas informações repassadas à Nestlé por meio da espiã.

O Estado tentou contato anteontem e ontem com representantes do Macam. Telefones de Frederick ou em nome da ONG não foram encontrados na lista telefônica. A prefeitura de São Lourenço informou por meio de sua assessoria de comunicação que desconhece a existência da organização. Em seu site na internet, a entidade não divulga contatos telefônicos. A ONG se define como “um grupo de cidadãos que defende o uso livre da água sem vinculação com valor econômico”. Afirma ainda que se opõe à atuação da Nestlé no “secular Parque das Águas de São Lourenço”.

DEFENSIVA

A iniciativa da Nestlé teria ocorrido em 2003, quando o movimento anti-globalização Attac decidiu preparar um livro sobre a empresa. Segundo o caso que foi apresentado à Justiça da Suíça, a estratégia foi infiltrar alguém na ONG não apenas para saber de que se tratava o livro, mas também obter informações sobre quem eram as pessoas que trabalhavam contra a empresa em vários países. Para isso, foi enviada à ONG a “ativista” Sara Meylan, que na realidade era uma funcionária da empresa de segurança privada Securitas. Dentro da ONG, Sara produziu dezenas de perfis de militantes, com nome, altura, cor de cabelo e pele, idéias, idade, perfil político e até mesmo hobbies. O livro foi publicado em 2005 – Attac contra o Império Nestlé. Sara teria atuado na Attac entre setembro de 2003 e junho de 2004.

ADMISSÃO

A Nestlé, em comunicado, reconheceu que pediu a ajuda da Securitas. Mas alertou que a Justiça precisará entender as circunstâncias daqueles anos. A multinacional acredita que a ONG Attac estaria disposta a usar métodos violentos. “Lembrem-se da atmosfera tensa em torno do G-8 (reunião dos países mais industrializados) em Evian em 2003: já em março, José Bové, com membros da Confederação Camponesa e outras pessoas reunidas sob a bandeira da Attac, atacou a sede da Nestlé em Vevey, causando danos materiais significativos (…) Tratava-se de violência deliberada acompanhada de ameaças concretas”, diz a nota. “Nessas circunstâncias, nos pareceu natural pedir à Securitas, sociedade privada que garante a proteção de nossos escritórios há mais de 30 anos, que nos ajudasse a antecipar novos atos de violência.” A Nestlé, porém, afirma que não estaria de acordo com a tática de infliltrar uma espiã. “A infiltração deliberada de uma ONG não é coerente com os princípios de conduta do grupo Nestlé”, disse na nota Hans Peter Frick, representante legal da empresa.

No dia de 23 de julho, a empresa e a ONG foram chamadas à Justiça de Lausanne. A multinacional alegou que as fotos que faziam parte das fichas sobre cada ativista foram “tiradas em locais públicos”. Os advogados dos ativistas rebatem: “Não são apenas relatórios. São fichas de cada uma das pessoas”, afirmou Petit. “Não sabemos o que foi feito com as informações quando elas chegaram à empresa.”

A Justiça suíça está investigando as acusações e, nas próximas semanas, promete anunciar seu parecer.

(www.ecodebate.com.br) publicado pelo IHU On-line, 07/08/2008 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

One thought on “Nestlé espiona ONGs ambientalistas, acusa entidade suíça

  • Luis Fernando Novoa

    Esse sr. que transita entre a Suiça(sede da Nestlê) e o o sul do Minas, não sei a expensas de quem, e que sempre aparece com denúncias pirotécnicas, não possui relações orgânicas com o movimento ATTAC internacional ou brasileiro.

    Quando estivemos no circuito das águas, eu, Jocélio(ISP) e Marcos, tomamos conhecimento que Franklin Frederick(que não existe juridicamente, sim Franklin Gonçalves) não contava com credibilidade das organizações locais, ao contrário pesava sobre ele suspeitas de que o mesmo é que patrocinava acordos com a Empresa nos bastidores.

    Essa história tão laboriosamente contada por ele soa a contra-informação, mero despiste para desviar o foco de si mesmo. Desde que circulamos essa suspeita baseada nos relatos das organizações locais do Circuito e com a confirmação de sua identidade falsa, em 2004, não tivemos mais nótícia dessa pessoa. Agora reaparece com esse simulacro.

    Luis Novoa

    * * * *

    Caro Henrique
    Li estarrecida o comentário do Novoa sobre Franklin Gonçalves, na matéria sobre a espionagem da Nestlé sobre o ATTAC da Suiça e das ONGS mineiras.A matéria que vcs publicaram é real e com muita repercussão principalmente na Europa,pois quando o tema é Nestlé a mídia brasileira se omite rápidamente.O Nestlégate como está sendo chamado ou um James Bond brasileiro como o Franklin é chamado,é um escândalo sem precedentes pelo real perigo de tal espionagem e cerceamento de liberdade.Para maiores informações sobre o assunto ver nossos sites(do movimento do Circuito de águas minerais de Mg)para não só tomar conhecimento do escândalo como para respaldar que o Franklin é há dez anos parceiro na luta pela preservação do aquifero de águas minerais do Circuito.Sofremos todos os tipos de constrangimento para abandonarmos a causa,mas continuamos ativos na esperança de cercear multinacionais na privatização de águas brasileiras.

    Os sites são:www.circuitodasaguas.org
    http://www.acquasul.com

    Atenciosamente
    Marilia Noronha
    ONG Nova Cambuquira

    * * *

    In reference to the declarations made in the article

    Nestlé espiona ONGs ambientalistas, acusa entidade suíça on http://www.ecodebate.com, Attac-Switzerland would like to inform you, that your declarations in this article are based on false assumptions. Franklin Frederick has been in close contact with us regarding the Nestlé spying case. He has thus been a witness on the first session of the civil trial that took place on July 23th 2008. We would also like to stress the fact, that there is nothing untruthful about this case. Nestlé has mandated a Swiss Security Agency to spy on an Attac-group that was preparing a book on Nestlé’s worldwide activities. This spy took part for one year in the meetings of this group, using a false identity, and secretly reported back to Nestlé about the contents of the book as well as personal details about the activists. Franklin Frederick, with whom we are in contact since 2003 and who took place in some of these meetings, was also mentioned in the spy’s reports. Nestlé’s lawyers in the trial that is currently held (Attac has pressed charges) have not denied having mandated this espionage.

    This affair has been revealed by a journalist from the Swiss television in a TV show that came out on June 12th 2008.: http://www.tsr.ch/tsr/index.html?siteSect=500000#bcid=591402;vid=9209403
    Susan George, honorary president of Attac France, wrote the preface to the book Attac contre l’Empire Nestlé. In attachment, we send you the statement, she wrote us when she learnt that we had been spied while writing the book. She associated to our judicial action.

    Please refer to the Press articles attached.
    Thank you for taking this information in account.
    Best, Florence Proton, Secretary of Attac Switzerland

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