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Pesquisa aponta para os riscos do excesso de gordura trans na alimentação de mulheres que estão amamentando


Cuidado com a gordura trans

A tese de doutorado da nutricionista Patrícia Dias de Brito, do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec) da Fiocruz, ganhou o prêmio na categoria de melhor trabalho experimental apresentado em pôster no Ganepão 2008 – III Congresso Brasileiro de Nutrição. Gordura trans foi o tema geral da pesquisa de Patrícia. O trabalho mostrou que ratos filhotes amamentados por mães que ingeriram grande quantidade de gordura trans se transformavam em animais adultos com maior percentual de gordura corporal, aumento de triglicerídeo e menor HDL (colesterol bom). A conclusão, portanto, é que as mulheres devem ficar atentas a uma alimentação saudável, especialmente enquanto estiverem amamentando. Por Isis Breves, da Agência Fiocruz de Notícias.

O aumento do consumo de alimentos com gordura trans é hoje alvo da preocupação de especialistas e consumidores. Estes, de acordo com a nova legislação em vigor, têm o direito de optar por comer ou não produtos com esta substância, cuja presença deve constar no rótulo. “A gordura trans está presente em diferentes produtos industrializados, como produtos de pastelaria, massas, biscoitos e sorvetes, entre outros. Sua principal fonte é a gordura vegetal hidrogenada”, explica a nutricionista. “Já está comprovado que uma dieta rica nesses alimentos aumenta o colesterol total e o tiglicerídeo, e diminui o HDL, popularmente conhecido como colesterol bom”.

O título da tese de Patrícia foi Dieta hiperlipídica rica em ácidos graxos trans na lactação altera a fisiologia materna e programa a composição corporal, a trigliceridemia e o perfil hormonal de ratos adultos. Segundo a autora, o experimento com ratos teve a finalidade de verificar se os filhotes amamentados por uma mãe cuja dieta era rica em gordura trans sofreriam alterações de composição corporal e perfil hormonal na idade adulta.

As ratas foram alimentadas com uma ração rica em ácidos graxos trans. Os filhotes que receberam o leite delas foram acompanhados até completarem seis meses de vida. “Observou-se que as ratas que ingeriram a ração com gordura trans, embora apresentassem menor peso corporal, exibiam maior percentual de gordura e aumento do triglicerídeo e do colesterol séricos, se comparadas às mães que tiveram uma alimentação balanceada”, afirma Patrícia. “A novidade deste estudo foi que os ratos alimentados com o leite de mães que ingeriram grande quantidade de gordura trans, mesmo seguindo, após o desmame, na vida adulta, com uma alimentação balanceada, apresentaram um percentual maior de gordura corporal, aumento de triglicerídeo e menor HDL-colesterol”, destaca a pesquisadora.

Após analisar os resultados, Patrícia concluiu que a fase da amamentação é de grande importância para a composição corporal e perfil hormonal desses filhotes na vida adulta. “Esse modelo de estudo é chamado de programação metabólica, ou seja, esses ratos foram programados durante a amamentação, quando receberam leite de mães que consumiram um percentual alto de gordura trans. É nesse período precoce da vida que ocorre o amadurecimento de funções orgânicas por meio da determinação do número de receptores celulares para hormônios e outras substâncias”, diz. “Essa mensagem, neste caso transmitida, provavelmente, pelo teor de ácidos graxos do leite, fica armazenada no animal, independentemente do que ele vai ingerir ao longo da vida. Assim, as alterações corporais provenientes do leite materno alterado, que ocorreram durante a amamentação, ficam memorizadas no organismo”.

A pesquisa, portanto, demonstra a importância de uma dieta balanceada da mãe durante a amamentação, para que o bebê venha a ter uma vida adulta saudável. Afinal, o leite proveniente de uma dieta rica em ácidos graxos trans poderá afetar futuramente a composição corporal e hormonal do indivíduo. “É importante que as mães que estão amamentando entendam que estão programando seus filhos ao longo da vida”, ressalta Patrícia. “Elas devem priorizar uma alimentação mais balanceada, com alimentos preparados em casa. E, na hora de comprar alimentos industrializados, preferir aqueles que estão com a descrição de 0% de gordura trans no rótulo”, finaliza a nutricionista, que defendeu sua tese de doutorado neste ano na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

[EcoDebate, 01/08/2008]