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Notícia

Crise alimentar pressiona áreas de alagamento, alertam especialistas


Áreas úmidas contêm grandes estoques de carbono

A crise dos alimentos e o aumento da demanda por biocombustíveis estão entre as maiores ameaças à preservação das áreas úmidas, alerta a declaração final da 8ª Conferência Internacional de Áreas Úmidas (Intecol), segundo um esboço adiantado à imprensa.

De acordo com a declaração, chamada Carta de Cuiabá, a busca de novas terras para a agricultura e para produzir biocombustíveis e projetos de hidrelétricas pressionam cada vez mais essas áreas, em geral pouco conhecidas e protegidas. Da BBC Brasil, 25 de julho, 2008 – 18h12 GMT (15h12 Brasília).

O documento diz que hidrelétricas e outros projetos de grande porte não deveriam ser realizados nessas regiões sem uma análise profunda dos seus impactos sócio-ambientais.

“Decisões inteligentes de política social exigem análises de custo-benefício consistentes que incluam parâmetros ambientais e sociais, a fim de adaptar esses megaprojetos a parâmetros econômicos, ecológicos e sociais aceitáveis antes de iniciar a construção porque a mitigação de muitos efeitos colaterais negativos não é possível”, diz a declaração.

“Esponjas”

Resultado de cinco dias de discussões entre 600 cientistas de 28 países, a Carta de Cuiabá faz um apelo a governos e organizações e internacionais para resistir a essas pressões e tomar as medidas necessárias para preservar essas regiões.

Por áreas úmidas, os cientistas entendem basicamente quaisquer áreas que tenham interface entre água doce ou salgada e terreno seco, como é o caso de pântanos, córregos, mangues e lagoas.

Os pesquisadores citam exemplos de países como Alemanha, Estados Unidos e China, que destruíram suas áreas úmidas e agora gastam fortunas tentando recuperá-las.

De acordo com cálculos apresentados durante o evento pelo pesquisador Wolfgang Junk, do Instituto Max Plank de Liminologia, na Alemanha, pelo menos 20% da América do Sul é coberta por áreas úmidas, e no Brasil a proporção certamente é maior do que isso.

Essas áreas, destacaram os cientistas durante o evento, além de conterem uma biodiversidade própria, guardam importantes estoques de água e, por funcionarem como “esponjas”, retêm uma quantidade de carbono que, se liberada, poderia dobrar os gases de efeito estufa que já existem na atmosfera hoje.

“É hora de reconhecer o incalculável valor das áreas úmidas para todas as espécies – incluindo a nossa”, afirmou Paulo Teixeira de Sousa Jr., secretário-executivo do Centro de Pesquisas do Pantanal, entidade que organizou o evento.

Inventário

Wolfgang Junk diz que o uso “inteligente” das áreas já está previsto Convenção de Ramsar (de 1971 e ratificada por 158 países, incluindo o Brasil) e que não implica proteção total para todas as áreas úmidas.

“Há uma grande diversidade de áreas úmidas”, disse. “Mas tem certas áreas onde é melhor não mexer porque os benefícios que tiramos a curto prazo vão ser superados pelos custos (econômicos, ambientais e sociais) que vamos criar.”

Foi consenso entre os especialistas e destaque na declaração a necessidade de fazer um inventário das áreas úmidas e a partir disso formular políticas públicas específicas.

Representantes do governo do Mato Grosso, da Agência Nacional de Águas (ANA), e do Ministério da Ciência e Tecnologia participaram de sessões da conferência.

Os pesquisadores disseram que as suas recomendações de melhora na legislação foram bem recebidas pelas autoridades que estiveram no evento.

O evento foi organizado pelo Centro de Pesquisas do Pantanal, em parceria com a Associação Internacional de Ecologia e a Universidade Federal de Mato Grosso.

[EcoDebate, 26/07/2008]