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Brasil não pode descartar riscos futuros da produção de biocombustíveis, diz especialista


Elza Fiúza/ABr
Brasília – O representante da ONG Fase, Jean-Pierre Leroy, fala durante a 3ª Conferência Nacional de Meio Ambiente

O risco de impactos econômicos e sociais da produção de biocombustíveis deve ser considerado pelo governo brasileiro, apesar de a atual cultura de matérias primas para o etanol e biodiesel ainda não competir com a produção de alimentos. O alerta é do filósofo e ambientalista Jean-Pierre Leroy, da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase). Por Luana Lourenço, da Agência Brasil.

“Há um risco futuro, porque o agronegócio não se pauta pelas necessidades de consumo, se pauta pela oportunidade de negócios e de lucro”, disse ele, em entrevista à Agência Brasil durante a 3ª Conferência Nacional do Meio Ambiente.

Segundo Leroy, se a União Européia concretizar a expectativa de, até 2020, chegar a 10% de mistura de combustíveis alternativos aos carburantes fósseis, os países produtores de etanol – como o Brasil – “cairão na tentação” de aumentar a produção de agrocombustíveis em detrimento de culturas alimentares.

As Nações Unidas chegaram a sugerir à União Européia uma reavaliação de tais planos para conter possíveis pressões inflacionárias. Entretanto, o deputado Mendes Thame (PSDB-SP), que se reuniu com membros da Comissão de Energia do Parlamento Europeu em Bruxelas nesta semana, considera a hipótese pouco provável. “Não acredito que a Europa vá rever esses planos. Corremos o risco de eles estabelecerem uma certificação muito rígida para importação dos biocombustíveis – isso sim nos preocupa.”

O deputado disse que o bloco europeu estuda, por exemplo, exigir que cada empresa produtora de etanol faça rastreamento de toda a produção. “O que é um processo muito caro, porque esse monitoramento tem que ser feito por organismos internacionais”, afirmou. “Defendemos muito o etanol brasileiro para os representantes europeus. É muito diferente do etanol de milho. A cana-de-açúcar não pode ser responsabilizada pela competição com alimentos.”

Jean-Pierre Leroy ressaltou que, no caso brasileiro, a questão do impacto dos biocombustíveis vai além do etanol e precisa levar em conta os riscos da produção de biodiesel. “O programa do biodiesel incentiva o pequeno produtor a produzir mamona, por exemplo, mas, com o tempo, os subsídios vão diminuindo e, para continuar plantado mamona, há o risco de que o pessoal que mantinha o feijão e outras culturas alimentares deixe isso de lado e passe a produzir só a mamona.”

Segundo Leroy, o equilíbrio para produção sustentável dos agrocombustíveis “é uma discussão sem respostas fáceis”, que ainda impõe desafios complexos para governos e sociedade. “Quem tenta responder como o nosso presidente Luiz Inácio Lula da Silva, às vezes um pouco abruptamente, está se arriscando, porque a questão é bem mais complicada”, avaliou.