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Consciência ecológica em baixa no consumo, mostra pesquisa da PUC-Rio

A preservação do meio ambiente está na moda. Mas o consumo ecológico ainda não conquistou cariocas com poder aquisitivo e nível de instrução altos. Estudo da Escola de Negócios da PUC-Rio mostra que, na hora de decidir o que comprar, esse consumidor continua privilegiando critérios como preço e marca. Já o fato de o produto ser poluente ou não fica em último plano. A reportagem é de Mariana Schreiber e publicada pelo jornal O Globo, 20-07-2008.

A pesquisa — que começou a ser feita há dez anos e entrevistou mais de 600 pessoas, a maioria alunos da universidade — realizou diversas simulações de compra, para identificar o que é considerado mais importante na hora de escolher um produto. Num levantamento de 2008 sobre o consumo de cadernos, por exemplo, 39,2% disseram que o preço é o item que mais pesa. Outros 39,2% apontaram a marca, e 18,69% afirmaram que escolhem o caderno pela capa. Já o uso de papel reciclado na fabricação do produto foi identificado como primeiro critério de escolha por apenas 2,9% dos alunos.

Maioria não crê na propaganda das empresas

O professor André Lacombe, responsável pela pesquisa na PUC-Rio, observa que a maioria dos entrevistados concorda que problemas ambientais são de responsabilidade conjunta de governo, empresas e consumidores.

Mas, embora reconheçam o peso de sua participação na preservação do meio ambiente, não compram de maneira responsável. Um dos obstáculos apontados para a mudança de atitude do consumidor é a descrença sobre o impacto ambiental dos produtos: 60% de 175 alunos entrevistados em 2005 afirmaram nunca acreditar nas informações divulgadas pelas empresas.

— O gasto com publicidade é alto, mas isso não deixa claro se o produto é poluente ou não — afirma a estudante Cissa Coutinho, que consome produtos orgânicos e reciclados.

Lacombe destaca que, quando um produto tem impacto mais direto na saúde, o atributo ecológico ganha peso por questões pessoais. Pesquisa sobre consumo de detergentes e inseticidas mostrou que, embora preço e marca fossem os principais critérios de decisão, 25% optavam em primeiro lugar pelo produto biodegradável, menos agressivo à pele e à respiração.

— Quem come alimentos orgânicos geralmente pensa em sua própria saúde. A preocupação com o meio ambiente vem por último — concorda a gerente da Associação de Agricultura Orgânica, Araci Kamiyama. Há casos em que o aspecto ecológico é malvisto pelo consumidor.

Lacombe detectou resistência ao uso de pneus remodelados, fabricados a partir de pneus velhos. Nesse caso, 70% disseram comprar de acordo com marca ou preço, e 20% preferem o modelo ecológico.

— Tenho medo de o remodelado estourar. Só escolho o produto ecológico se for tão bom quanto o não-ecológico — afirma o estudante Erick Jordan.

Nos dez anos da pesquisa, Lacombe observou aumento do interesse dos alunos na questão ambiental. Mas as mudanças de hábito são mais lentas.

Mercado ecológico virou grife, diz pesquisadora

O preço maior de produtos ecológicos funciona como obstáculo para a expansão do consumo consciente. Mas nem sempre os valores mais salgados são conseqüência do custo de produção maior. Segundo a pesquisadora da Embrapa Maria Cristina Neves, o mercado ecológico virou grife. Com isso, as margens de lucro aplicadas pelos supermercados sobre alimentos orgânicos costumam ser maiores que as de outros produtos.

— O mesmo quilo de tomate vendido por R$ 4 na Feira de Produtos Orgânicos de São Paulo é comercializado a R$ 13 numa grande rede de supermercado da cidade — alerta Araci.

(www.ecodebate.com.br) entrevista publicada pelo IHU On-line, 20/07/2008 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]