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Brasil avança no valorizado mercado de óleo de palma. Ambientalistas temem expansão na Amazônia


Impulsionado pela escalada dos preços internacionais, o mercado brasileiro de óleo de palma assiste a um fortalecimento puxado por novos investimentos na expansão da produção e em unidades de beneficiamento. Com uma oferta atual pouco superior a 110 mil toneladas anuais, o país é apenas o 15º nesse ranking – historicamente dominado por Malásia e Indonésia -, mas sua área potencial para o cultivo da palma é a maior do mundo. Por Patrick Cruz, de São Paulo, do Valor Econômico, 23/07/2008.

Em parceria com a Felda, agência do governo da Malásia, a Braspalma Agroindustrial vai criar em Tefé (AM), a 525 quilômetros de Manaus, um projeto de plantio e beneficiamento de palma. O investimento informado ao governo amazonense será de R$ 200 milhões. Ao Valor, o presidente da Braspalma, Iderlon Azevedo, informou, por e-mail, que esse valor é aproximado. “Isso dependerá da nossa eficiência”, afirmou.

No momento, a empresa trabalha nos estudos de viabilidade técnica e econômica do projeto requeridos pelo governo do Estado. Os estudos começaram em maio. Segundo a programação inicial da Braspalma, o plantio começará em janeiro de 2009. Até meados de novembro, informou o executivo, o escritório da empresa deverá estar concluído.

A área de plantio será de 20 mil hectares e deverá beneficiar três mil produtores. O desenho da parceria prevê a doação do terreno pelo governo do Amazonas, financiamento pelo Banco da Amazônica (Basa) e assistência técnica da Braspalma.

A idéia da Felda é ter uma área total de plantio de 100 mil hectares, mas esse terreno adicional não será desenvolvido com a Braspalma, segundo Azevedo. “A Malásia estuda parceria com outras empresas além da Braspalma, em diversos países”, afirmou.

O projeto em Tefé ressuscitará uma tentativa de transformar a cidade em pólo de produção de palma. Em 1984 foi criada a Empresa Amazonense de Dendê (Emade), controlada pelo governo estadual, mas o projeto, emperrado, acabou abandonado em 1993. A área e a estrutura física que serão ocupadas pelo novo projeto da Braspalma são os mesmos da Emade.

Ainda há poucas informações sobre a estrutura da parceria entre a Felda e a Braspalma Agroindustrial ou mesmo sobre a composição da empresa brasileira, que teria sido criada por um grupo da Malásia, liderado pela própria Felda. Iderlon Azevedo já atuou como representante do Conselho de Promoção do Óleo de Palma da Malásia no Brasil.

A Agropalma, empresa controlada pelo Banco Alfa e maior produtora de óleo de palma do país, prepara para o fim de agosto a inauguração de sua quarta unidade de processamento, localizada em Tailândia (PA). O investimento na fábrica – que, com capacidade para 60 toneladas de cachos de frutos frescos por hora, será a maior da companhia – é de R$ 70 milhões.

A empresa faturou R$ 395 milhões em 2007 e projeta para este ano receita de R$ 570 milhões. O crescimento estará fortemente ligado à valorização da palma no mercado externo, segundo Marcello Brito, diretor comercial da companhia. O aumento também deverá ocorrer com a melhora da produtividade – em 2007, a produtividade foi afetada por uma seca registrada em 2005. Nessa cultura, os efeitos das secas são sentidos dois anos depois.

A valorização global da palma tem ocorrido principalmente em virtude de seu crescente uso na fabricação de biodiesel. Nos últimos dois anos, o preço da tonelada do óleo subiu, em dólares, mas de 135% na bolsa da Malásia.

No Brasil, no entanto, os projetos ligados ao produtos têm como destino primordial o abastecimento da indústria de alimentos. “Fazer biodiesel no Brasil com óleo de palma, nesse nível de preço, é inviável”, afirma Brito. Segundo ele, o preço do biodiesel, de cerca de R$ 2.600 por tonelada, ainda é inferior aos R$ 3 mil do óleo bruto em São Paulo, já incluídos 12% de ICMS. O óleo refinado, também em São Paulo e com ICMS incluído, é de R$ 3.700.

Na Agropalma, apenas 2% do faturamento vem da venda de biodiesel – na companhia, a produção do combustível, concentrada na unidade localizada em Belém, é feita a partir da oleína, um subproduto do óleo refinado. Na Braspalma, com seu projeto amazonense, a produção de biodiesel também não está nos planos imediatos. “Biodiesel, somente no futuro”, informou o presidente Iderlon Azevedo.

Ambientalistas temem expansão na Amazônia

A retomada do beneficiamento de óleo de palma em Tefé, com a chegada da agência de desenvolvimento da Malásia, levanta algumas preocupações entre ambientalistas. Tefé está cravada na floresta amazônica. É comumente lembrada pelo fato de abrigar a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, exemplo de economia sustentável na região. Por Bettina Barros, de São Paulo, para o Valor Econômico, 23/07/2008.

Oficialmente, o governo do Amazonas afirma que não haverá mais desmatamentos – esses já foram feitos nos anos 80, com a primeira tentativa de estabelecimento do setor, a Empresa Amazonense de Dendê (Emade). “Não ocorrerá desmatamentos porque a área onde a Braspalma e os malaios entrará já está desmatada. Além disso, o governo tem ferramentas de controle e está desenvolvendo o zoneamento da região”, diz Eron Bezerra, secretário de Produção Rural do Amazonas.

Por via das dúvidas, o Greenpeace em Manaus diz que Tefé entrará para a lista de prioridades do grupo ambientalista. Outra organização não-governamental, o Repórter Brasil, que tem se dedicado aos biocombustíveis, está a caminho do município para acompanhar as audiências públicas realizadas com a comunidade. Uma delas já ocorreu. Uma segunda reunião está prevista para breve, mas sem data definida.

Além da localização geográfica estratégica do ponto de vista ambiental, o beneficiamento do óleo é enxergado com suspeita devido a participação do governo malaio. Principal produtor do mundo de óleo de palma, a Malásia está longe de ser um modelo. Recentemente, países europeus – os maiores consumidores – aventaram um boicote ao produto do país e da vizinha Indonésia. Acusam ambos de desmatar florestas para plantar a palmácea.

Em 2005, a ONG Amigos da Terra Internacional, presente em 70 países, apresentou um relatório-denúncia: entre 1985 e 2000 as plantações de palmas na Malásia foram responsáveis por 87% dos desmatamentos de florestas nativas remanescentes. No mesmo período, 6 milhões de hectares de floresta tropical foram convertidas em Bornéo e Sumatra.

Com limitações de terras, a Malásia busca estender suas operações para outros continentes. A Felda, a agência estatal de desenvolvimento, já tem negócios no Sri Lanka, Indonésia e, agora, Brasil. Flerta também com a África (Nigéria é produtor). Para os ambientalistas a questão que não cala é: a Malásia “exportará” seu modus operandi para a Amazônia?

[EcoDebate, 24/07/2008]

3 thoughts on “Brasil avança no valorizado mercado de óleo de palma. Ambientalistas temem expansão na Amazônia

  • Missao Tanizaki

    Os nossos Governantes buscam e aprovam investimentos de outros países porque tem seus motivos …

    Na Amazônia é comum alegarem que utilizarão apenas as Áreas Desmatadas ou Áreas Degradadas.

    Os Ambientalistas preocupam com os avanços dos Desmatamentos e ampliação das Áreas Degradadas.

    Para evitar expansão do desmatamento e mais degradação de novas áreas, o Congresso Nacional poderia incluir uma emenda na Legislação Vigente, onde passariam a exigir para implantação de projetos como o citado na matéria: os interessados devem aplicar equivalente a 1/3 (ou outro valor) do necessário para implementar o projeto de Recuperação das Áreas desmatadas ou das Áreas Degradadas, com Espécies Nativas da Região, com o devido acompanhamento e reaplicação para Áreas que não conseguirem avanços previstos, podendo dar ao interessado o direito de explorar a área recuperada após sua completa recuperação.

    O Brasil ganha com isso em dois sentido: 1) o Brasil passa a efetivar a Recuperação / Preservação do Meio Ambiente e Biodiversidade que o Mundo vem cobrando do Governo Brasileiro. 2) o Brasil recebe investimentos para Produção de Biomassa SUSTENTÁVEL, gerando muitos empregos dignos.
    .
    MISSAO TANIZAKI
    Fiscal Federal Agropecuário
    Bacharel em Química
    missao.tanizaki@agricultura.gov.br
    Esplanada dos Ministérios, Bloco “D”, Sala 346-B, Brasíla/DF

    TUDO POR UM BRASIL / MUNDO MELHOR

  • José Da Silva

    Vemos com o comentário acima que o amigo nunca esteve na Amazônia, e se esteve nunca viu as pessoas morando em casebres a beira do Rio,

    Um projeto como este e mais do que Ambientalista, vou explicar ao leigo colega como as coisas funcionam na Amazônia, o cabloco que mora em uma área invadida seja do Município, estado ou união, tem que comer e para comer só há duas opções, ou se planta pra comer (Mandioca,Banana) ou se vende madeira, então para que o cabloco possa comer ele tem que cortar a floresta seja para vender madeira ou para plantar, nos dois casos ele corta a floresta de forma itinerante ou seja, corta aqui e vende a madeira, ele não volta mais naquela área ele vai andando e cortando sem parar, e jamais volta na área anterior pois leva 100 anos pra se recuperar e ele já morreu quando isso aconteceu , no caso do plantio ele planta sem técnica e sem trato cultural, dai ele esgota a terra e abandona.

    Vamos ao Dendê acima criticado pelo nosso colega leigo.

    Nesta cultura perene vc fica por 30 anos com as plantas no mesmo lugar, gerando renda e fixação do homem no campo, vc faz com que área degradada volte a seqüestrar carbono e emitir oxigênio fazendo a função ambiental da floresta que ali estava, depois tem os aspectos sociais , e para terminar vc tem a produção de alimentos proveniente do oleo.

    E cumprindo a função ambiental vc tem um cabloco que virou agricultor ou empregado e não mais corta a floresta, e alem disso vc ainda tem que ter 80% de reserva legal intacta, acho que 20% para o homem e ainda seqüestrando carbono e emitindo oxigênio, gerando renda e impedindo o desmatamento e 80% para a natureza e um grande negocio.

    Atenciosamente
    Cabloco da Amazônia que também quer viver com dignidade.

  • Stefan F. Keppler

    Somos todos leigos no assunto de transformação da mata em coisa que presta. Sabemos que a pastagem ou a soja não trazem bons resultados, pois, deixam extensas áreas devastadas depois do cansaço da terra. Se a cultura de Dendê, na Amazônia Central trará mais benefícios não sabemos e, principalmente como o ciclo hídrico se comportará. Aquele ciclo fundamental para a Amazônia e imprescindível para o mundo em relação à Amazônia. Portanto, entendo muito bem as preocupações dos pejorativamente, chamados Ambientalistas.

    A principal preocupação de um ambientalista é com o bem cmum e com a continuação da vida neste planeta. E, todos nós conhecemos, de que forma cruel, aquela reivindicação do direito ao desenvolvimento a qualquer custo, acaba com as condições ambientais favoráveis para a manutenção da vida.

    Para a implantação de um projeto restrito, no sentido da preservação de 80%, precisamos leis, fiscalização e segurança jurídica. Precisamos mulheres e homens honestos, que não apenas agem por interesses próprios. Os valores econômicos não devem ser calculados, sem considerar os valores dos serviços ambientais da mata. Quanto vale a recuperação de área degradada? Será que o regime de chuvas locais pode ser restaurado? Será … ? – têm muitas incógnitas!

    Por outro lado, encontramos aí uma possibilidade de Desenvolvimento Sustentável, diferente do que em Mamirauá (será que é sustentável?). Através da produção de um recurso renovável, menos perecível que grão ou peixe, com elevado valor no mercado mundial e potencial fonte de energia, talvez quebrássemos paradigmas!

    Na verdade, a expectativa de, junto à produção de biomassa e alimento, compostagem e reciclagem de nutrientes, se consiga elaborar um sistema verdadeiramente sustentável é bastante tentador. Quanto de área de cultivo de Dendê sustentaria uma pessoa (para satisfazer as suas necessidades)? Nestes cálculos sempre dependeremos do mercado mundial, mas, quem sabe, chegará o dia, em que o Biodiesel do Dendê gerará o frio, para preservar o peixe de Mamirauá.

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