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Notícia

Proteção a urso polar, ameaçado por aquecimento, causa polêmica

Medida inédita opõe ambientalista, indústria e povos tradicionais nos EUA. Os Estados Unidos declararam na semana passada que o urso polar é um animal ameaçado de extinção devido à redução do gelo ártico pelo aquecimento global, o primeiro do tipo. Mas a decisão tem causado controvérsia entre moradores e trabalhadores do Ártico. Do The Guardian, Barrow (Alasca), publicado pelo O Estado de S.Paulo, 21/05/2008.

Previsões da Agência de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos indicam que dois terços dos ursos podem desaparecer até 2050. Opositores da decisão dizem que a população dos animais hoje é grande, cerca de 25 mil indivíduos – uma recuperação frente aos 5 mil contabilizados no início da década de 1970.

Grupos ambientalistas dizem que o trabalho apenas começou. “A decisão é um divisor de águas porque forçou o presidente (americano, George W.) Bush a reconhecer os brutais impactos do aquecimento global”, disse Kassie Siegel, diretora do programa de clima do Centro de Diversidade Biológica. “Continuaremos a lutar para salvar o urso polar.”

Outras organizações, como o Greenpeace, afirmam que a decisão em nada influenciará o debate para controlar a emissão de gases do efeito estufa, que levam ao aquecimento.

Já os trabalhadores das companhias de petróleo BP, Exxon, Shell e Conoco, que operam no Círculo Ártico, temem por seus empregos. “Temos agora uma espécie ameaçada, mas saudável em tamanho e população”, diz Marilyn Crockett, diretora-executiva da Associação de Petróleo e Gás do Alasca, que representa 17 empresas. “O risco real é de litígio. Processos serão conduzidos contra operações individuais e permissões, e podem ter um impacto significativo nos negócios aqui.”

O operário Brian Fisher, que trabalha no setor de construção no inverno ártico e em consertos de dutos de petróleo no verão, está preocupado. “Não tenho nada contra o urso polar, mas ele pode fechar tudo.”

CAÇA TRADICIONAL

Outro grupo insatisfeito com a decisão é o de comunidades tradicionais da região. Muitos dos 7.500 moradores que vivem na costa do Alasca vêem a medida como uma interferência desnecessária de estrangeiros.

“Essa decisão não vai criar mais gelo, só vai afetar nosso povo de forma desproporcional e não vai ajudar o urso polar”, diz Richard Glenn, um caçador de subsistência e cientista que pesquisa o hábitat. “Ela transforma nossas vilas costeiras em hábitats críticos, o que significa que precisaremos da opinião de um biólogo sempre que quisermos construir uma área de lazer, um cemitério, uma pista de pouso, um acampamento ou expandir qualquer uma de nossas vilas para melhorar a nossa qualidade de vida.”

A Vila de Barrow, cuja temperatura média no inverno é de -25°C, é o centro do debate sobre a conservação da espécie. A vida ali depende da caça, duas vezes por ano, de baleias. Mas, ocasionalmente, os caçadores se deparam com um urso. Haverá cotas para esse tipo de atividade concedidas às 15 vilas, mas elas serão em número muito limitado.

A quantidade de ursos caçados tem reduzido, mesmo sem normas, de uma média de 100 para 50. “Estamos perdendo gelo; muitos caçadores antigos estão morrendo; e há outros materiais hoje para roupas de frio além de pele de urso. E os jovens não gostam de comer a carne”, diz Charlie Johnson, que representa as comunidades no debate ambiental.