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Sistemas Agroflorestais (SAFs): Pesquisa da Embrapa ajuda a criar linha de crédito para recuperar áreas degradadas na Amazônia

Os resultados de uma pesquisa desenvolvida pela Embrapa Roraima (Boa Vista-RR), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vão servir para orientar e subsidiar políticas públicas para recuperação de áreas degradadas e desflorestadas na Amazônia, utilizando modelos de Sistemas Agroflorestais (SAFs), sem o uso do fogo.

Sistemas agroflorestais são cultivos que combinam o plantio de espécies de ciclo curto – grãos e hortaliças, por exemplo – com culturas perenes, como frutíferas e espécies florestais, permitindo obter produtos e usos diversificados na mesma área.

As informações sobre os indicadores financeiros dos SAFs, que servirão de referência para a elaboração da linha de crédito, estão contidas na tese de doutorado do pesquisador da Embrapa Roraima, Marcelo Francia Arco-Verde, sobre “Sustentabilidade Biofísica e Socioeconômica de Sistemas Agroflorestais na Amazônia Brasileira”. Tais resultados serão apresentados no dia 13 de maio, em Belém (PA), durante a “Oficina para calibração de dados financeiros de SAFs para a Amazônia”, e para a presidência do Banco do Brasil, em Curitiba (PR), no dia 19 de maio, com a finalidade de subsidiarem a abertura de linhas de crédito para financiar a recuperação de áreas desflorestadas na Amazônia com a implantação modelos agroflorestais que diversificam a produção da agricultura familiar e conciliam a agricultura com a floresta.

Nos sistemas estudados, em área experimental e em área de produtores, foram cultivados no primeiro ano arroz, milho, soja e mandioca e a partir do segundo ano, banana, cupuaçu, pupunha, espécies madeiráveis, além de árvores para melhorar a fertilidade do solo, como o ingazeiro e a gliricídia.

O pesquisador Marcelo Francia Arco-Verde, doutor em Ciências Florestais, mostrou em sua tese que os sistemas agroflorestais, quando são implantados e manejados corretamente, oferecem sustentabilidade sócio-econômica e ambiental, proporcionando produção de culturas perenes e anuais por um longo período, além de contribuir para evitar as queimadas e o desflorestamento na Região Amazônica.

A tese foi defendida na Universidade Federal do Paraná, orientada pelo professor Dr. Ivan Crespo Silva. Foram analisados o crescimento das plantas, a produtividade, a variação da fertilidade dos solos, a produção de biomassa e calculados os indicadores financeiros, como a taxa interna de retorno, relação benefício custo, valor presente líquido e tempo de retorno do investimento, para cada cultivo, com projeção dos dados econômicos para o período de 20 anos. Com base nisso, foram elaborados modelos de sistemas agroflorestais otimizados.

Os resultados da pesquisa mostram que além de viáveis financeiramente e rentáveis, os sistemas agroflorestais dão condições aos agricultores para permanecer cultivando a mesma área por mais tempo, gerando serviços ambientais. Essa é uma das características da sustentabilidade dos Sistemas Agroflorestais que os diferenciam da agricultura tradicional praticada na Amazônia, que leva ao rápido esgotamento dos nutrientes do solo.

O pesquisador explica que um agricultor que planta cultivos individuais usando derruba e queima consegue produzir por no máximo três anos, enquanto nos sistemas agroflorestais, em que não se utiliza o fogo para o preparo da área e se diversifica a produção, obtém-se rendimentos por mais de 20 anos.

A pesquisa envolveu a participação de agricultores familiares durante a implantação e acompanhamento dos sistemas agroflorestais. Foi feita em campo experimental e na propriedade de agricultores familiares, adaptando-se às dificuldades que eles enfrentam. Com o trabalho, foi iniciada uma nova abordagem junto aos produtores sobre a visão e uso da propriedade, considerando áreas de proteção ambiental e reserva legal. E, na pesquisa, os agricultores foram envolvidos acompanhando cada fase do que estava sendo feito e interagindo com diversos profissionais da área de solos, fruticultura, manejo florestal e controle de pragas.

Os sistemas agroflorestais, em área de produtor, foram implantados na área rural de Roraima, no município de Mucajaí, região do Apiaú, uma área situada numa região onde predomina o uso do fogo na agricultura para cultivos itinerantes que depois são substituídos por pastagens. Porém, onde foram implantados os sistemas agroflorestais, no projeto em parceria com a Embrapa Roraima, os agricultores ligados a Associação de Proteção Ambiental do Apiaú (APAA) adotaram essa forma alternativa de trabalhar a terra e estão há dez anos sem utilizar o fogo no preparo da área. Um exemplo concreto de que é possível estabelecer formas de agricultura familiar mais sustentáveis na Amazônia.

Mais informações: Embrapa Roraima
Jornalista: Síglia Regina – DRT/AM 066
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