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Fracasso de Doha ameaça discussão climática e nuclear


O fracasso da chamada Rodada de Doha do comércio global afeta o sistema internacional de negociações a ponto de tornar remota a perspectiva de acordos a respeito de outros temas, como o aquecimento global e a proliferação nuclear.

“Se não conseguimos nem administrar o comércio, como vamos nos encontrar em posição de administrar novos desafios, como a mudança climática”, disse a comissária de Agricultura da União Européia, Mariann Fischer Boel, depois do colapso das negociações na sede da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, na terça-feira. “É um fracasso com consequências mais amplas do que as que jamais vimos.” Por Robin Pomeroy, da Agência Reuters, no UOL Notícias, 30/07/2008 – 10h35.

Até o final do ano que vem, o mundo precisa definir um tratado climático que substitua o Protocolo de Kyoto, que foi instituído em 1997 e expira em 2012. A exemplo dos acordos comerciais, os pactos climáticos precisam ser adotados por consenso –algo que se mostrou impossível entre os 153 países da OMC.

Assim, o fracasso de Genebra pode ser um mau presságio para a reunião do final de 2009 em Copenhague e para os esforços contra a proliferação nuclear, especificamente no caso do Irã, segundo analistas.

“Isso vai solapar grandemente a confiança na boa-vontade multilateral”, disse Mark Halle, do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável. “Ninguém acha que podemos conseguir um tratado climático sem superar a profunda desconfiança no mundo em desenvolvimento.”

A perspectiva para o tratado climático fica ainda mais complicada diante do fato de que a Rodada de Doha, lançada em 2001 com o objetivo declarado de ajudar os países pobres por meio do comércio, fracassou por causa das divergências entre EUA e grandes países emergentes.

O Protocolo de Kyoto só exige reduções das emissões dos gases do efeito estufa por parte dos países desenvolvidos, mas há a expectativa de que o novo tratado preveja cortes também para grandes nações em desenvolvimento.

“Será extremamente difícil (para os países em desenvolvimento) reconstruir sua confiança no sistema multilateral com relação ao desejo dos ricos de fazerem qualquer coisa”, disse Halle.

A ascensão de grandes países emergentes, como Brasil, China e Índia, desde o início da Rodada Doha, em 2001, também vai mudar a dinâmica das negociações climáticas, na opinião de Bruce Stokes, pesquisador do Fundo Marshall dos Estados Unidos na Alemanha.

“Certamente a Índia em particular será um ator-chave em Copenhague”, disse ele. “As objeções de última hora da China ao acordo de Doha salientam sua influência, que evidentemente será ainda maior.”

A Índia resiste particularmente a qualquer exigência de redução de emissões de carbono, e sua posição firme na disputa contra os EUA em Genebra sugere que Nova Délhi terá também pouca flexibilidade nas discussões climáticas.

(Reportagem adicional de Paul Taylor em Bruxelas)

REUTERS ES

[EcoDebate, 31/07/2008]