EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

Desmatamento cresceu 98% em 11 meses


Embora Deter aponte queda de 20% em junho, devastação da floresta este ano pode ser o dobro do ano anterior

O Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) registrou 870 km2 de floresta derrubada ou degradada na Amazônia em junho, segundo boletim divulgado ontem pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Isso representa uma queda de 20,6% em relação a maio e de 38% se comparado a junho de 2007. Por Herton Escobar, O Estado de S. Paulo, 30/07/2008.

Na soma dos últimos 11 meses, porém, o desmatamento aumentou 98%. Com apenas um mês faltando para fechar o calendário de monitoramento da Amazônia (que vai de 1º de agosto a 31 de julho), isso significa que a devastação da floresta este ano poderá ser o dobro do período anterior. Entre agosto de 2007 e junho de 2008, o Deter registrou 7.823 km2 de desmatamento, comparado a 3.949 km2 no período anterior (2006-2007).

O Deter é um sistema rápido, porém de baixa resolução (250 metros), que só detecta desmatamentos maiores do que 25 hectares. Os cálculos oficiais de área desmatada são produzidos pelo sistema Prodes, que tem alta resolução (20 metros), porém é mais lento (as estatísticas anuais só ficam prontas em dezembro). Com base em anos anteriores, estima-se que o aumento do Prodes seja proporcional ao aumento do Deter.

O acumulado de 12 meses do Deter (incluindo julho) deve ser divulgado no final de agosto. “Não há dúvida de que o desmatamento em 2008 será maior do que em 2007”, disse ao Estado o diretor do Inpe, Gilberto Câmara. “Quão maior vai depender do que acontecer neste mês.”

Será o primeiro aumento em quatro anos. Câmara, porém, vê com otimismo a desaceleração do desmate nos últimos dois meses. A área observada sem nuvens em junho foi maior e o desmatamento, ainda assim, foi menor . “É inegável que as medidas (do governo) tiveram impacto”, avalia.

O Estado campeão do desmatamento até agora é Mato Grosso, com 4.512 km2 (57%) de floresta devastada ou degradada nos últimos 11 meses – o equivalente a três vezes a área da cidade de São Paulo. O Pará aparece em segundo lugar, com 1.452 km2 (18%), e Rondônia em terceiro, com 694 km2 (9%).

O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), foi o pivô de uma crise política no início do ano, quando contestou os números do Inpe. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também cobrou maior precisão, o que levou o Ministério da Ciência e Tecnologia a exigir uma qualificação adicional dos dados.

Desde maio, parte das imagens do Deter é comparada a imagens do Prodes, o que permite diferenciar entre áreas de corte raso (em que a floresta foi completamente derrubada) e áreas de degradação progressiva (em que parte das árvores continua de pé, mas a floresta já foi significativamente alterada).

Dos 870 km2 de desmatamento registrados pelo Deter em junho, 67% (583 km2) foram qualificados como corte raso, 25% (217 km2) como floresta degradada e 8% (70 km2) como falsos positivos (áreas de floresta erroneamente classificadas como desmatamento). As áreas degradadas são apontadas como vulneráveis, de modo que o Ibama possa fazer uma fiscalização preventiva. O instituto recebe boletins do Deter a cada 15 dias.

DIFERENÇAS

O pesquisador Adalberto Veríssimo, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), vê um cenário diferente. Segundo ele, o desmatamento foi duas vezes maior em junho do que em maio e 9% maior no acumulado dos últimos 11 meses.

O Imazon tem um programa próprio de monitoramento, chamado Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), que analisa as mesmas imagens de satélite do Inpe, mas com uma metodologia diferente. Segundo Veríssimo, o SAD reporta apenas as áreas comprovadas como corte raso. “A degradação também é importante, mas são coisas diferentes, que devem ser apresentadas de forma diferente”, diz.

O número de corte raso do Inpe em junho foi semelhante ao do Imazon (583 km2 e 612 km2). Mas não em maio (658 km2 e 294 km2). “O Inpe confia nos seus dados. Os números estão corretos”, afirmou Câmara.

ENTENDA OS SISTEMAS

Deter: Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real, do Inpe. Faz imagens diárias, mas de baixa resolução. Usa sensores dos satélites Terra e CBERS-2B, com resolução espacial máxima de 250 metros e serve para fiscalização e monitoramento mensal

Prodes: Sistema oficial que calcula as taxas anuais de desmatamento na Amazônia. Utiliza imagens de alta resolução dos satélites CBERS (20 m) e Landsat (30 m), porém tem periodicidade menor (26 e 16 dias)

SAD: Sistema de Alerta de Desmatamento, do Imazon (uma ONG com sede em Belém). Utiliza as mesmas imagens do Deter e Prodes, mas com metodologia de análise própria, o que resulta em números diferentes do Inpe

[EcoDebate, 31/07/2008]

3 thoughts on “Desmatamento cresceu 98% em 11 meses

  • o DESMATAMENTO CRESCE DEVIDO A FALTA DE ORGANIZAÇÃO NO SETOR PÚBLICO, A DEMORA NA ANÁLISE DE PROJETOS DE DESMATAMENTOS, PLANOS DE MANEJO, ESTÁ DEIXANDO MUITA GENTE SEM CAPITAL, E A CLANDESTINIDADE VEM A TONA, E GERA ESSES PREJUÍZOS AO MEIO AMBIENTE E A PRÓPRIA SOCIEDADE.

    fALTA DE CAPACITAÇÃO DOS ENVOLVIDOS E APLICAÇÃO DE NORMATIVAS MAIS VOLTADAS PARA ÁREAS ALTERADAS.

  • Fábio Silva Gonçalves

    Este problema do desmatamento é muito grave! O que não falta são leis escritas e concretizadas no papel, mas a sua aplicabilidade não existe, a fiscalização é insuficiente.

  • Fiquei surpresa ao saber que mato grosso teve 4.512 km2 (57%) de floresta devastada… isso é um absurdo. O ser humano está se tornando cada vez mais um ser burro!! pois nem os próprios animais fariam isso com seu habitat. E ainda as autoridades demoram, um século para poder agir.. quem sabe só agira depois que muitos tiverem já morrido!!!! (pois é assim que acontece hoje!!)

Fechado para comentários.