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Projeto analisa impacto das mudanças climáticas na produção de energia


O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) está participando do projeto “Mudanças Climáticas e Energias Renováveis”, financiado pela Petrobras dentro de sua Rede Temática de Mudanças Climáticas. O projeto congrega pesquisadores de várias instituições brasileiras, que estão nesta segunda-feira (4/8) reunidos no CENPES – Centro de Pesquisas da Petrobras, no Rio de Janeiro, para discutir e avaliar os resultados alcançados pelo estudo e planejar as próximas fases desta atividade de pesquisa interdisciplinar.

Além do INPE, participam a Embrapa Informações na Agropecuária, a Unicamp, a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável e a Universidade de Salvador. O projeto visa produzir uma análise em alta resolução espacial do impacto das projetadas mudanças climáticas no potencial de diversas fontes de biomassa para fins energéticos e da energia eólica no território nacional. Esta análise poderá subsidiar políticas energéticas de médio e longo prazo para o país.

A nova realidade mundial, com a crescente necessidade de mitigar as mudanças climáticas, exige mudanças importantes no consumo de energia, sendo que a bionergia e energia eólica surgem como alternativas viáveis para alteração da matriz energética.

Nos últimos anos, desenvolveu-se no Brasil a capacidade de gerar cenários de mudanças climáticas sobre a América do Sul em alta resolução espacial. Neste estudo, os cenários regionalizados para a América do Sul gerados pelo INPE com modelos climáticos regionais serão utilizados para dois cenários de emissão de gases de efeito estufa do IPCC, cenários A2, de maior emissão, e B2, de menor emissão, para o Século XXI.

No campo da bionergia e biocombustível, este estudo avalia a resposta a cenários climáticos atuais e futuros para oito culturas agrícolas com alto potencial para a produção de bioenergia e bicombustíveis e consideradas representativas para país: algodão, cana-de-açúcar, girassol, soja, mamona, dendê, amendoim e canola.

A metodologia utilizada neste estudo considera os mesmos parâmetros do zoneamento agrícola em 2007 e simula como as culturas irão responder às mudanças climáticas projetadas para o Brasil para avaliar como as áreas e os municípios serão afetados pelos efeitos térmicos e hídricos.

No caso da cana-de-açúcar, a base para a avaliação dos impactos será o zoneamento estabelecido pelo Ministério da Agricultura que leva em consideração não somente os parâmetros climáticos, mas também os de solos, relevo, destinação de áreas agrícolas para produção de alimentos versus bionergia, áreas de preservação permanente e áreas de alta biodiversidade nos diversos biomas brasileiros. Espera-se que o aumento da temperatura promova um crescimento da evapotranspiração e, conseqüentemente, um aumento na deficiência hídrica, na ausência de aumentos significativos da precipitação pluviométrica, com reflexo direto no risco climático para a agricultura. Por outro lado, com o aumento das temperaturas, ocorrerá uma redução no risco de geadas no sul, sudeste e sudoeste do país, acarretando um efeito benéfico às áreas atualmente restritas ao cultivo de plantas tropicais.

A dinâmica climática deverá causar uma migração das culturas adaptadas ao clima tropical para as áreas mais ao sul do país ou para zonas de altitudes maiores, para compensar a diferença climática. Ao mesmo tempo, haverá uma diminuição nas áreas de cultivo de plantas de clima temperado do país. Resultados preliminares indicam que um aumento da temperatura próximo a 3°C causará um possível deslocamento da cana-de-açúcar para áreas de latitudes mais altas.

No que concerne à energia eólica, em mais de 71.000 km2 do território nacional as velocidades de vento são superiores a 7 m/s à altura de 50 m acima da superfície —altura típica para os aerogeradores— tornando o Brasil um dos países com o maior potencial de geração de energia eólica do mundo. Entretanto, as mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global podem modificar as circulações atmosféricas próximas à superfície e afetar o potencial eólico. Cenários de mudanças dos ventos para o final do Século em alta resolução espacial para os cenários A2 e B2 do IPCC e modelagem matemática em alta resolução permitirão estimar como o potencial eólico será alterado e há indicações preliminares de que pode haver diminuição deste potencial.

Fonte: Assessoria de Imprensa do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

[EcoDebate, 05/08/2008]